As ciladas do GPT

Camilo Irineu Quartarollo

 

As pessoas acabam desenvolvendo relações afetivas com a máquina, como ao celular e aplicativos, submetem-se e deixam de questionar. Assim foi com a Eliza, o primeiro software de robôs de conversação, e agora com o chat GPT, o qual alguns o querem como pretensa solução ao “português ruim”.

Nestas solidões de mundos vislumbramo-nos em outros eus, mas quem são? O livro Eu, robô – de Isaac Asimov, marca bem essa coisa da consciência do eu em uma máquina feita pelo humano.

O GPT é aplicação lógica dos cruzamentos de dados disponíveis na Internet, não sobre as infindáveis percepções humanas vivas. Relaciona respostas pretéritas, não cogita todas as possibilidades dinâmicas dos tantos eus anônimos, mas de máquina.

Num texto o tal aplicativo diz que se uma mesa é mais larga que a porta a “única” opção de se retirar o móvel é cortar a mesa. Copiou mal, pois ainda ninguém escrevera que você pode inclinar a mesa e passar pelo vão da porta e o algoritmo não captou isso. Na prática, até um macaco retiraria uma mesa de uma sala por inclinação do móvel. É preciso ser crítico para usar bem o GPT e fazer deste uma ferramenta de uso, porém não para substituir o velho e bom cérebro criativo.

O diretor presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, Demi Getschk, fez testes com o Chat GPT e fez a seguinte pergunta. Se a mãe de Teresa tem quatro filhos, Mário, João e Alberto, qual é o nome do quarto filho faltante? O GPT não soube responder que o filho, no caso filha, era a Teresa mesma. O estudioso perguntou ainda ao aplicativo e o pegou em outro erro. Quem tem o ovo maior, a galinha ou a vaca? O GPT respondeu que era a vaca.

Por outro lado, os algoritmos que se querem aplicar e aperfeiçoar pelo GPT é usado com sucesso na medicina, em precisões cirúrgicas, pois de exatidão matemática, processam rapidamente muitíssimos cálculos. Entretanto, na literatura, apesar da lógica textual, e coerência das frases e pontuações, e de contemplar uma lógica, não é a lógica matemática.

O GPT é uma boa ferramenta, mas não substitui decisões e responsabilidades humanas em decidir quais caminhos ou abordagens frente aos problemas cotidianos, como num texto, se o quiser original. A literatura não é somente o texto, mas também o contexto e o impronunciável cujos liames são os da Gestalt.

Nicolelis diz que o chat GPT é uma emulação do comportamento humano, desenvolvido e que o uso cada vez maior vai aperfeiçoar os dados, contudo a resposta é versão única do algoritmo, excluindo possibilidades – o aplicativo escolhe, dita “a melhor” abordagem, a ditadura da máquina.

Mesmo sofisticado tecnicamente na análise de dados, não conseguiu prever a quebra dos bancos americanos Silicon Valley e Signature Bank. Para Nicolelis, o verdadeiro criador de tudo é o cérebro humano, se o GPT fosse tão inteligente, seus usuários estariam ganhando milhões na bolsa de valores.

 

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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, ensaísta, autor de crônicas, historietas, artigos e livros

 

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