Um passeio no Mercado Municipal

Walter Naime

O coração do comércio na área central de Piracicaba foi historicamente formado pelo Mercado Municipal e o quadrilátero de ruas entorno.

A praça que hoje serve de local de estacionamento foi inicialmente uma feira livre, ocupada por carrocinhas de cavalos e barracas de produtos. Havia até um bebedouro de água para os animais. Era um lugar público, de encontro de gentes, palco também dos grandes comícios políticos da época.

Por aquele pedaço de chão passaram muitos nomes de famílias pioneiras do comércio na cidade e que permanecem na nossa memória.

Os Caxambu, Ubice; Zeffa; Usberti; Libardi; Eldio Basso; Magro; Rozada; Spironelo, Pavanelli; Ferrante; Rodrigues Machado; Lopes; Valério; Brancalion; Pachiani; Saito; Mori; Verrengia; Caetano; Zucarrelli; Campos (Zezo); Sepulveda; Machado Lopes; Oliveira; Silva; Carboni; Sturion; Jurado; Bonato; Pandolfi; Nunes; Franzini; Garcia Prieto; Chinelato; Gricolato Wolf; Furlan; Canale Bellini; Pereira Costa; Rosas e muitas outras famílias de empreendedores que semearam e colheram ali o fruto de seu trabalho.

Que beleza é o Mercadão! Um ambiente onde fervilham em exposição produtos arrumados e limpos, em um arco-íris de cores que vão do vermelho da melancia ao branco das orquídeas. Os aromas contrastantes que emanam dos corredores, doces de abobora e paçoca de amendoim; falas que vão do poético galanteio até o palavrão do papagaio; fofocas que vão do falar dos grandes bumbuns ao barrigudo tomador de cerveja; os encontros elegantes dos jovens e os desencontros dos casais; o cruzar dos conhecidos com os desconhecidos; os odores das flores e frutos e o mau cheiro do banheiro; o mal trajar dos pobres, o bem trajar dos ricos; as cores de peles negra, branca, amarela ou avermelhada, resultando no encontro pacífico de todas as raças brasileiras, os que tem dinheiro, os pedintes; os políticos, os eleitores…

Ali você recebe e transmite conhecimentos de geografia, história, matemática, línguas, filosofia, comunicação, administração, relações humanas e muitos outros saberes. Isso acontece ao perguntar pela origem de um produto, pois nessa troca de palavras você fica sabendo que a melancia pode vir de Goiás ou Rio Grande do Sul, o abacaxi é mais ou menos doce quando é de Bauru, de Minas ou da Bahia. O queijo pode vir de Minas ou Rio Grande do Sul, um mais gostoso, outro menos. O mel de laranja ou eucalipto pode vir de pomares ou de reserva florestal, todos vêm daqui ou de lá.

Ao discutir os preços você exercita a matemática. Ao pechinchar ou achar caro revive o costume ancestral de negociar dos fenícios. No conversar encontra vestígios das línguas italianas, japonesa, árabe ou idiomas regionais brasileiros. Ali você aprende a arrumar as coisas em lugares para acomodar e transportar sem estragá-las.

Uma história centenária como a do Mercadão de Piracicaba cabe em muitos livros, mas você pode prová-la em um simples passeio no domingo de manhã, no sabor de um pastel ou na ardência de uma pimenta fresca mordida na banca de ervas e temperos. Tal como em suas origens, o Mercado Municipal continua a proporcionar o encontro efusivo de gentes e da amizade. Não há preço que pague assistir e participar desse fenômeno de alegria. Não perca!

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Walter Naime, arquiteto, urbanista e empresário

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