Névoa cerebral e distúrbios respiratórios em Convid-19

Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho

 

Uma das manifestações mais incompreendidas da covid-19, a chamada “névoa cerebral”, refere-se a uma série de sintomas neurológicos como sensação de lentidão, dificuldade de pensar ou de se concentrar, confusão e esquecimento, além de dores de cabeça, que podem se manter por meses – ou mesmo anos – depois da infecção. Entre as hipóteses apontadas recentemente para isso está a de que o SARS-CoV-2 é capaz de causar a fusão de células, interrompendo a comunicação entre elas.

Estudo publicado na revista Science, conduzido por neurocientistas da Universidade de Queensland, Austrália, identificou que, ao modificar geneticamente duas populações de neurônios de camundongos em uma placa de vidro, as duas se incorporaram quando foi adicionado o coronavírus.

A chave parece ser a enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2), proteína expressa na superfície das células de mamíferos, a qual o SARS-CoV-2 usa como alvo. Para entrar no organismo, o vírus usa a proteína Spike para se ligar à ACE2, fazendo com que se vincule a uma célula e libere seu material genético no interior. Quando o grupo de cientistas projetou neurônios para expressarem a proteína Spike, apenas as células que também continham ACE2 conseguiram se fundir umas com as outras.

Já havia sido observado que o SARS-CoV-2 poderia causar a junção de certas células. Em muitos pacientes que morreram de covid-19, os pulmões se apresentaram crivados por grandes estruturas multicelulares chamadas sincícios, que, acredita-se, podem contribuir para os sintomas respiratórios da doença. Da mesma maneira que outros vírus, o da covid-19 pode estimular a fusão das células como forma de permitir que se espalhe por um órgão. Apesar de promissoras em laboratório, ainda não se sabe se tais descobertas se manterão nos cérebros de animais infectados pelo coronavírus e, muito menos, nos de seres humanos.

Conforme outro estudo sobre sintomas de longo prazo da covid-19, divulgado pelo Jama Network, quase metade dos pacientes relata memória fraca ou névoa cerebral.

E isso não afeta apenas quem teve as formas mais graves da doença: mesmo não sendo tão frequentes, tais sintomas podem acometer qualquer pessoa que tenha sido infectada, mesmo vacinada.

Pacientes que tiveram Covid -19 e apresentam-se ainda com sintomas respiratórios e neurológicos necessitam de tratamento específico.

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Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho, médico especialista em pneumologia e terapia intensiva

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