A minha experiência à frente do Caphiv (Centro de Apoio ao HIV/Adis e Hepatites Virais) tem me ensinado muito. E todo esse conhecimento acumulado no contato com profissionais de saúde e a população que precisa de atendimento, eu procuro trazer aqui para compartilhar com vocês. Esta coluna semanal significa, para mim, um momento de troca de informações e impressões. Hoje, eu saio um pouco – mas só um pouco – das ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) para falar sobre câncer de pulmão. Mas não só apenas sobre o câncer de pulmão, também sobre como devemos ficar atentos aos sinais da nossa saúde e, desta forma, detectar doenças iniciais.
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) divulgou, no início deste ano, que são diagnosticados cerca de 31 mil casos de câncer de pulmão e uma média de 27 mil mortes pela doença são registradas por ano no Brasil. Isso significa que 75% dos casos acabam evoluindo para óbito, justamente porque a principal dificuldade de tratamento é a descoberta apenas em estágios avançados.
Por isso, ficar atentos aos sinais contribui para que você não seja pego de surpresa.
O pneumologista e coordenador da Comissão de Câncer de Pulmão da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Gustavo Prado, alerta que a principal media para descobrir a doença nos primeiros estádios é manter a rotina de exames em dia, ainda mais se você se expõe a algum fator de risco como fumar, por exemplo.
Ele sugere, também, que caso você ainda não faça um acompanhamento médico, o surgimento de queixas respiratórias e prolongadas ou que impactam muito na qualidade de vida devem ser sinais de alerta para buscar um profissional. “Existe uma certa estigmatização do câncer que faz com que alguns pacientes não procurem o diagnóstico por acreditar que não teria possibilidade de tratamento. E que de certa forma ele seria responsável por adoecer já que o tabagismo é um fator de risco. Então, alguns pacientes têm essas barreiras culturais relacionadas à estigmatização da doença e a sensação de culpa que acabam adiando a procura por um médico”, explicou o pneumologista, em reportagem no site GZH Saúde.
Prado acrescenta, ainda, que o diagnóstico também pode ser antecipado através do rastreamento da doença. Nessas estratégias são realizados exames em pessoas com fatores de risco ainda antes da manifestação dos sintomas. Ele cita, como exemplos, pessoas com mais de 50 anos que fumam ou já fumaram em algum momento da vida são as mais indicadas para conferir a indicação de fazer o rastreamento de câncer de pulmão.
Ainda na reportagem do GZH Saúde, o profissional detalha que os passos até a confirmação da existência da doença começam sempre com uma suspeita clínica ou com o rastreamento e segue com um exame de tomografia de tórax, onde é avaliada a presença de qualquer anormalidade. “Se constatada qualquer tipo de massa irregular, o tecido precisa passar por uma biópsia para confirmar o câncer e identificar seus tipos e subtipos. As etapas seguintes são fazer exames que avaliam o estadiamento para indicar o grau de avanço da doença”, explica o médico.
E como o nosso papo aqui é saúde, devemos sempre lembrar: a causa de 80% dos diagnósticos de câncer de pulmão é o tabagismo. Mas, é claro, que há outros motivos, como a exposição à poluição ambiental e o contato com substâncias carcinogênicas, como o amianto, também são fatores de risco que aumentam a chance de desenvolver a doença. “E não só a exposição ativa, seja com o consumo de cigarro, charuto, cachimbo e todas as formas de consumo de tabaco, mas também a exposição passiva à fumaça do cigarro. Ou seja, quando a pessoa convive ou divide o local de trabalho com algum fumante”, explica o médico pneumologista.
O site do Ministério da Saúde apontam que os sintomas do câncer do pulmão geralmente não ocorrem até que esteja avançado, mas algumas pessoas com câncer de pulmão em estágio inicial apresentam sintomas. Os mais comuns são: tosse persistente; escarro com sangue; dor no peito; rouquidão; piora da falta de ar; perda de peso e de apetite; pneumonia recorrente ou bronquite; sentir-se cansado ou fraco; e nos fumantes, o ritmo habitual da tosse é alterado e aparecem crises em horários incomuns. Ou seja, se você for ao médico quando perceber algum desses sintomas pela primeira vez e estiver com câncer de pulmão, a doença pode ser diagnosticada em estágio inicial, quando é mais provável que o tratamento seja efetivo.
A “dica de ouro” é, quase sempre, a mesma: procure hábitos saudáveis, com alimentação balanceada e atividades físicas regulares. No caso do câncer de pulmão, parar de fumar é a melhor dica; embora pareça difícil, há alguns dados que apontam que o Brasil tem reduzido o número de fumantes – embora o percentual ainda seja muito alto, sendo que cerca de 45% da população é adepta ao hábito.
Mas é possível parar de fumar. Busque se informar. Dê o primeiro passo.
E, claro, para se prevenir, sempre fique atento aos sinais.
Paulo Soares, presidente do Caphiv (Centro de Apoio ao HIV/Aids e Heptatites Virais).