#FALAPAULOSOARES – Esperança também faz parte do tratamento!

Em meus anos como presidente do Caphiv (Centro de Apoio ao HIV, Aids, Sífilis e Hepatites Virais) e, mais recentemente, com o residencial para idosos “Casa da Vovó Nice”, eu me “acostumei” – aliás, bem entre aspas, porque nunca nos acostumamos – com alguns diagnósticos que são deterministas. Sabemos como será o início, o meio e o fim de algumas doenças. Mas, como sou muito ligado às questões místicas, sempre digo, que a esperança também faz parte do tratamento.

Faço esse pequeno preâmbulo para trazer uma notícia bastante animadora na área das doenças neurodegenerativas. Estou falando da seguinte manchete, que saiu no jornal O Globo, reproduzida também no site GHZ: “Remédio contra HIV pode atrasar progressão do Alzhemeir, aponta estudo”. A notícia é que o medicamento atuou em mecanismo recém-descoberto por pesquisadores de Cambridge, que leva à formação de placas características da doença no cérebro.

O processo é comum a diversas doenças neurodegenerativas, como Alzheimer, e acarreta na formação de placas de proteínas no cérebro. Conforme a publicação, após a descoberta do mecanismo envolvido na disfunção da autofagia, pesquisadores testaram medicamentos originalmente criados para tratar a infecção pelo HIV em animais que apresentavam modelos de demência semelhantes à doença de Alzheimer. Esses medicamentos agem especificamente no receptor CCR5, relacionado ao mecanismo identificado.

O estudo foi publicado em abril deste ano pela revista científica Neuron. Os cientistas concluíram que os indivíduos que receberam o fármaco, em estágios iniciais da doença, apresentaram uma diminuição nas placas de proteína e melhor desempenho em testes de memória em comparação com aqueles que não foram tratados.

Esse achado levou os pesquisadores a considerar a possibilidade de que medicamentos capazes de interromper o funcionamento do CCR5 possam ser úteis para prevenir ou atrasar a progressão de doenças neurodegenerativas.

Esses fármacos já existem, porém pensados para um diagnóstico completamente diferente: a infecção pelo HIV. Isso porque o vírus utiliza justamente o CCR5, que atua como uma espécie de interruptor, para entrar na célula e infectá-la. Os poucos casos de cura do HIV, por exemplo, foram de pacientes que receberam um transplante de medula óssea de doadores com mutações genéticas que levam o corpo a não produzir a CCR5.

Em 2007, um remédio chamado maraviroc, desenvolvido pela Pfizer, foi aprovado para o tratamento do HIV em países como Estados Unidos e Brasil por atuar justamente nesse receptor CCR5. No ano passado, um estudo publicado na revista científica Nature já havia mostrado que o fármaco restaurou a perda da memória em camundongos mais velhos. Imaginava-se que o efeito é relacionado ao aumento de expressão do CCR5 que acontece durante o envelhecimento.

Agora, o novo trabalho mostra que ele pode ser benéfico também para atuar no aumento consecutivo do CCR5 decorrente da atuação das micróglias em doenças neurodegenerativas.

O estudo ainda não é totalmente conclusivo, mas aponta para algumas possibilidades de tratamento mais eficazes como as doenças neurodegenerativas, que, quando são verificadas nos pacientes, muitas vezes são vistas como “atestados definitivos”. Quem sabe não estamos precisando uma nova evolução para combater essas doenças.

Por isso, a esperança é sempre benéfica. Ela faz parte de todo o tratamento!

 

Paulo Soares, presidente do Caphiv (Centro de Apoio ao HIV/Aids, Sífilis e Hepatites Virais)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima