A segurança com câmeras de monitoramento total

Dirceu Cardoso Gonçalves

Mais importante até do que o plano de recuperação do centro da cidade de São Paulo, com a instalação ali das repartições administrativas do Estado, é a notícia de que o governo estadual está adquirindo 3 mil e a prefeitura vai licitar até o fim do ano  a compra de outras 20 mil câmeras de monitoramento com reconhecimento facial e outros recursos avançados, nos leva à crença de que a região poderá, finalmente, se livrar da cracolândia, que a sucateia desde meados dos anos 80. Colocados em pontos estratégicos e vigiados por uma equipe especializada, os equipamentos darão a agilidade necessária para a solução rápida dos problemas. Deverão ser um excelente auxiliar para afastar traficantes e outros criminosos e contraventores das vítimas que hoje constituem-se em sua clientela cativa e vítima.
Desde o surgimento das primeiras câmeras de monitoramento — há pelo menos três décadas —, temos lutado para que o sistema seja adotado nos pontos problemáticos da comunidade e opere em múltiplas funções. O raciocínio é que o equipamento proporcione a vigilância em tempo integral, o que é impossível com o trabalho convencional realizado por humanos, pois faltam recursos e efetivo para tanto..
Em vez de equipe armadas e um grupo de viaturas, que consome combustíveis, diárias e outros insumos, os logradouros devem ser  captados pelas câmeras cujo produto, além de gravado para futuras utilizações, é acompanhado por policiais treinados e outros observadores  que, ao identificar ilícitos ou outras anormalidades, enviam ao local o socorro adequado ao evento em tela. Pode ser a polícia, o resgate, os bombeiros ou até todos ao mesmo tempo.
O produto da câmera tem múltiplas utilidades. Pode reprimir, socorrer e até fornecer subsídios para a atuação da Justiça e dos governos no planejamento das soluções exigidas por cada ponto do território monitorado. Torna mais seguro o trabalho dos diferentes entes da segurança e permite que os recursos hoje utilizados em patrulhamento sejam deslocados somente na certeza da necessidade, pois a câmera e seus observadores já viram e identificaram o que ocorre em cada ponto.
Cada dia agregando mais tecnologia e com alcance maior, a câmera oferece centenas – talvez milhares – de opções de segurança. O principal é que os sistemas podem cruzar informações e tornar praticamente impossível as fugas ou a chegada de criminosos. Ainda há a possibilidade dos sistemas público e privado (de lojas, banco e similares) abastecer o banco de dados da Segurança Pública e dele também receber alertas.
As câmeras que as polícias têm utilizado acopladas à farda de seus agentes são o grande exemplo da utilidade do sistema. Elas protegem todos os participantes de uma ocorrência, evitando excessos de ambos os lados e oferecendo à Justiça as imagens para auxiliarem no julgamento. Deram tão certo que hoje estão em adoção em todos os pontos do país.
Temos a certeza de que controlar e até acabar com a cracolância será apenas um dos bons resultados da ampliação do monitoramento dos pontos estratégicos de São Paulo. Muitos outros problemas de maior ou menor gravidade também deverão ser solucionados e, com isso, a comunidade viverá melhor.
Mesmo com toda a eficiência do sistema – que tende a ficar ainda melhor com o passar do tempo e a chegada de tecnologias como a Inteligência Artificial – é preciso considerar que ele ajudará na questão da cracolândia, mas não resolverá. A grande e única solução para resolver o problema da cracolândia está em internar e tratar essas pobres vítimas em vez de deixá-las à mercê do vício. E quem tem credenciais e competência técnica e até jurídica para internar é somente o médico especialista, que o Estado (e a Prefeitura) precisam disponibilizar. Sem resolver a carência e a saúde do viciado, ele continuará permanentemente dependente do traficante e toda vez que ocorrer repressão ao tráfico, a atividade apenas mudará de lugar. Não basta reprimir o traficante porque quem o procura é o viciado. Por isso, é preciso tratar o dependente químico e apoiá-lo para que não volte a ser cliente desse criminoso mercado…

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Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves, dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo; [email protected]

 

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