#FALAPAULOSOARES – Tuberculose hepática: ‘é rara, mas acontece’

Neste mês, temos o desafio de tratar das hepatites virais, por conta da campanha Julho Amarelo. Nesta mais de uma década que atuo em uma entidade que trabalha na prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) – o que envolve inúmeros tipos e variações de doenças –, acabei vendo coisas que, eu diria, “não são habituais” para quem está fora deste circuito da prevenção e do atendimento médico. Uma destas é a tuberculose hepática (ou simplesmente tuberculose no fígado).

Mesmo sendo rara, e com pouca literatura médica em torno dela, a tuberculose hepática apresenta algumas características que, muitas vezes, também podem esconder algum outro tipo de tumor, confundindo os diagnósticos. Por isso, a minha preocupação em trazer um pouco das características desta doença.

Um estudo desenvolvido na Universidade Estadual de Pelotas, no Rio Grande do Sul, os pesquisadores apontam que isolada, a tuberculose é uma manifestação rara da infecção pelo Mycobacterium tuberculosis (ou simplesmente Bacilo de Koch, principal agente causador da tuberculose). “O bacilo atinge o figado por disseminação hematogênica”, apontam os cientistas, ou seja, tentando fazer um resumo, é levada ao órgão pelo sangue.

Eles pontuam, ainda: “acredita-se que neste caso a porta de entrada seja a veia porta, sendo que a raridade desta apresentação parece ser devido a relativa baixa pressão de

oxigênio no tecido deste órgão. O achado das lesões no fígado, relacionadas a esta patologia, são de difícil diagnóstico, podendo comumente ser confundidas com carcinoma primário ou metastático, além de abscessos bacterianos e amebianos.”

Em um relato de caso, os cientistas destacam que uma paciente feminina, de 82 anos, que era hipertensa e sem outras comorbidades, apresentava queixa de dor epigástrica (a popularmente conhecida “dor na boca do estômago) há seis meses, com pouca resposta ao uso de inibidores de bomba de prótons (remédios como o popular omeprazol).

Neste estudo de caso, foi realizada ecografia abdominal em uma revisão clínica com achado acidental de múltiplos nódulos hepáticos. E ainda realizadas tomografia e ressonância magnética de abdome ambas sugestivas de neoplasia metastática. Indicado a realização de biópsia guiada por ecografia, foi diagnosticada a tuberculose hepática.

Ainda neste mesmo estudo, foi também realizado rastreio (screening) em busca de manifestações da doença em outras partes do corpo, sendo a pesquisa negativa. Iniciado tratamento com tuberculostáticos, acabou obtida melhora sintomática após um mês. No seguimento, realizado controle tomográfico aos seis meses, ficou evidenciada a redução das lesões e, portanto, mantido o tratamento por nove meses.

O caso relatado e as publicações levantadas trazem à tona a discussão do diagnóstico de tuberculose hepática isolada, que se torna uma situação complexa devido à semelhança com o quadro de metástase hepática. No mesmo estudo, os pesquisadores ressaltam a importância da complementação da investigação com biópsia que possibilitou o tratamento específico da patologia e cura conforme constatada em anátomo patológico.

Vale acrescentar, ainda, que existem dois tipos de apresentações de Tuberculose hepática: a miliar hepática (presente em 80% dos quadros) e a hepática isolada. Também é importante ficar atento aos sintomas de tuberculose hepática: 1) hepatomegalia (aumento do tamanho do fígado); dor abdominal; febre; cansaço; falta de ar; perda de peso; esplenomegalia (aumento do tamanho do baço); ascite (liquido abdominal); e icterícia (coloração amarelada da pele e olhos).

 

Paulo Soares, presidente do Caphiv (Centro de Apoio ao HIV/Aids, Sífilis e Heptatites Virais).

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