Junho de 2013, dez anos depois

Caio Bruno

 

 

No Brasil de junho de 2013 tudo caminhava na mais perfeita normalidade política. A presidente Dilma Rousseff (PT) entrava em seu terceiro ano de mandato com alta popularidade, a economia dava alguns sinais de esgotamento, mas ainda estava em crescimento e o país se preparava para a Copa das Confederações e a Copa do Mundo realizada no ano seguinte.

Foi quando em São Paulo, governada por um recém-empossado prefeito Fernando Haddad (PT), explodiram as manifestações contra o aumento de 20 centavos na tarifa do transporte público. A cidade entrou em polvorosa e em poucos dias a onda de protestos tomou conta do Brasil até chegar na famosa cena da invasão da cúpula do Congresso Nacional em Brasília. Não havia mais pauta. Era contra tudo e contra todos. Espaço aberto para a negação da política e quando isso ocorre sempre mora o perigo.

Criada por uma esquerda ingênua (já que tinham na mão a presidência e a capital mais importante do país) e capturada estrategicamente pela direita poucos dias depois, as chamadas jornadas de junho de 2013 chegam aos 10 anos com um grande saldo negativo para o país.

Elas marcam o começo do período em que a Nova República balançou e quase ruiu. Além de antessala dos protestos de rua de 2015-2016 que culminaram no Impeachment de Dilma, veio também em sua esteira a criação e a hipertrofia da Operação Lava Jato (2014-2019), a prisão de Lula (2018), a eleição de Jair Bolsonaro (2018) e com ele o crescimento da extrema direita e o achincalhe diário da democracia em seu governo (2019-2022).

O canto do cisne de junho de 2013 veio em 8 de janeiro de 2023, quando golpistas invadiram e depredaram a Praça dos 3 Poderes na capital federal em uma clara tentativa de Golpe de Estado contra o 3º. Governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Não há o que celebrar sobre as manifestações de junho de 2013. Parafraseando o que se dizia na época, o gigante acordou, tomou um pileque antidemocrático e vaga por aí cambaleando e tentando se recuperar da ressaca e voltar pros trilhos.

Mas é preciso sempre lembrarmos, estudarmos, debatermos e refletirmos sobre aquele movimento que gera até hoje sentimentos antagônicos e dúvidas se foi realmente espontâneo ou não e se valeu a pena ou não.  O fato é que ele foi um ponto fora da curva em um país cuja população historicamente quase nunca participa das grandes decisões. E quando participa, para o bem e para o mal, dá no que dá.

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Caio Bruno, jornalista com especialização em Marketing Político (e-mail: [email protected])

 

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