Cigarro eletrônico – Nicotina equivale a fumar 20 cigarros convencionais por dia

Cardiologistas alertam sobre os riscos dos vapes em campanha pelo Dia Mundial sem Tabaco (31 de maio) e debatem o tema

 

Estima-se que um em cada cinco brasileiros entre 18 e 24 anos já tenha fumado cigarro eletrônico – ou vape – pelo menos uma vez. E os riscos são enormes. O estudo ‘Estratégias de Tratamento da Dependência à Nicotina em Usuários de Cigarro Eletrônico – uma série de casos’ comprovou que a quantidade de nicotina encontrada no organismo de adeptos ao cigarro eletrônico corresponde a fumar mais de 20 cigarros convencionais por dia. O trabalho será apresentado, pela primeira vez, no 43º Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, nos dias 8, 9 e 10 de junho, no Transamérica Expo Center, em São Paulo.

A pesquisa, realizada entre maio e dezembro de 2022 e que acaba de ser tabulada, incluiu pessoas com idade entre 14 e 49 anos, homens na maioria, que procuraram por tratamento de dependência à nicotina no Programa Ambulatorial de Tratamento do Tabagismo, do Instituto do Coração. Os dados deste serviço são utilizados pelo Programa de Assistência ao Fumante (PAF), um sistema consolidado de informações médicas utilizado no combate a este mal.

“Quase a totalidade dos participantes buscaram o serviço por concluírem que estavam viciados no dispositivo e que não conseguiriam parar o consumo por conta própria”, conta a especialista em tratamento do tabagismo e assessora científica da SOCESP, Jaqueline Scholz. Ela explica que os exames de urina deles detectaram concentração de nicotina metabolizada em medidas acima de 600 ng/ml. “Os achados de monóxido de carbono foram de 2 ppm (partículas por milhão) em todos, o que evidencia o não uso do cigarro convencional pelo grupo, deixando claro que a nicotina encontrada na urina dos pesquisados só poderia derivar do eletrônico”.

Apesar da comercialização no Brasil ser proibida, o número de usuários de cigarro eletrônico continua crescendo. Estima-se que um em cada cinco brasileiros entre 18 e 24 anos já tenha fumado pelo menos uma vez. “A consequência é o aumento da procura para se livrar da compulsão. O cigarro eletrônico é defendido como mais seguro para a saúde – sobretudo na população jovem – e o risco de dependência é ignorado. Além disso, os fumantes de cigarro convencional que migram para o eletrônico acreditam no bônus da substituição. Mas isso não é verdade. Os vapes podem viciar em menos tempo que o cigarro comum”, revela a cardiologista.

A nicotina libera adrenalina, que acelera o coração, aumenta o consumo de oxigênio e a pressão arterial e produz danos nas paredes das artérias, favorecendo aterosclerose, circunstâncias que podem levar ao infarto e à morte súbita. “Os eletrônicos emitem mais nanopartículas que os cigarros convencionais. Estas partículas ultrafinas (100 nanômetros) são responsáveis pela asma e por agravos ao endotélio, corroborando para o infarto e o AVC. Alguns modelos, inclusive, funcionam com o “sal de nicotina (pods), que produz dependência mais rápida que o cigarro convencional. Ao ser inalada, ela estimula a liberação de neurotransmissores como a dopamina, responsável pela sensação de prazer, bem-estar e relaxamento, fartos motivadores para que o produto seja consumido mais e mais vezes”, acrescenta Jaqueline.

Em virtude do Dia Mundial sem Tabaco, celebrado em 31 de maio, a SOCESP alerta sobre os males do tabagismo com posts nas mídias sociais, exibição de entrevistas no canal do YouTube e informações disponibilizadas no site da entidade. “Estudos comprovam que os mesmos métodos já testados e aprovados para extinguir o vício do cigarro convencional também são efetivos para controlar o ímpeto do vape, como adesivo e pastilha de nicotina, bupropiona e (ou) vareniclina. Procure um médico para se livrar deste mal. E quem não experimentou, não caia nesta armadilha”, convoca a assessora científica da SOCESP, Jaqueline Scholz.

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