Bandeirinhas brancas

 

Camilo Irineu Quartarollo

 

Fechando as festas julinas, um batalhão de seiscentos homens bem armados sobe o Guarujá para prender o assassino do soldado Patrick Reis.

A UOL diz que pelo menos catorze pessoas morreram em decorrência da Operação Escudo, na Baixada Santista, litoral de São Paulo. Desde o fim de semana, moradores negam ter havido confronto contra as forças legais. Relata ainda a UOL que moradores denunciam uma retaliação para vingar o soldado morto. O veículo de comunicação teve acesso a áudios nos quais os moradores denunciam o uso de agentes encapuzados invadindo barracos.

Essas malfadadas operações em bairros pobres paulistas, cariocas, baianos e outros, sempre trazem danos a crianças, estudantes e adultos do lugar e são recorrentes nos noticiosos.

As mortes são apelidadas de “efeitos colaterais”, ora, mortes não são efeitos, são danos irreparáveis de operações malsucedidas. O termo é análogo a ‘baixas’ nas guerras, porquanto baixas se refiram a soldados, não a civis. A quem não tem empatia tudo isso pode parecer um filme com efeitos especiais e sangue de mentira, contudo, não é ficção, são os bairros periféricos sob o terror e forças de assalto!

A população não é mero detalhe de uma guerra ou guerrilha – é destinatária da Segurança pública, a qual para esse fim foi instituída. Se for imprescindível a ação armada, deve-se buscar o campo neutro, de preferência sem habitações, reféns ou disparos. O trabalho de investigação e inteligência deve preceder às operações – se estas necessárias, e em caso extremo. Hoje se tem muita tecnologia para elucidar crimes, usando-se o mínimo de força e o máximo de eficiência. Operações policiais demandam planejamento, conhecimento do terreno, com efetivos treinados e protegidos, ação em grupo e no tempo certo e, sim, com uso de câmeras nas fardas.

O pleno sucesso de uma operação bem planejada é zero mortes e prisões dos procurados, precedida de inteligência, acareações, cruzamentos de dados. Prisões podem ser efetuadas de muitas formas reduzindo-se riscos e periclitação de vidas, porém é temerário fazê-las de forma ostensiva e não levar em conta o escudo humano (ou seja, a população inocente e desprotegida como refém do insucesso).

Geralmente, o bom policial e o bom comandante não são notícia, a polícia eficiente não precisa nem deve aparecer ou lacrar nas redes sociais. Temos boa polícia, mas o viés das políticas de segurança não deve ser o confronto, mas a prevenção e o respeito à população protegida.

Os moradores do Guarujá estão temerosos em sair às ruas, ir à escola, ao trabalho, vender seu suco na praia (ganha-pão) ou de que suas casas possam ser invadidas e alvejadas indistintamente. Quer maior tortura? Dentro da  própria casa, por mais tapera que seja, ser alvejado por ser confundido com um procurado da polícia! Aliás, se procurado deve ser preso, não morto.

 

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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, ensaísta, autor de crônicas, historietas, artigos e livros

 

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