O Brasil, a Rússia e a Ucrânia

Dirceu Cardoso Gonçalves

Faz bem o presidente Lula, não se metendo com a guerra Rússia-Ucrânia. Primeiro porque a sua palavra e, consequentemente, a do Brasil, pouco ou nada influenciariam nos destinos do conflito. Pelo contrário, além de não produzir resultados, poderão prejudicar nossas relações com os contendores. Na crise alavancada pela luta, boa parte dos combustíveis que a Rússia deixa de entregar à Europa vem para o Brasil e pode estar ajudando na política de redução de preços da Petrobras. O presidente, na verdade, nem deveria ter falado sobre o assunto, ainda que, recentemente, o tenha feito em tese. Como se diz popularmente, essa é uma briga de cachorro grande (Otan, União Européía e países ricos e armados) que não temos forças para competir ou enfrentar.
Evidente que as potências envolvidas na divergência querem as presenças do Brasil e de outros países como elemento de desequilíbrio da balança entre os contendores. Mas, cabe aos dirigentes e principalmente aos responsáveis da política externa das nações definir o que é melhor e, manter-se distante se não tiverem boa contribuição a oferecer. Se alguém pensa que o presidente brasileiro ficará bem no retrato dando palpites e clamando pela paz sem ter as bases de um bom acordo, é preciso considerar que, ao contrário, poderá ter sua imagem desgastada, o que não é bom para nós.
Tradicionalmente, o Brasil é neutro nos conflitos internacionais e só entra subsidiariamente depois que as forças maiores atuam e o faz, sempre que possível, no viés de promover a paz. Exceção à Segunda Guerra Mundial, quando a Alemanha de Hitler atacou nossos navios e o País. Em ato de defesa, aderiu à guerra, enviando nossas tropas ao front numa situação extrema. Não é o caso atual, quando dois países com quem mantemos relações diplomáticas entram em guerra por razões próprias. Nossa posição tem de ser cuidadosa e, sem qualquer dúvida, indutora da paz em condições que atendam a ambos da melhor forma possível. O que não devemos é nós, cá do outro lado do mundo, entrarmos na briga, mesmo pedindo para que os briguentos parem.
O próprio presidente da Ucrânia, Vladmir Zelenski, não compareceu ao encontro que tentaram articular com Lula. Certamente, viu a inutilidade dessa tratativa e preferiu usar o tempo com atividades com maior potencial de acerto e encaminhamento de suas teses. O Brasil, por seu governo, tem de se preocupar mais com a crise interna do que com conflitos internacionais. Lula tem de se conter em seus arroubos de atacar os adversários e trabalhar pela paz política como meio de evitar mais conflitos onde a militância perca a paciência e parta para a ignorância e o confronto. Tem, também, de trabalhar politicamente para que as reformas sejam aprovadas no Congresso Nacional e a população delas se beneficie. As divergências políticas têm causado muita preocupação aos setores produtivos nacionais e isso poderá levar à queda na produção e sofrimento do mercado. O governo cumprirá toda a sua obrigação se mantiver o equilíbrio interno. Envolver-se em conflitos internacionais em nada poderá nos beneficiar…
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Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves, dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo); [email protected]

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