Celso Gagliardo
Sempre fui muito ligado e interessado por jornal, notícias, artigos de opinião e até opinião dos leitores. Desde menino, quando compunha as matrizes tipográficas para a impressão de periódicos em Santa Bárbara, e até me transformei em redator quando não existiam faculdades de Jornalismo.
Outro dia pensei mal sobre o entregador do tradicional jornal O Liberal de Americana, pois fui na caixa de correio e não havia jornal. E ele sempre faz boa entrega. Depois, no café, recordei que O Liberal não mais será impresso, em papel, às quartas e sextas feiras.
Tenho a facilidade de ser usuário razoável de informática, domino as ferramentas básicas e posso ler as versões digitais. Mas como muitos da idade madura, não gosto. Prefiro o papel com sua mobilidade, com o cheiro da tinta, com sua aparente – ilusão? – maior credibilidade. Mas quantos não conseguem utilizar nem um celular e ficarão sem acesso ao jornal? Infelizmente, serão esses os novos analfabetos da era digital.
Os jornais impressos vão se acabar? Difícil sabermos. Mas a revolução digital impactou fortemente as comunicações, impondo novos modelos e plataformas que deixam a confecção gráfica no chinelo em termos de agilidade e custos, principalmente. Parece uma bobagem, mas a caixa de correio vazia de manhãzinha me trouxe um aceno nostálgico, um pensar nas mudanças e seus impactos nos costumes, na quebra de paradigmas, um quê de – para onde vamos?
Falei com um amigo conterrâneo, o Marcel Cheida, professor de Jornalismo na PUC Campinas. E ele considerou: “Muita coisa está mudando radicalmente com a comunicação digital. Em todas as áreas. O impresso, no Brasil, registra brutal queda de circulação. As mídias digitais ajudam a sufocar os jornais impressos, mas provocam outro fenômeno mais grave: a queda da leitura, que se tornou algo superficial, fragmentado, fugaz. O brasileiro não tem a tradição da leitura. E lê menos ainda. Ler como um comportamento rotineiro, com concentração necessária à interpretação adequada. Os recursos digitais contribuem para isso, pois têm uma natureza dispersiva.”
Marcel fez um recorte e focalizou um aspecto importante. Com o fenômeno da era digital poderemos ter uma menor massa de leitores ainda, empobrecendo a formação de nossos jovens, o debate produtivo e a cultura geral pois a leitura digital favorece à maior superficialidade, à leitura rápida de pouca absorção.
Todavia, o velho escriba aqui precisa se recolher à sua insignificância e entender que o mundo gira, a tecnologia traz mudanças inevitáveis, e por papel ou telinhas e monitores vamos continuar a ver o mundo, a opinião das pessoas, o pulsar da vida, com seus avanços e percalços. Inexoravelmente!
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Celso Luís Gagliardo, jornalista, formado em Direito, ex-Gerente e Consultor de Recursos Humanos de grandes e médias empresas