Um Japão de paz

Em 1945, o presidente Truman deu ordem para a destruição de Hiroshima, numa demonstração controversa de força, matando milhares de civis japoneses. Poder. As guerras também elegem presidentes. Principalmente quando estão fracos internamente o inimigo comum serve bem e dão muito lucro com ódios alheios e moral no front. A aeronave da hecatombe, Enola Gay, tinha o nome da mãe do comandante – por certo a mãe não tinha a culpa pelo filho.

A bomba era carinhosamente apelidada de Little Boy ou garotinho. Essa maldita matou milhares de pessoas, animais domésticos ou não, flores e florestas, a vida marinha e santuários de Hiroshima, numa fração de apenas 43 segundos, emergindo da destruição um enorme cogumelo de poeira e cinzas que encobriram o Sol, provocando fenômenos adversos por países da região que, no momento da explosão, viram um intenso clarão, outros próximos tiveram os olhos derretidos e seus corpos desintegrados. Nos dias seguintes, notaram enorme proliferação de larvas e moscas como praga bíblica. Os efeitos foram sentidos no mundo todo, a terra tremeu no seu eixo.

Um frade recluso e penitente de Piracicaba, frei Paulo, que monitorava e fazia anotações diárias do seu relógio de sol, mesmo sem ler o noticioso estranhou o deslocamento do eixo terrestre. Aos sobreviventes japoneses restaram infertilidades, cânceres e outros males prolongados. O exército americano voltou com cientistas para medir a “eficiência da bomba”.

Na reunião do G7, em Hiroshima, pouco se atentou dos efeitos da bomba atômica que a destruiu, as armas mais letais podem destruir tudo a partir da Ucrânia. Aliás, todos fazem guerra e a chamam de guerra justa. Importa ter razão?!

O presidente americano Biden foi ao G7, o ex-comediante e atual presidente da Ucrânia deu o ar da graça por lá, num cerco de apoio à guerra, embora o lugar de discussão fosse a desacreditada ONU, com todas as nações do mundo. O ucraniano falou até com o papa! Entretanto, no “conclave” do G7, nem todos concordam com a posição hegemônica dos EUA. Antes das larvas e moscas vem a proliferação de belas armas letais.

A brutalidade em Hiroshima ficou como que justificada pelo progresso atômico, aquiescendo-se à letalidade e à mão que a alimentou com o plano MacArthur. Por certo, não é fácil tomar saquê com o inimigo, mas o estômago queima por muitas razões e necessidades de se restaurar como fez o Japão de paz, e por Hirohito os japoneses foram proativos. Alguns líderes, inclusive o do Brasil, prestaram homenagem aos mortos no Memorial de Hiroshima. A terra clama o sangue de muitos, para não esquecer e colapsar totalmente, sob armas nucleares, numa roleta russa. Em vez de esticar a guerra, estiquem-se a paz.

Podem repetir Hiroshima em escala global. A Rússia tem o maior arsenal nuclear do mundo. A vida mesma é uma trégua por quanto tempo durar – a ideia deve ser a paz, não a guerra!

 

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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, ensaísta, autor de crônicas, historietas, artigos e livros

 

 

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