Zé Celso, o “Rei da Vela”

Ari Ozorio Alves Junior

 

José Celso Martinez Correia, ou simplesmente Zé Celso, nos deixou dia 06 passado dessa vida terrena. Apenas isso se foi, seu corpo físico. Sua obra, sua memória, seus ensinamentos e legado persistirão por aqui enquanto houver uma companhia de teatro, um grupo encenando uma peça, um espetáculo no Brasil.

Dizem os críticos e autoridades no assunto ter sido ele um dos maiores representantes do nosso país na “contracultura”. Mas, por que, contracultura? Não é esta também “cultura”? Só por que não está se enquadrando na definição, criada ou importada sabe-se lá por quem, de cultura, deixaria esta de sê-la? Pelo contrário. Antes, ele foi bastião dum movimento que levou montagens talvez ininteligíveis ao chamado ‘público leigo’ de obras que, caso ele não tivesse feito, ficariam relegadas ao mais sepulcral desconhecimento. Pois seu ímpeto em não desistir de sua vocação, mesmo custando-lhe lágrimas e sangue, permitiu-nos hoje entender que a rebeldia e o inconformismo, que nem sempre são aspectos negativos, podem abrir-nos portas que de outra forma ficariam permanentemente               fechadas aos nossos olhos.

No âmbito de sua vida pessoal, também, foi na direção oposta dos que tentam escondê-la e preservá-la a todo custo. Entendia que era público, e como tal, suas nuances de vida poderiam influenciar outros. Mesmo com a humildade e receptividade que lhe eram características, parecia saber da dimensão do homem e do mito que era, e isso absolutamente o aborrecia ou amedrontava. intenso como em tudo, assim o era também nos amores, nas paixões e na sexualidade.

Quem tem qualquer ligação com as artes sabe bem o tamanho dessa perda no plano da existência terrestre, mas também sabe a eternidade da obra solidamente construída por esse ícone cultural do nosso Brasil. Quem é mero espectador e apreciador destas mesmas artes, categoria a qual pertenço, num grau maior ou menor, também se dá conta da dimensão da hercúlea que Zé Celso representou fisicamente e ainda representará com sua influência nas artes, principalmente teatrais, desse nosso país. É fato que a ausencia fisica dele a partir de agora será profundamente sentida por todos nós, e ao vê-lo nas telas de programas de entrevistas que serão reprisados, nos recortes de filmagens de apresentações de suas peças, com seu sorriso inconfundível e acolhedor, nos baterá a saudade e chegará a constatação da perda. É natural no ser humano. Mas, certamente também aflorará o orgulho de termos sido contemporâneos desse ser humano especial e tão rico, que ousou doar tanto de si para que a causa da arte, sem a qual a vida seria ainda mais dura, não esmorecesse jamais.

A chama física do “Rei da Vela” da nossa geração pode ter se apagado, mas sua luz brilhará sempre mais e mais. Vá em paz, Zé Celso.

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Ari Ozorio Alves Junior, cronista

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