Instituído pela Lei 13.435/2.017, Agosto é considerado o mês do Aleitamento Materno no Brasil e a legislação determina que, ao longo deste período, são intensificadas ações intersetoriais de conscientização e esclarecimento sobre a importância do aleitamento materno. O Agosto Dourado simboliza a luta pelo incentivo à amamentação – a cor dourada está relacionada ao padrão ouro de qualidade do leite materno.
A história da Semana Mundial de Aleitamento Materno teve início em 1990, num encontro da Organização Mundial de Saúde com a UNICEF, momento em que foi gerado um documento conhecido como “Declaração de Innocenti”. Para cumprir os compromissos assumidos pelos países após a assinatura deste documento, em 1991 foi fundada a Aliança Mundial de Ação Pró-Amamentação (WABA, sigla em inglês).
Em 1992, a WABA criou a Semana Mundial de Aleitamento Materno e, todos os anos, define um tema a ser explorado e lança materiais que são traduzidos em 14 idiomas com a participação de cerca de 120 países.
Neste meu espaço semanal, eu quero trazer um tema que, claro, está dentro do aleitamento materno, e que também envolve as pessoas que convivem com HIV, sobretudo as mulheres e gestantes. É a chamada ‘amamentação cruzada’.
A amamentação é um direito de toda criança. É mais do que comprovado que a alimentação com o leite materno é crucial para o desenvolvimento saudável da criança – e também para a saúde da mulher. Entretanto, alguns cuidados devem ser observados para que a amamentação garanta todos os benefícios à saúde do bebê. Por exemplo: a mãe que vive com HIV não deve amamentar, pois o vírus pode ser transmitido para a criança durante a amamentação. Outro cuidado a ser observado: uma mulher não deve amamentar o filho de outra. Trata-se da chamada amamentação cruzada.
O Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS) contraindicam a prática da amamentação cruzada porque ela pode oferecer risco de transmissão de vírus – como o HIV, que causa a aids, e o HTLV – para a criança durante a amamentação, além da hepatite B, pois os agentes causadores dessas doenças estão presentes no leite.
As mulheres que têm alguma dificuldade ou contraindicação para o aleitamento, como no caso das que vivem com HIV, devem procurar um banco de leite humano. Neles, o leite doado por outras mães passa por triagem e tratamento – o que o livra de qualquer possibilidade de transmissão de doenças ou infecções. Outra alternativa é a utilização de fórmulas lácteas como substituição ao leite materno. Os bebês cujas mães vivem com HIV têm direto à fórmula láctea, que é distribuída no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Em caso de dúvida, basta procurar um profissional ou serviço de saúde e informar-se.
Os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas para HIV recomendam que mulheres que vivam com HIV ou com HTLV não amamentem, já que esses vírus podem ser transmitidos ao bebê pelo leite materno. Essa recomendação vale também para mulheres que estejam em tratamento e tenham atingido a carga viral indetectável, já que estudos recentes demonstram que, mesmo que a carga viral seja baixa, há possibilidade de transmissão do vírus durante a amamentação.
Existe ainda a chamada transmissão vertical, que é a transmissão dos vírus do HIV/aids, da sífilis ou hepatites virais ao bebê durante a gestação, parto ou amamentação. Por isso, recomendamos que todas as gestantes e suas parcerias sexuais sejam testadas para o HIV/aids e a sífilis, duas vezes: uma no primeiro trimestre da gestação e a outra no último trimestre. A mulher deve também ser informada sobre a possibilidade de prevenção da transmissão para o bebê. O teste e o tratamento são oferecidos gratuitamente pelo SUS – tanto para o bebê quanto para a mulher e os seus parceiros.
Paulo Soares, presidente do Caphiv (Centro de Apoio ao HIV/Aids, Sífilis e Hepatites Virais)