Tecnologia “do além”

Ari Junior

 

Quando eu era garoto, costumava assistir um desenho animado de nome “Os Jetsons”. Uma família até aí bem comum, mas que moravam no espaço sideral, coisa já nada comum, e por isso usufruíam de benesses que na época a gente pensava que, se um dia existissem, seria só a partir do ano de 2500. Estou falando de teleconferências, robôs que fazem serviços braçais que antes fazíamos, comunicação por telefones sem fio, voar em naves e controlar as coisas por comando de voz, só para citar algumas. Se eu, que vi Os Jetsons em meados dos anos 1980, achava aquilo tudo fruto duma mente futurista e muito à frente da nossa, imagino como tenha sido para quem os lançou, os executivos da Hanna-Barbera, nos idos anos de 1962 e 1963. Um mergulho numa viagem desconhecida.

Hoje, todas essas invenções mirabolantes que víamos lá nos episódios fazem parte do nosso cotidiano. A cada ano a tecnologia supera a si mesma e um celular, por exemplo, que você, leitor, tenha por 03 anos já é uma verdadeira relíquia se comparados aos modelos atuais da mesma marca. A informação é jogada sobre nós como uma avalanche, e as facilidades do dia a dia são questionadas em até que ponto elas realmente nos beneficiam ou nos prejudicam.

Na rabeira dessas argumentações, aconteceu algo inusitado nesta semana. Uma montadora de veículos fez um comercial dos seus produtos usando Elis Regina e sua filha, Maria Rita, fazendo um dueto de uma de suas músicas gravadas, cada uma a bordo de um carro dessa montadora. Até aí, normal, não fosse pelo fato de Elis ter morrido no início de 1982, nunca ter gravado essa música cantando com ninguém, e sua participação no clipe ter sido possível apenas com o uso da I.A. (Inteligência Artificial), usando suas fotos num aplicativo específico. E aí? Pode ou não pode? Para não me delongar muito no fato em si, a coisa foi parar no CONAR (Conselho Nacional Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária), que julgará posteriormente até que ponto isso fere alguma lei Constitucional, ou mesmo alguma regra implícita da propaganda. Até aí, só aguardar.

Mas, o que eu quero mesmo é instigar nossa capacidade de reflexão. A família de Elis já disse que, da parte deles está tudo bem. Inclusive tiveram a intenção de que novas gerações também vissem a Maiúscula artista que foi Elis (sim, já conversei com jovens que não sabem de quem estamos falando, o que é um crime para as artes). Já a Madonna, que passou por um período de grave enfermidade a pouco tempo, deixou muito clara sua vontade de que NÃO se explore sua imagem após a morte com a I.A. e nem com Hologramas. Quem está certo? Quem tem razão? Você se importaria da sua imagem ser usada após sua ida deste plano, sem sua supervisão e a revelia de seu controle? Antes de dizer não, reflita: mesmo sendo você alguém atuante seja na área qual for da sua comunidade, onde a continuidade da sua influência pudesse ter efeito benéfico sobre outros? Será que realmente chegaremos a esse patamar de desenvolvimento?

Eu já vi coisas que achávamos impossíveis de acontecer e que hoje são comuns, tal como os exemplos que citei da parafernália que fazia parte do cotidiano de George Jetson e sua família de comercial de margarina. Também já vi coisas que foram alardeadas aos quatro cantos do planeta e que não são, pelo menos até agora, realidades, como a clonagem humana ou a ocupação de outros planetas do nosso Sistema Solar. Se isso vai acontecer no futuro, e se esse futuro é daqui dez ou cem anos, não sabemos precisar hoje. Se esse futuro chegar logo, quero registrar minhas impressões tal qual fiz agora. Se for a longo prazo, quem sabe alguém dos meus use a I.A. para que eu continue dando pitaco em coisas que nunca entendi, nem vivo, nem depois de morto…

 

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Ari Junior, comprador em construtora e escritor

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