
Monumento comemorativo dos 200 anos da cidade ficava em frente à Casa do Povoador
Em 1967, quando Piracicaba completou 200 anos, o então prefeito Luciano Guidotti (1903-1968) preparou uma programação para comemorar o aniversário da cidade, com jantares, concurso de misses e inaugurações. Em frente à Casa do Povoador, foi erguido o marco do bicentenário, que depois de mais de cinco décadas tem localização e destino desconhecidos.
Em uma imagem de autor desconhecido, datada de 1967 e que está nos arquivos da Câmara Municipal de Piracicaba, dois pontos chamam a atenção: uma quase irreconhecível Casa do Povoador, no ano em que passou a ser reconhecida como símbolo da cidade, e o obelisco erguido em frente, possivelmente em concreto, que trazia ao centro um símbolo: um cata-vento desenhado pelo artista Archimedes Dutra (1908-1983) e que representava o movimento e o progresso.
Além disso, havia no monumento uma placa, com os dizeres: “Marco do bicentenário de Piracicaba (1-8-1767 – 1-8-1967). Glória ao seu fundador, o capitão povoador Antônio Corrêa Barbosa, e, honra às bravas gerações que povoaram terras piracicabanas, nos seus dois séculos de lutas e conquistas – extraordinária colmeia humana, cujo trabalho dignificante, acalentado pela crença, pelo amor e pelo civismo, vale por uma decidida afirmação de fé nos destinos da grande pátria comum, uma e indivisível”.
A ausência do obelisco é notada nos registros feitos no local das décadas de 1990 em diante. “O que deixa a inevitável pergunta: onde está o obelisco?”, indaga a arquivista Giovanna Fenili Calabria, chefe do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara Municipal de Piracicaba.
Ao fazer o levantamento para a série semanal Achados do Arquivo, produzida em parceria com o Departamento de Comunicação Social, Giovanna encontrou uma “pista” para tentar solucionar o mistério: a lei ordinária 3.087/1989, assinada pelo então prefeito José Machado (PT), que autoriza o Executivo a transferir o monumento para a praça rotatória localizada na confluência das avenidas Dr. Paulo de Moraes e Cel. Antônio Corrêa Barbosa.
Há também uma justificativa para a mudança, presente no texto do projeto lei 121/1989, enviado pelo Executivo à Câmara: “entendemos realmente necessária a remoção do marco comemorativo ao 2º Centenário de Piracicaba, pois face as suas proporções e concepção formal, o mesmo não condiz com a Casa do Povoador, contrastando e prejudicando, sobremaneira, seu visual e aquele sítio histórico”.
A mesma justificativa diz: “a relocalização do monumento não significa, de forma alguma, desmerecimento por parte desta Municipalidade, mesmo porque ele será instalado em uma praça rotatória, ampla, junto ao novo Paço Municipal, dando-lhe maior destaque, além de propiciar melhor oportunidade de ser apreciado pela comunidade”.
Porém, Giovanna lembra que a normativa não soluciona o mistério: “afinal, apesar de explicar os motivos do monumento ter sido retirado de seu lugar original, basta um olhar pouco atento às imediações do Centro Cívico para constar que o monumento não está no lugar indicado na lei”.
A arquivista diz que o destino do obelisco segue sendo um mistério na história piracicabana e que os registros documentais não trazem vestígios, pistas ou indícios que podem ajudar a solucioná-lo. “A chave do segredo talvez ainda esteja guardada na memória de alguns que presenciaram a remoção do imponente monumento. Mas, enquanto enigma não é solucionado, os curiosos e interessados podem ter um pequeno vislumbre do marco, mais precisamente do símbolo em arcos, pois uma cópia está pendurada em uma das paredes do hall de entrada do prédio principal da Câmara.”
NÃO É DO POVOADOR – Por meio do decreto municipal 10.997, de 29 de dezembro de 2004, a Casa do Povoador foi tombada como patrimônio histórico e cultural de Piracicaba.
Embora leve esse nome, historiadores asseguram que a casa não pertenceu ao fundador da cidade, Antonio Corrêa Barbosa, que morreu no século 18. A casa data provavelmente da primeira metade do século 19 e o seu nome seria uma homenagem ao povoador.
Segundo dados do extinto Ipplap (Instituto de Pesquisas e Planejamento de Piracicaba), a antiga construção em taipa teve, entre outras funções, a de entreposto de sal e alfândega à época em que por aquele ponto da margem lançava-se uma ponte, na direção da atual rua Prudente de Moraes.
Datada de 1986, uma das fotos do Setor de Documentação mostra a reforma Casa do Povoador. Segundo Giovanna Calabria, a localidade foi adquirida pela prefeitura como bem de utilidade pública e passou por um processo de reforma e restauro naquele ano. A mesma imagem permite observar as primeiras etapas da reforma, ainda com o obelisco e marco do bicentenário instalados.
ACHADOS DO ARQUIVO – A série “Achados do Arquivo” é uma parceria entre o Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo, e o Departamento de Comunicação Social da Câmara Municipal de Piracicaba, para realizar publicações semanais no site da Câmara, às sextas-feiras, como forma de tornar acessível ao público as informações do acervo do Legislativo.