Como devemos orar?

 

(Alvaro Vargas, Eng. Agrônomo-Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante espírita)

O decálogo foi a primeira grande revelação à Humanidade, apresentando em seu primeiro mandamento o respeito e a adoração ao Criador. Entretanto, esse ensinamento não era compreendido pelos judeus, que se prendiam a práticas exteriores em sua forma de louvar o Altíssimo. Consideravam que através das manifestações exteriores (jejum, postura, rituais etc.), estariam habilitados a receber as graças Divinas. No mundo espiritual, esse mandamento é mais objetivo: “consagra amor supremo ao Pai de Bondade Eterna, nEle reconhecendo a tua divina origem” (XAVIER, F. C. e VIEIRA, W. Evolução em dois mundos. Pelo Espírito André Luiz, cap. 20). Segundo o Espírito Emmanuel (XAVIER, F. C. Pensamento e Vida, cap. 26) “A prece impulsiona as recônditas energias do coração, libertando-as com as imagens de nosso desejo, por intermédio da força viva e plasticizante do pensamento, imagens essas que, acendendo às Esferas Superiores, tocam as inteligências visíveis ou invisíveis que nos rodeiam, pelas quais comumente recebemos as respostas do Plano Divino, porquanto o Pai Todo-Bondoso se manifesta igualmente pelos filhos que se fazem bons”.

Durante a divulgação de sua Boa Nova, Jesus incentivou a prática da oração e condenou a forma exibicionista e hipócrita de orar praticada por muitos fariseus (Mateus, 6:6). Para isso, elaborou várias parábolas. Em uma delas, utilizou-se de dois personagens, um publicano e um fariseu (Lucas, 18:9-17). Nessa estória, o publicano, mesmo sendo considerado um pecador, devido a humildade demonstrada durantes as súplicas ao Criador, saiu do templo justificado. Em contraste, o fariseu, arrogante e orgulhoso, não obteve a graça solicitada, pois, segundo o Mestre, “qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado”. Em outra parábola, Jesus discorre a respeito de um Juiz iníquo que, mesmo com antipatia, é levado a decidir, devido à insistência de uma viúva sobre uma demanda jurídica (Lucas, 18:1-8). Essa lição ressalta a importância de orar com fé, sem desistir. Ambas as parábolas estão relacionadas e se complementam. Enquanto a parábola do fariseu e o publicano destaca a motivação e o comportamento correto ao orar, a exposição do Juiz iníquo pela viúva, enfatiza a importância da perseverança na oração.

Para nos dirigirmos ao Criador devemos fazê-lo com humildade, reconhecendo com sinceridade as nossas faltas perante as leis Divinas. O fato de nos ajoelharmos ou realizar outros gestos exteriores não influenciam o valor da nossa oração. Tão pouco é relevante o uso de roupas especiais, ambiente com pouca luz ou fundo musical. A preparação para orar é feita normalmente durante as nossas atividades cotidianas, vivenciando os ensinamentos de Jesus. Mesmo sendo um Espírito puro, o Mestre Nazareno frequentemente se retirava para um lugar ermo, e orava. Deixou um ensinamento a esse respeito: “para orar, devemos ir para o quarto e, após ter fechado a porta, orar ao Pai, em segredo; e Deus, que nos vê em segredo, nos recompensa plenamente” (Mateus, 6:6). Importante ressaltarmos que, quando o Cristo nos pede para buscar o isolamento em nosso aposento, ele não se refere apenas a um local físico, mas também ao nosso mundo íntimo. É o momento de nos sintonizarmos mais intensamente com a Divindade. Nesse aspecto, segundo o Espírito Amélia Rodrigues (FRANCO, D. P. Luz do Mundo, cap 5) a oração do Pai-Nosso resume a melhor forma de nos expressarmos perante Deus, pois, contém eloquentes expressões de reconhecimento ao Altíssimo; humildade e submissão da alma que ora e se subordina às inexauríveis fontes de perdão divino; entrega total, em confiança ilimitada; exaltação do Pai nas dimensões imensuráveis do Universo; respeito à grandeza da sua criação por meio da alta consideração ao seu nome; resignação atual diante das suas determinações Divinas e Divina presciência. Canto de amor e abnegação!

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