Columbine(s)

Camilo Irineu Quartarollo

 

Logo de manhã em Colorado, ouvem-se tiros na Columbine High School. Desespero das crianças em busca de refúgio na biblioteca, sob as mesas e longe das janelas estilhaçadas. Corpos, choro e sangue pelos corredores. Em suas casas as mães temem pelas suas crianças e rezam aflitas. Entretanto, uma mãe rezava para que: “… meu filho morra antes que mate mais alguém”. Treze alvejados e mortos pelos meninos Eric Harris e Dylan Klebold.

Columbine, livro de Dave Cullen, cita evidências de que Eric reverenciava os nazistas. Seu diário traz a concepção de Seleção natural e seu viés antissocial, de que gostaria de colocar todo mundo num jogo denominado Doom (um jogo de tiro). De ver os fracos morrerem e os fortes viverem. Estava ansioso pelo dia do massacre, com todo o seu ódio reprimido contra a humanidade e, Dylan, o outro atirador, escreve que são “semelhantes a Deus” e mais evoluídos que qualquer outro ser humano. No dia 20 de abril de 1999, da matança, Eric usou uma camiseta com as palavras “Seleção Natural”.

Em dezembro de 1998, os dois estudantes gravam Hitmen for Hire, um vídeo para um projeto da escola. Mostram no vídeo o que fariam um ano mais tarde, numa performance de Assassinos de Aluguel, com muito xingamentos, gritos e declarações violentas.

Após o massacre, os pais e vizinhos das vítimas de Columbine fazem manifestações pacifistas pela cidade. São contra as armas nas mãos de meninos e observam que estas não são de caçador, para matar alces, mas de matar gente. Entretanto, o mercado de armas é muito forte e influente nos Estados Unidos.

No Brasil já violento, o bolsonarismo reforçou o pior da cultura americana, o culto às armas. O ex-presidente Bolsonaro chega a afirmar que “Jesus não comprou uma pistola porque não tinha naquela época”. Não sei de onde é que ele tirou esse Jesus fake, que precisaria de pistola! Jesus tinha autoridade moral para enfrentar o adverso, cear em Jerusalém nas barbas dos seus perseguidores e entregar-se sem fugir, recusando-se ao uso da espada ou, se houvesse, de pistola.

No Brasil, são notórios os casos como os de um morador alvejado “por engano” na portaria de seu condomínio, sob a alegação de que foi confundido com assaltante ao pegar as chaves na bolsa. Outros foram atingidos “por engano”, confundiram-se vassoura ou furadeira com armas inimigas. São numerosas as ocorrências desses “enganos” de algum atirador sanguinário.

Depois do massacre em uma escola do Texas e forte pressão dos pais, em 2022, Biden assinou restrição de armas para jovens com antecedentes criminais, doenças mentais ou violência doméstica. Columbine não é fato isolado, muitas outras escolas sofrem ataques semelhantes e mortais, inclusive no Brasil.

Recentemente, o governo Lula assinou decreto para controle de armas, munições e clubes de tiro, mas a oposição e bancada da bala querem derrubar o decreto…

 

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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, ensaísta, autor de crônicas, historietas, artigos e livros

 

 

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