Deputado Vicentinho
O governo Lula completou seis meses e trouxe inúmeros avanços nas mais diversas áreas, seja na economia, na diplomacia, nas relações institucionais, no sentimento da população, porém, sobretudo no resgate da humanidade e civilidade do país enquanto nação. Lula trouxe de volta credibilidade, previsibilidade e a estabilidade de um Brasil que estava descreditado, incerto e instável, por conta de uma gestão cruel, desumana e fracassada. Um pesadelo que durou quatro anos e finalmente terminou em dezembro passado.
Seria fácil e tentador creditar tão somente o fracasso do desgoverno Bolsonaro ao seu time incapaz e sombrio de ministros. Figuras pitorescas e cruéis como Eduardo “Um manda, outro obedece”, Pazuello, Ricardo “Passar a boiada” Salles, Paulo “Não se assustem se alguém pedir o AI-5” Guedes, entre outros nomes tenebrosos que prejudicaram muito a imagem do Brasil e a vida dos brasileiros, como Ernesto Araújo, Damares Alves, e mais alguns. Mas é preciso ir além e lembrar que diversas atrocidades cometidas pela gestão do atraso foram avalizadas pela maioria dos parlamentares da última legislatura.
É necessário, portanto, fazer a reflexão: a quem o nosso Parlamento tem defendido, aos interesses da população que o elegeu, ou aos seus próprios? Muitos políticos demagogos e descompromissados com a realidade da população brasileira têm conseguido se eleger, gerando uma composição cada vez mais conservadora no Congresso Nacional. Isso tem refletido em inúmeras derrotas para a classe trabalhadora, dentre as quais destaco principalmente a “Deforma Trabalhista” e a “Deforma da Previdência”. Privatizações de companhias estatais estratégicas, como a Eletrobrás, também foram aprovadas pelos parlamentares.
Ao superar Bolsonaro, impondo uma inédita derrota a um presidente que buscava a reeleição e que, desesperado pela iminente derrota, recorreu a todo tipo de abuso financeiro às vésperas do pleito, a população brasileira deixou claro que não compactuava com o nefasto projeto de poder do bolsonarismo. O Brasil demonstrou que quer um caminho diferente e escolheu Lula para liderá-lo. É, por conseguinte, necessário que a Câmara dos Deputados, a Casa do Povo, ouça a mensagem das urnas sob pena de ignorar o anseio popular e se ausentar da responsabilidade histórica que lhe está posta.
A configuração institucional da democracia brasileira impõe à Presidência da República que estabeleça um diálogo permanente com o Congresso Nacional, cuja composição da maioria muitas vezes pode ser ideologicamente distinta do governo. As diferenças são salutares em uma democracia, e o estabelecimento de negociações de natureza republicana é saudável para o exercício da governança. O que não cabe ao Parlamento é confundir acordos com conchavos e muito menos tentar encurralar o governo guiado por interesses que ferem o princípio das boas relações entre os poderes, como a autonomia e a harmonia.
Para fazer política é necessário um esforço muitas vezes hercúleo para olhar além das ideologias, cujas discussões muitas vezes recaem sobre pautas subjetivas e pouco concretas, onde os afetos e as inseguranças da população são manipulados por alguns políticos hipócritas e demagogos, que não tem o menor compromisso social e humanitário com a sociedade brasileira e usam artifícios discursivos para desviar a atenção para discussões intermináveis. Convidamos então o nosso povo a acompanhar atentamente aos debates parlamentares e cobrar coerência com a votação de projetos de interesses nacionais e da classe trabalhadora. Quando um parlamentar vota com a intenção de macular o governo, está prejudicando a si mesmo e, principalmente, ao país.
______
Vicentinho, Deputado Federal e Professor de Direito.