João Salvador
O confronto bélico entre Rússia e Ucrânia, iniciado em 24 de fevereiro de 2022, e que se arrasta até o momento, sem um promissor consenso entre os dois países, não somente vem trazendo um desdobramento trágico para civis e militares de ambos os países, como também para a economia mundial.
Como resultado, o mundo deverá sofrer com uma grave falta de milho. A Ucrânia é considerada uma das maiores produtoras de milho do planeta, respondendo por 16% da produção mundial, mas já tem uma previsão de quedas expressivas na lavoura, desde que a guerra começou, estimando-se que na safra 2022/23, Kiev perderá 40% da colheita. A Ucrânia sofre com os ataques em áreas agrícolas, ficou sem mão de obra no campo e, ainda, impedida de trafegar no Mar Negro.
Para piorar, a Argentina, outro grande produtor global, sofre com secas, o que deve determinar uma redução de 40% na produção. Os Estados Unidos, maior produtor deste grão, também enfrentam fortes períodos de estiagem em algumas regiões, que poderá afetar, inclusive, a produção do etanol de milho.
O Brasil, o terceiro maior produtor, embora se espere uma ótima produção, no entanto, não será capaz de atender à demanda mundial. Diante do acordo do Mar Negro entre Rússia e Ucrânia, já havia sido estimada uma redução no patamar de 20% no preço do milho, porém, agora, com o rompimento do acordo, associando-se aos problemas climáticos nos países chaves, a contínua demanda pode levar a um forte aumento no preço, podendo arrastar o preço do produto a granel, e, consequente, dos alimentos derivados. A produção do etanol brasileiro de milho, que representa 15% do total do etanol produzido no pais, não deverá ser prejudicada.
Agora, o governo indiano, na tentativa de conter a inflação do país, em uma manobra arriscada e desesperada, parece decidir não exportar o arroz e abastecer somente o mercado interno e barrar a disparada nos valores dos grãos dessa gramínea. A Índia é o segundo maior produtor de arroz do mundo.
“Por fim, vem o trigo que — em razão do fim do acordo do Mar Negro, entre Rússia e Ucrânia, grandes exportadores — o preço disparou, reajustado em mais de 10%. Por ser um cereal componente essencial de vários alimentos, corre-se o risco de pagar mais por seus derivados. Portanto, devemos aguardar para ver qual será a reação do mercado, neste momento de muita incerteza. O mais provável é a ração alimentar se tornar mais cara, para bocas e bicos”.
_____
João Salvador é biólogo