Suicídio – Psicólogo defende atuação profissional na prevenção

Sérgio chamou a atenção para a carta aberta divulgada pela Associação Brasileira dos Sobreviventes Enlutados por Suicídio. CRÉDITO: Rubens Cardia

No mês do Setembro Amarelo, Escola do Legislativo, da Câmara, promoveu palestra com o tema “Acolher é cuidar”

 

 

Em palestra promovida pela Escola do Legislativo, da Câmara Municipal de Piracicaba, o psicólogo Sérgio de Oliveira Santos fez um alerta para o crescente número de suicídios registrados no Brasil mesmo com a realização de campanhas como o Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção e à conscientização sobre o tema.

No evento desta segunda-feira (11), Sérgio chamou a atenção para a carta aberta divulgada pela Associação Brasileira dos Sobreviventes Enlutados por Suicídio, a qual cita que, “embora haja um esforço notável em torno do Setembro Amarelo, nem sempre a abordagem é adequada para um tema tão sensível”.

“Alguns estão divulgando informações incorretas, simplificando a complexidade do suicídio ou patologizando-o de maneira inapropriada. Além disso, o discurso moral, religioso e o excesso de positividade podem ser contraproducentes e insensíveis às pessoas em sofrimento”, afirma trecho da carta aberta mencionado pelo palestrante, que endossou as críticas.

“Temos feito cada vez mais campanhas, mas saímos de 32 mortes por suicídio por dia no Brasil para 45. A prevenção do suicídio está na mão de coaches, e não é para estar. Com todo o respeito a eles, não dá!”, disse o psicólogo clínico e suicidólogo, que também é especialista em intervenção na automutilação, prevenção e posvenção do suicídio e mestre e doutor em educação.

Sérgio defendeu que é preciso “aprender a se acolher” e apontou que é na relação com o outro que surge a oportunidade de se reinventar após episódios que despertaram pensamentos suicidas. “O trabalho de prevenção ao suicídio é dizer para si qual história quero construir a partir desses momentos”, comentou.

O psicólogo também refletiu sobre como sentimentos relacionados à ignorância pela falta de maturidade, à impotência e à impermanência, todos próprios do ser humano, levam a um estado de desesperança. “Tem coisa que a gente consegue mudar e tem coisa que não, e ponto; ser adulto tem a ver com isso”, afirmou.

A palestra oferecida gratuitamente pela Escola do Legislativo, e que lotou a sala de aula na Câmara, teve como nome “Acolher é cuidar”, mote que o CVV (Centro de Valorização da Vida) escolheu para trabalhar na edição de 2023 do Setembro Amarelo. Voluntária da unidade de Piracicaba há mais de 20 anos, Eliane Soares falou da importância do serviço, que presta 3 milhões de atendimentos por ano no país.

“Quando alguém liga para o CVV, dizemos que a pessoa pode tirar as máscaras e ser quem ela é, autêntica, coisa que nem sempre podemos ser no dia a dia”, comentou a voluntária, acrescentando que, além do telefone 188, os atendimentos também são feitos via e-mail ou chat no site cvv.org.br.

Eliane listou os sinais que devem ser observados em pessoas que podem desenvolver pensamentos suicidas: solidão, sensação de abandono, tristeza profunda, desejo de ir para um lugar melhor, expressão clara ou velada de querer morrer, perda de interesse por atividades de que gostava, descuido com a aparência e afastamento dos outros e de si mesmo.

Segundo a voluntária, pessoas próximas podem oferecer ajudar ao ouvir o que o outro tem a dizer com atenção e respeito; escutar a fala sem interromper; mostrar que leva o outro a sério, sem julgar ou criticar; valorizar o sentimento alheio; e incentivar a buscar ajuda familiar e médica.

“O papo entre amigos não substitui o suporte médico e psicológico”, alertou, ao destacar a importância de haver empatia na escuta. “Quando se está num sofrimento, ninguém quer ouvir o julgamento do outro. Julgar o outro a partir da própria experiência é cruel demais. Ser compreendido é uma necessidade básica do ser humano”, ressaltou.

O vereador Pedro Kawai (PSDB), que dirige a Escola do Legislativo, disse que é preciso “começar a se preocupar com o próximo e vivenciar o dia a dia das pessoas”. “Hoje estamos vivendo um momento difícil na sociedade, com uma avalanche de informações, através de internet, celular e televisão, em que esquecemos o mais importante, que é o relacionamento entre as pessoas”, afirmou.

“E, às vezes, a pessoa precisa muito de um abraço, carinho e atenção diante dos problemas que têm. Trazer essa discussão para esta Casa, através da Escola do Legislativo, ajuda a alertar a sociedade e mostrar a importância das relações humanas, de se preocupar e de entender os problemas do próximo. E, também, de não se deixar abater com os próprios problemas e procurar a ajuda no momento certo”, completou o vereador.

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