#FALAPAULOSOARES – Aumento de infecções sexuais entre os jovens é uma (triste!) realidade

Na minha caminhada em todo o trabalho que, com muito orgulho e dedicação, procuro realizar dentro do Caphiv (Centro de Apoio ao HIV/Aids e Hepatites Virais), a prevenção é sempre o ponto de partida. É claro que, quando alguém adoece, por qualquer seja o motivo, o acolhimento é o próximo passo, junto com o tratamento que deve ser realizado. Mas se precaver é o pontapé inicial de tudo aquilo que procuramos realizar em nossos projetos.

Por isso, informações como as que foram divulgadas pelo mais recente Boletim Epidemiológico HIV/Aids do País me deixam não apenas triste, mas também intrigado em saber “onde estamos errando”, ou “o que mais é preciso e necessário ser feito”. Acontece que os dados são alarmantes e me fazem refletir muito. O aumento de infecções sexualmente transmissíveis é uma (triste!) realidade no Brasil e coloca toda classe que atua na saúde pública em alerta.

Vamos aos fatos. Publicado em 2020, o Boletim revelou aumento de 64,9% das ISTs entre os jovens de 15 a 19 anos e de 74,8% para os de 20 a 24 anos, entre 2009 e 2019. As ISTs são definidas, pelo Ministério da Saúde, como doenças causadas por vírus, bactérias e outros patógenos, tendo como principal forma de transmissão o contato sexual (oral, vaginal, anal) sem proteção. Assim, a prática de sexo seguro é a melhor maneira de prevenir as infecções.

Apesar de campanhas para evitar o comportamento de risco e da distribuição de preservativos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o aumento dos diagnósticos e a diminuição no uso da camisinha, sobretudo entre os jovens, preocupa especialistas. Segundo o Ministério da Saúde, entre os brasileiros com 15 a 24 anos, faixa etária em que se observou crescimento, apenas 56,6% usam camisinha no ato sexual.

Para Alexandre Cunha, infectologia e consultor do Sabin Medicina Diagnóstica, uma das principais razões que justifica este alto número de diagnósticos é que muitas dessas doenças são silenciosas, podendo ficar meses ou anos sem apresentarem sinais e sintomas. “Por não sentirem nada, as pessoas não procuram o médico e não descobrem que estão infectadas. Sem saberem, a chance de transmissão para os parceiros, com sexo sem proteção, é muito maior”, avalia.

Outro fator relevante para o número de casos entre jovens é a necessária modernização do diálogo com essa parcela da população. “As campanhas precisam considerar as especificidades e os contextos individuais dos jovens, até mesmo, a forma e a linguagem indicadas para atingi-los”, acredita.

Algumas ISTs mais comuns e conhecidas são a Herpes genital, altamente contagiosa causada por um tipo de vírus denominado herpes simplex (HSV); a Infecção por papilomavírus humano (HPV), uma das mais incidentes e que pode ser prevenida com vacina; e Sífilis; infecção bacteriana de órgãos genitais, pele e membranas mucosas, mas que também pode atingir outras partes do corpo, incluindo o cérebro e o coração e o HIV, vírus da Aids.

PREVENÇÃO – O uso da camisinha (masculina ou feminina) em todas as relações sexuais (orais, anais e vaginais) é o método mais eficaz para evitar a transmissão das IST, do HIV/aids e das hepatites virais B e C. Serve também para evitar a gravidez. Importante ressaltar que existem vários métodos para evitar a gravidez; no entanto, o único método com eficácia para prevenção de IST é a camisinha (masculina ou feminina). Orienta-se, sempre que possível, realizar dupla proteção: uso da camisinha e outro método anticonceptivo de escolha.

A camisinha masculina ou feminina pode ser retirada gratuitamente nas unidades de saúde. Quem tem relação sexual desprotegida pode contrair uma IST. Não importa idade, estado civil, classe social, identidade de gênero, orientação sexual, credo ou religião. A pessoa pode estar aparentemente saudável, mas pode estar infectada por uma IST.

A prevenção combinada abrange o uso da camisinha masculina ou feminina, ações de prevenção, diagnóstico e tratamento das IST, testagem para HIV, sífilis e hepatites virais B e C, profilaxia pós-exposição ao HIV, imunização para HPV e hepatite B, prevenção da transmissão vertical de HIV, sífilis e hepatite B, tratamento antirretroviral para todas as PVHIV, redução de danos, entre outros.

SINTOMAS – As IST podem se manifestar por meio de feridas, corrimentos e verrugas anogenitais, entre outros possíveis sintomas, como dor pélvica, ardência ao urinar, lesões de pele e aumento de ínguas. As IST aparecem, principalmente, no órgão genital, mas podem surgir também em outras partes do corpo (ex.: palma das mãos, olhos, língua).

O corpo deve ser observado durante a higiene pessoal, o que pode ajudar a identificar uma IST no estágio inicial. Sempre que se perceber algum sinal ou algum sintoma, deve-se procurar o serviço de saúde, independentemente de quando foi a última relação sexual. E, quando indicado, avisar a parceria sexual.

Algumas IST podem não apresentar sinais e sintomas, e se não forem diagnosticadas e tratadas, podem levar a graves complicações, como infertilidade, câncer ou até morte. Por isso, é importante fazer exames laboratoriais para verificar se houve contato com alguma pessoa que tenha IST, após ter relação sexual desprotegida – sem camisinha masculina ou feminina.

 

 

Paulo Soares, presidente do Caphiv (Centro de Apoio ao HIV/Aids e Heptatites Virais).

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