José Renato Nalini
Causa estupefação a atitude da AGU – Advocacia Geral da União, ao se manifestar nas ações em curso pelo STF, envolvendo a dramática situação ambiental brasileira. Depois do desmanche das estruturas de tutela ecológica lentamente edificadas durante décadas, emitiu-se um verdadeiro convite para que garimpeiros, grileiros, invasores, dendroclastas e outros criminosos se assenhoreassem de todos os biomas pátrios. O que significou expressivos e lamentáveis recordes de desmatamento, de invasão de demarcações indígenas, de continuidade na sanha do genocídio iniciada no século XVI, mas agora com o beneplácito do governo.
É óbvio que o retorno de Marina da Silva a um Ministério do Meio Ambiente esfacelado é uma boa notícia, com repercussão internacional. Mas isso não representa imediata cessação do desastre estimulado. A prova mais evidente é que em fevereiro, segundo mês da nova gestão, os índices de destruição da Amazônia bateram novos rankings.
Por isso, não é suficiente dizer nos processos que precisam apurar responsabilidades e exigir reparação, que “o estado de coisas inconstitucional já cessou”. Os estragos foram grandes e gravíssimos. Não se pode sequer avaliar qual o tempo necessário para uma eventual regeneração da área devastada.
Como sempre tenho dito, qual mantra de um pregador no deserto, que é fácil cortar uma árvore. Basta uma motosserra. Também é fácil acionar dois tratores com correntões que derrubam um conjunto grande de árvores milenares, fabricando desertos. O difícil é “fazer uma árvore”. Quem consegue essa façanha?
É preciso preparar o terreno, encontrar a semente certa, semeá-la, acompanhar sua germinação, impedir que intempéries ou formigas acabem com ela, permanecer atento ao seu crescimento, que superará a duração da vida humana. Imbecil este animal chamado homem: ele vive algumas décadas e se propõe, durante esse período, a eliminar espécies vivas que duram muitas vezes mais do que a sua miserável existência temporal neste planeta.
A sociedade precisa estar atenta, porque o Ministério Público, que em alguns casos é o único defensor da natureza, nem sempre se comporta assim. Não se pode dizer que cessou o estado de coisas inconstitucional e desumano que se instaurou no Brasil no último quatriênio. A situação só piorou, por enquanto. MP e amigos da natureza não podem fraquejar.
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José Renato Nalini é Diretor-Geral da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras