Consciência…

Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho

Consciência é um termo genérico para designar uma ampla variedade de fenômenos mentais. Segundo a Enciclopédia de Filosofia da Universidade de Stanford (Stanford Encyclopedia of Philosophy), um sistema cognitivo pode ser considerado consciente se for capaz de sentir e responder ao seu mundo (seriam os peixes, os camarões e as abelhas conscientes!), se estiver acordado e alerta, se além de estar consciente também estiver consciente de que está consciente (autoconsciência, o que exclui muitos animais e crianças até cerca idade). Outra forma de definir consciência é associá-la à intencionalidade.

Estritamente do ponto de vista científico, o que ocorre no cérebro são fenômenos físicos e químicos complexos; apesar do relativo conhecimento sobre a bioquímica de neurônios e sinapses, e a estrutura anatômica do cérebro, a implementação neural no nível cognitivo – aprendizado, conhecimento, lembrança, raciocínio, planejamento, decisão e assim por diante. No contexto da vida biológica, inteligência e consciência parecem correlacionadas, mas a pergunta é se essa correlação se aplicaria também à inteligência não biológica; “quando se trata de como ou se poderíamos criar consciência de máquina, estamos no escuro”. O fato é que não existe consenso em torno do significado de “consciência”, o que existem, em geral, são apropriações para fundamentar argumentos. O historiador israelense Yuval Harari, por exemplo, defende em um dos seus best-sellers, “Homo Deus” (2016), que o advento das máquinas inteligentes representa um descolamento entre inteligência e consciência, gerando dois tipos de inteligência: a inteligência consciente e a inteligência não consciente, sendo facultado apenas à primeira o acesso ao sentir. Com essa restrição, Harari impõe um limite ao progresso da inteligência artificial: as máquinas inteligentes, ao não serem dotadas de consciência, nunca vão competir com a inteligência humana.

O debate sobre se a “consciência” distingue humanos de máquinas que proliferam nos meios acadêmicos e entre pensadores e criadores de tecnologia, dominado por duas posições opostas: O “naturalismo biológico”, que afirma que a capacidade de ser consciente é exclusiva dos organismos biológicos, que depende de uma química específica dos sistemas biológicos – alguma propriedade especial que o nosso corpo possui e as máquinas não – de modo que mesmo andróides sofisticados não serão conscientes.

Desenvolver o “laço neural”, uma malha que permita conectar o cérebro diretamente aos computadores. São duas abordagens sobre se será possível ou não, dadas às leis da natureza e as capacidades tecnológicas futuras, criar inteligência artificial consciente. No estágio atual da ciência, tudo indica que ambas carecem de fundamentos teóricos.

Será que um dia a inteligência artificial irá suplantar a inteligência humana? Hawking diz que sim, antes de falecer deixou uma entrevista sobre quais poderão ser as formas da extinção humana, grandes meteoros em rota de colisão, guerra mundial nuclear e inteligência artificial. Existem controvérsias científicas, mas não devemos esquecer que quem mexe com o desconhecido um dia encontra Surpresa.

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Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho, médico

 

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