Ari Junior
Eu sou um entusiasta do Cinema Nacional e não é de hoje. Já fui algumas vezes no cinema em épocas de grandes exibições de filmes muito comentados. E ao chegar no local com a intenção de ver o tão falado título, me deparo com um bom filme brasileiro sendo exibido em outra sala. Não tive dúvidas: optei pela produção nacional.
E ouso dizer que não sou apenas um espectador dos grandes nomes dos filmes nacionais. Não sou daquele que só lembra de “Tropa de Elite”, “Dona Flor…” ou “Minha Mãe é uma Peça”. Acho que sou mais fã dos títulos “cult” do que de filmes com maior apelo comercial. Assisti parte dos filmes do Glauber Rocha, já vi os famigerados filmes dos anos 1980, sobre as quais nossas babás não nos contavam, e também os do chamado Cinema Novo que inspirariam muitos outros filmes feitos depois.
Tudo isso é para dizer que estreou no mês passado o filme “Capitu e o Capítulo”, dirigido por Júlio Bressane, escrito em 2021. Baseia-se no romance “Dom Casmurro” de Machado de Assis, onde encontramos a maior questão da história da literatura Brasileira: se Capitu traiu ou não Bentinho. Obviamente, estou sendo muito simplista em resumir dessa forma a história. As muitas nuances das personalidades dos protagonistas que Júlio Bressane descreve em sua obra vai muito além dessas meras duas linhas que resumi. Mas o faço propositalmente para incentivar que o leitor fique curioso e busque assistir ao filme. Afinal, esse é o objetivo maior quando um diretor lança uma fita: que ela seja apreciada pelo maior número de pessoas.
Pois é aí que começam os problemas do entusiasta pelo Cinema Nacional. Este filme está sendo exibido em três míseras salas de cinema no Brasil, incluindo uma em São Paulo, uma no Rio de Janeiro e uma em Brasília. Um filme que aparenta ser uma grande obra, com um elenco de peso, reconhecido nacionalmente, baseado numa obra literária maior ainda, não está acessível a 95% dos brasileiros. Como exemplo, eu aqui em Piracicaba, se quiser assistir ao filme, terei de me deslocar até a capital, numa viagem de duas horas de ida e mais duas de volta, preso a um único horário de exibição, numa única sala de cinema. Isso é imperdoável.
Eu entendo que a indústria cinematográfica seja tão comercial quanto qualquer outra indústria. Claro que se um filme tem muito mais divulgação e possibilidades de ganho em relação a outro, esse filme será beneficiado com um número maior de salas de exibição e período maior de exibição. Mas, reduzir de forma tão drástica a distribuição e exibição de filmes nacionais só faz empobrecer e desestimular os nossos criadores, diretores, o elenco, enfim, a estrutura do Cinema Nacional. Depois, o que mais ouço dizer entre os críticos e estudiosos é que ‘o cinema nacional é pobre, não produz boas histórias, por isso não é comercial.’ Mas é exatamente o contrário. Ele acaba por não produzir boas histórias e não ter grandes nomes da área retroalimentando esse sistema, gerando assim maior retorno financeiro, exatamente por não ter nenhum incentivo e isso o empobrece, tirando o interesse dos grandes patrocinadores, que não veem possibilidade de retorno comercial. Assim, o cinema nacional entra nesse círculo vicioso do qual não conseguirá sair sozinho.
O que se fazer? Bom, eu diria a princípio, o que não se fazer, que é continuar mantendo minguadas salas para exibição dos nossos títulos. Mas é necessário, sim, uma maior intervenção governamental, racional e muito bem estudada para não haver nem exageros, nem injustiças. Até que o cinema nacional ande com suas pernas e possa então estar jogando o mesmo jogo dos grandes títulos importados, ocupando uma quantidade razoável de salas de exibição, para que todo o povo possa ver os grandes feitos do nosso cinema.
______
Ari Junior, comprador e escritor