Tratamentos estéticos na odontologia são bastante procurados. Pesquisas mostram que mais de 70% da população brasileira deseja fazer clareamento dental. Contudo, uma parcela considerável da população têm pré disposição à sensibilidade dentinária e o sintoma aumenta consideravelmente após o procedimento. O aumento da sensibilidade se deve aos géis usados comercialmente nos consultórios dentários, que possuem alta concentração de peróxido hidrogênio (PH 35%), que é o ácido que pode chegar à polpa do dente.
Estudo conduzido pelo cirurgião dentista Iago César Ribeiro Teles Matos, da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp, desenvolveu gel com baixa concentração de peróxido de hidrogênio (PH 6%), com a mesma eficácia do gel de alta concentração e não promove efeitos adversos à estrutura do esmalte dental. A dissertação de mestrado teve orientação da professora Vanessa Cavalli Gobbo, da área de Dentistica.
O objetivo desse estudo foi desenvolver géis clareadores experimentais contendo nanopartículas de
pentóxido de nióbio associados ao dióxido de titânio e avaliar a estabilidade química, potencial clareador e efeitos no esmalte dental. Essas partículas têm características fotocatalíticas/fotocatalisadoras.
Artigos publicados anteriormente pela professora Gobbo, já haviam mostrado que o dióxido de titânio possui propriedade fotocatalítica. “Quando incidimos luz violeta é ativado e acelera esse processo de degradação do peróxido de hidrogênio. Significa que ele acelera a liberação do ácido que promove o clareamento. A partícula de dióxido de titânio se mostrou muito promissora. Com a luz, o gel PH 6% tem a mesma eficácia do gel PH 35%. Conseguimos diminuir a concentração de peróxido, que é o principal fator que pode causar a sensibilidade. Vimos ainda que o pentóxido de nióbio associada a nióbio de titânio podem atuar juntas.
Metodologia – o pentóxido de nióbio foi associado ao dióxido de titânio e usado em géis clareadores. Os testes foram desenvolvidos em três grupos. O primeiro continha pentóxido de nióbio associado ao dióxido de titânio. No segundo grupo foi utilizado apenas o pentóxido nióbio e, por último, um grupo com dióxido de titânio. Os grupos foram comparados e avaliados a eficácia. Foram realizados testes in vitro com dentes bovinos, os quais foram cortados e extraídas amostras proporcionais a 6 milímetros. Essas amostras foram misturadas com gel e colocadas sobre o esmalte desses dentes bovinos. Foram realizadas três seções de clareamento num intervalo de uma semana. Também foi realizado um grupo, no qual foi utilizado o led, a luz violeta, que promove a ativação dessas partículas, e um grupo que não utilizou a luz.
Segundo Matos, teve uma época em que houve um aumento considerável do clareamento e surgiu a necessidade da luz violeta para melhorar a eficácia do procedimento. Estudos mostraram que a luz violeta por si só tem a capacidade de promover alteração de cor. Contudo, a alteração é mínima, remove apenas os pigmentos superficiais. Como exemplo, ele citou o seguinte caso: “quando tomamos café há pigmentos que ficam no nosso dente, mas se fizer uma escovação, após 30 minutos, é possível removê-los. A luz não remove o pigmento mais interno”, explicou.
Diante disto, foram realizadas duras críticas alegando que a luz pode causar alteração no dente, que não traz uma eficácia clareadora muito eficaz. As pesquisas trazem que a luz violeta pode causar um aumento de temperatura no dente e proporcionar danos à poupa. Quando há um aumento de temperatura do dente, acima de 55 graus, pode causar uma inflamação pulpar, podendo ser considerada irreversível. Acreditava-se ainda, que o aumento da temperatura do dente, promovido pela luz violeta, associado com o ácido de peróxido de hidrogênio, poderia causar sensibilidade pós-operatória e danos irreversíveis.
O presente estudo mostrou que a luz não é o vilão e, sim, o principal fator que faz com que as partículas fiquem ativadas, aceleram o processo de clareamento e melhora a eficácia. Os grupos que foram incididos com luz violeta tiveram um resultado melhor do clareamento comparado aos grupos que não receberam a luz. “Se utilizar a luz com géis clareadores que sejam pensados, por exemplo, com peróxido de hidrogênio de baixa concentração pode fazer com que ele seja um coadjuvante interessante para que o clareamento seja mais eficaz. A pesquisa mostrou que essas partículas ajudam no clareamento. O nióbio tem esse poder e o titânio também. Eles atuam bem juntos, mas não melhora a ação. Próximo passo, no doutorado, estamos pensamos em isolar os dois em um só. Esse processo é chamado de codopagem. As duas partículas são transformadas em uma só”, conta.
“Temos como objetivo futuro diminuir ainda mais essa concentração de hidrogênio. Quem sabe, até tirar o peróxido de hidrogênio e trabalhar com materiais que não trazem danos à polpa ou ao dente.
Espero que essa nova formulação não demore para chegar ao mercado, pois são materiais que tem apelo estético que muita gente deseja fazer”, conclui Matos.