Desafio político: voltar às bases

Adelino Francisco de Oliveira

 

Adelino Francisco de Oliveira, professor no Instituto Federal, campus Piracicaba.

Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião; [email protected]

 

Toda mudança social substantiva tem como origem e fundamento movimentos que se encontram na base da sociedade. As oligarquias sempre pactuam pela não mudança, trabalham mesmo para a manutenção da ordem social vigente. Por isso que é uma ingenuidade política se esperar transformações por parte daqueles que vivem em perfeita acomodação social, em situações de privilégio, desfrutando das benesses do sistema. A verdadeira mudança só pode nascer da movimentação daqueles que compõem o alicerce da sociedade. Sem a base social não há possibilidade alguma de revolução!

Voltar às bases é mesmo a tarefa mais urgente! Mas é preciso antes entender a radicalidade do que isso significa. A atuação e presença junto à população mais vulnerável, no cotidiano das comunidades, não pode assumir um sentido de instrumentalização e manipulação, de maneira oportunista, clientelista e eleitoreira. O movimento de voltar às bases deve ter como horizonte a formação para a cidadania política, reconhecendo que o protagonismo deve ser sempre do próprio povo. Em um sentido genuíno, voltar às bases deve representar uma plena e radical inserção social, em um caminhar político com o povo, compartilhando de suas dores e também de suas lutas.

Aliás o clientelismo tem sido a marca de uma prática política rebaixada e deletéria, que não guarda o mínimo compromisso de formar para a cidadania. Aproveitando-se das fragilidades e demandas sociais, a prática clientelista promove uma aproximação à população com o mero intuito de angariar votos. É evidente que o clientelismo não representa, de maneira alguma, uma real inserção social. Tal prática, tão somente, corrompe e alicia as possíveis lideranças comunitárias, bloqueando as perspectivas de um protagonismo popular e de uma compreensão da política como instrumento de luta e transformação social.

É importante identificar quem são os atores que têm atuado na base da sociedade. A quem tais atores servem e o que ensinam e propagam? A reprodução de uma ideologia que procura justificar dinâmicas históricas de opressão e exploração tem sido a tônica da abordagem político-social de tais atores, que têm ocupado o território das comunidades mais carentes. Isso significa que na base da sociedade há uma atuação política que não tem apontado para uma visão de democracia e de direitos de cidadania.

O trabalho de base é fundamental para a construção de uma outra ordem social, agora comprometida, de fato, com a produção da justiça, da liberdade e da solidariedade. Mas não se faz trabalho de base sem se estabelecer um vínculo profundo, intenso e verdadeiro com a realidade mais cotidiana da população. Em um movimento de vanguarda, é preciso estar na base, vivendo e compartilhando dos anseios mais legítimos do próprio povo. Isso exige um deslocamento para as periferias e também uma capacidade de desprendimento e renúncia de toda pretensão de concentração de poder. Uma outra concepção política, na qual o protagonismo popular ocupa o lugar central, sendo o motor de toda dinâmica de transformação social.

A esperança de um outro modelo político, ambiental, econômico e social encontra amparo na força do povo, quando organizado e mobilizando em torno das pautas mais urgentes do contemporâneo. Voltar às bases só faz sentido se tal deslocamento representar um movimento em direção a um fazer político livre de todo tipo de oportunismo e clientelismo, reconhecendo que somente o povo, quando consciente de seu protagonismo histórico, revela-se capaz de sedimentar a tão almejada revolução.

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Adelino Francisco de Oliveira, professor no Instituto Federal, campus Piracicaba.

Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião; [email protected]

 

 

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