Camilo Irineu Quartarollo
Eleitos para a Academia de Letras os mervais, chicos, gils, fernandas, sarneys, FHCs e outros famosos. Estão fora da ABL Monteiro Lobato, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Vinicius de Moraes, Lima Barreto, Érico e Luís Fernando Veríssimo, imortais pelas suas próprias obras.
Um fardão, roupa de gala de posse, de setenta mil reais, fios de ouro no tecido cambraia verde-oliva, é bancado pelo povo do Rio de Janeiro ou município onde nasceu o acadêmico. Fardão…
Nas cavernas já havia grafismos e desenhos com nossas digitais humanas. Momentos registrados com clorofila e sangue – de anônimos, mas reconhecidamente humanos considerados pré-históricos, antes dos hieróglifos. A maioria dos escritores, poetas, e alguns viscerais, são realmente anônimos, e uns tímidos usando de pseudônimos.
Há bons textos circulando nas redes, os quais os autores alegam ser Luís Fernando Veríssimo para, talvez, terem leitores interessados, curtidas ou até por serem escritores mais tímidos que o próprio Luís Fernando. É certo que o referido escritor não se apropria de nada de outrem e até incentiva a que assumam a obra, incentiva os anônimos.
Esse anônimo, cujo pseudônimo é Luís Fernando, não apareceu até hoje. Ninguém sabe se é homem ou mulher, negro, branco, indígena, central ou periférico, livre ou detento. Contudo, foi reconhecido o valor do escrito.
Todos podem escrever, mas não basta o autor entender. Quem lê também deverá entender. Quem lê não quer perder tempo com nosso texto extenso, no qual o escrevedor fique se repetindo. O público quer o que lhe interessa, o tema que o toca – por vezes, somente o obituário. Nem todos leem simplesmente os famosos, inda bem.
A fluidez do texto evita o cansaço em ler e, frases curtas e precisas, também. Quando se termina de escrever é necessário corrigir o escrito. Trocar palavras “difíceis” por suas análogas e mais compreensíveis ao público leitor. Ninguém suporta um escritor pedante, muito menos o pedantismo de um acadêmico – o povo até os ouve, mas não dá bola.
Não cabe ao escritor ser um lacrador, nem impor suas opiniões mesmo que exposta, mas trabalhar temas e realidades apreendidas. Ninguém é obrigado a nos ler por nos acharmos escritores, até porque o público leitor escolhe o tema de interesse, não o escritor ou escritora. Um escritor de profissão escreve sobre quaisquer temas ou sobre quase todos – não se intimida sobre questões reais que tem de enfrentar.
O saxofonista e amante do Jazz Luís Fernando Veríssimo, se o caso e sem tempo ruim, escreve a pedido da editora e o faz com mestria, mas não significa que esteja traindo seus princípios ou opiniões sobre a realidade. A literatura de Luís Fernando é arejada, dialogada, atualíssima – percebem-se os anseios os quais o comunicador deposita na obra, a relação humanizadora e dinâmica com marcas de humor fino.
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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, ensaísta, autor de crônicas, historietas, artigos e livros