O preço da ignorância

Camilo Irineu Quartarollo

 

Numa palestra de adultos as pessoas ficam em silêncio, mas ao se abrirem às perguntas vêm uma enxurrada de questões. Ora, se entre adultos essa vontade de falar e interagir é grande, imaginem entre crianças e adolescentes!

As escolas brasileiras estão entupidas com alunos e tudo nas costas do professor(a), que gastam mais tempo pedindo silêncio que ensinando. Contudo, a educação brasileira persiste na ideia de barateamento pela correlação de professor/alunos. Quanto mais alunos por classe fica mais barato o professor para cuidar de alunos dentro da sala, enchem-se classes. Paga-se mal e porcamente ao profissional mais importante ao país, inclusive para a democracia. Alguns prefeitos e governadores dessa vilania ainda se gabam de economizar para o erário!

Os pais de alunos, ocupados, pouco ou nunca vêm às reuniões de pais e mestres. A educação cabe aos pais, não pode simplesmente ser relegada à escolarização. São ações conjuntas da formação.

Para fingir que se ensina ou se aprende basta deixar como está e, pelo menos, haverá merenda, e de sobremesa a ignorância. Um país sem escola está fadado ao desastre, à falta de saneamento básico, água limpa e… comida, mesmo num país celeiro do mundo.

A boa escola traz à pessoa do aluno um perfil que vai se formando com o ensino e convivência do aprendizado, desenvolvendo caráter e aptidões. A gente aprende e vai reconhecendo ciclos em nós, os quais já iniciaram em outros, num aprendizado contínuo. Uma característica do educando é a civilidade que vai assumindo diante da vida e do grupo, a convivência social sadia.

Nos métodos exitosos que se veem em países tidos por desenvolvidos, há não mais que dez alunos por classe ou nos laboratórios, e isso com o professor e um monitor. Por certo, o custo é maior que o de uma escola brasileira, nas quais governantes “economizam”. O ensino depende da adequação da aula, do espaço físico, do número de alunos e do “gasto”.

Atualmente a escola brasileira está sob ataques do negacionismo e do ódio gratuito, negação do processo científico, do estudo honesto, desqualificando a pedagogia de Paulo Freire e de outros estudiosos. A educação nos dá coragem de ver as coisas como são, meios de enfrentar os oportunismos ideológicos, o ódio armado e suas fakenews. Sem educação, como se vê, as pessoas são dominadas pela desinformação fake. Sobram arroubos nacionalistas, agressões recíprocas e gratuitas, coisa que qualquer primata pode se arrogar.

“Cara mesmo é a ignorância, essa é muito cara, viu!”, palavras do Brizola ao ser perguntado sobre o custo da Escola em tempo integral – Centro Integrado de Educação Pública, o CIEP.

Atualmente, já não se veem as escolas como custosas ou que professores não mereçam bons salários, mas ainda se tem muito a se fazer pelo ensino e nação brasileira, inclusive para resistir as bandeirolas fascistas.

(OBS – Correção ao texto publicado Julinho da Adelaide: o pai de Chico é Sérgio Buarque de Holanda e não Aurélio Buarque de Holanda. Escusas).

_______

Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, ensaísta, autor de crônicas, historietas, artigos e livros

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima