João Salvador
Enquanto os animais se comunicam, o homem somente fala, e, na maioria das vezes, para si próprio. De senhor do planeta passou a tirano. Um impiedoso predador, pilhando as riquezas naturais, saqueando o patrimônio que herdou, por julgar-se depositário único.
Existem quatro leis básicas da ecologia propostas pelo biólogo ativista e antiliberalista, Barry Commoner. Na primeira, tudo, direta ou indiretamente, “está conectado a tudo”, através de um grande sistema, semelhante a uma teia de aranha. Ao romper umas destas conexões ou se um dos elementos desaparece, todas as demais partes da teia sofrerão os efeitos, já que os ecossistemas se mantém estáveis através da interação. A segunda lei diz que “tudo vai para algum lugar”, como descartes e acúmulo de resíduos não recicláveis e nocivos. A estabilidade dos ecossistemas é possível, uma vez que os resíduos gerados por uma parte do ciclo, são utilizados por outra. Só haverá desestabilidade se houver interferência no ciclo natural das coisas. Já, na terceira lei, a Natureza utiliz a com maior eficiência seu departamento de pesquisa. A quarta lei reporta que “nada é de graça”, tudo tem seu preço. Não é possível extrair combustível fóssil para queimar, liberando dióxido de carbono (CO2) e material particulado, sem que um preço esteja sendo pago em algum lugar. E quando se coloca em perigo alguma forma de vida, todo o sistema corre risco (primeira lei).
Baseando-se nas premissas holísticas, ao abater impiedosamente as onças, estará impedindo que elas predem os veados, causando uma superpopulação dos cervídeos. Por outro lado, ao diminuir a oferta de alimentos naturais a esses felinos, eles passarão a perturbar a pecuária, ou dizimados pela fome. Quando alguém mata aranhas e escorpiões, a tendência é aumentar as populações de insetos. O extermínio de vespas causa aumento nas populações de aranhas, o de gaviões, aumenta o número de cobras venenosas. Já, menos cobras, mais ratos. A Natureza é um conjunto harmônico, onde os seres são interdependentes, e, com isso, as superpopulações das espécies são naturalmente controladas.
Um fato curioso é que quando se juntam gatos em áreas verdes, o que se pensa em primeiro lugar, é que estes promoverão uma chacina indiscriminada da fauna local. O que foi observado, porém, é que eles convivem pacificamente com outros animais. Por mais que sejam considerados eficientes predadores ou caçadores, não merecem a fama de destruidores do meio ambiente. Uma atitude isolada não deve qualificar um gato como um exterminador de pássaros nativos e animais silvestres. Aliás, os “defensores” e “admiradores” dos pobres pássaros, que os compram no estado silvestre, estão incentivando o mercado vergonhoso do tráfico de animais da fauna nativa. O abandono de animais domésticos significa maus-tratos e crime e pela atitude insensata e a prática cruel e sádica de envenenamento, é um indicador social da perversidade hu mana. A propósito, será que as chamadas pragas urbanas invadem nossas casas ou somos nós que invadimos as delas? À custa da grande especulação imobiliária se destrói extensas áreas de matas nativas.
O aumento populacional de qualquer espécie na natureza indica oferta de comida e ausência de predadores. O maior predador do homem é o próprio homem, com sua violência, as guerras étnicas, civis, disputa insana pelo poder, o narcotráfico, desrespeito à natureza, e daí por diante. Nesse sentido, parece que ele faz o seu próprio controle biológico.
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João Salvador é biólogo