Drama em preto e branco: fim do União Barbarense

Celso Gagliardo

 

Nasci e cresci nos arredores da rua 13 de Maio, onde ao seu final está incrustado o estádio Antonio Lins Ribeiro Guimarães, há 102 anos, em Santa Bárbara d’Oeste. Em área doada, e por isso mesmo o nome do clube até hoje ostenta a expressão União “Agrícola” Barbarense.

Lembro-me do então acanhado, mas aconchegante estádio, árvores atrás do gol de entrada, pequena arquibancada, vestiários separados do campo e próximos à rua 13 e até da casinha do inesquecível treinador da base, Legório, compondo o cenário. Jogadores passavam entre torcedores para entrar no campo, e muitos assistiam do alambrado, numa visão particular, no mesmo nível do solo, ao lado dos jogadores.

Mais tarde fui colaborador do clube por um período na divulgação de suas atividades, chegando a compor numa diretoria, influenciado pelo amigo Carlos Bueno de Camargo. Ainda tenho ali uma cadeira cativa, e também cheguei a jogar amistosamente e a servir de “sparing” solitário, num dos gols, para o treinamento de arremates do saudoso amigo, centroavante Euzébio.

Assisti muitos jogos. Torci pelas vitórias e ascensão do União ao longo de minha jornada em Santa Bárbara. Inúmeras vezes vi o benquisto “veio Sacchetto”, extasiado, jogar seu chapéu para o alto após gol do Leão. Desde os tempos da terceira divisão. Vivenciei o time com muitos ex-jogadores do Guarani, Ponte e principalmente do XV de Piracicaba, clube parceiro. Lembro-me muito de Ademir Gonçalves – do União para o XV -, e no sentido inverso Kiki, Neguito, Tanguinha, Chicão Avanzi, Joca, Ditinho Flexa, Tabai, Foguinho, Carlinhos Franchi, Barbosa, Tatao, João Luiz, Armando, Celinho… e outros.

A vida me separou da cidade. Mas o coração nunca deixou de ser União. Pelo rádio e jornais estou sempre ligado no que acontece com o clube. Agora, a tristeza de sentir que tudo parece estar perto do fim, pois sem o Estádio dificilmente o futebol profissional da cidade irá sobreviver. Aliás, esse sofrido futebol interiorano de tantas glórias e revelações de atletas, ultimamente fragilizado até em cidades maiores. À época da “Pérola Açucareira” com 4 usinas de açúcar, década de 60, a cidade chegou a ter 4 clubes no futebol profissional do Estado : União, CAUSB – Usina Sta. Bárbara, Palmeiras – Usina Furlan, e AE Internacional (rua Sta. Bárbara).

J.J. Bellani, historiador do clube, nos envia áudio do líder-fundador da torcida organizada TUSB, Carlos D. Festa, emocionado com a receptividade dos barbarenses numa manifestação recente em carro de som pelas ruas da cidade. É o apelo que muitos ainda fazem por uma solução que mantenha o estádio de pé, que o União sobreviva e prossiga sua história que remonta há 109 anos.

A cidade perderá. O futebol ainda é um dos maiores divulgadores das comunidades. Uma marca. Mal comparando, Santa Bárbara é mais conhecida no País pelo futebol do União, do que pelas famosas máquinas operatrizes que a tradicional empresa Indústrias Romi fabrica há tantos anos. Incomparável valor econômico e contribuição para o mercado mundial de máquinas e equipamentos, mas sem o mesmo apelo popular.

Tomara ainda possa haver algum entendimento para resolver esse impasse histórico do clube perder, em leilão por dívidas trabalhistas contraídas, o seu maior patrimônio, que não é somente dele, por extensão é de toda a cidade.  Um estádio que já abrigou 13.000 torcedores numa partida. “Salve, salve, União Barbarense, um orgulho de pais e de mães, tens um nome gravado na história, teu patrono, salve Antonio Guimarães.”

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Celso Gagliardo, profissional de Recursos Humanos

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