Se há um setor da vida que é recheado de mitos, meias verdades e, convenhamos, até de um pouco de comodismo para justificar determinados atos, é quando falamos de saúde. Vale ressaltar também que, às vezes, a própria disputa de indústrias – e com ela a guerra de informações – cria confusões e contribui para inflar cada vez mais esse ambiente de “razões” em torno do cuidado do corpo e da mente.
Um destes mitos, que eu já ouvi muito de amigos, inclusive, é de que “maconha” não faz mal, ou que é “melhor do que cigarro”. É cada uma! Mas por mais ‘bizarro’ que seja, o meu papel aqui nesta coluna é contribuir com informações, sempre buscando levar uma percepção que não seja apenas aquilo que “eu gostaria”, mas em relação àquilo que há de informação mais consensual na Ciência e que guia a medicina.
Então, vamos ser bem diretos e sinceros: sim, maconha faz mal! Muito mal! E — veja bem! — não estou fazendo qualquer julgamento moral de quem se utiliza desta substância, que é uma das mais populares entre os jovens. Quando eu digo que “maconha faz mal”, é porque há informações claras sobre isso e que, claro, levam em conta uma planta que, por ser proibida, é comercializada sem qualquer padrão de qualidade, podendo ser misturada a diversas outras substâncias prejudicais à saúde.
Uma matéria publicada, ano passado, no site Olhar Digital aponta que pesquisadores da Universidade e Hospital de Ottawa, no Canadá, identificaram que fumar maconha pode ser muito mais prejudicial aos pulmões e as vias aéreas que o tabaco. Segundo os cientistas, há um senso de que o cigarro da planta é menos danoso à saúde, tendo o resultado surpreendido, mas há um motivo bem lógico para o desfecho no organismo.
Publicado na revista Radiology, o estudo analisou radiografias de tórax de 56 fumantes de maconha, 57 não fumantes e 33 pessoas que fumaram apenas tabaco entre 2005 e 2020. Taxas bem mais altas de inflamação das vias aéreas e enfisema — uma doença pulmonar crônica — foram encontradas entre fumantes regulares de maconha em comparação com fumantes regulares de tabaco e não fumantes.
“O consumo de maconha está aumentando e há uma percepção pública de que a maconha é segura ou mais segura do que os cigarros (de tabaco)”, disse à AFP Giselle Revah, radiologista do Hospital de Ottawa, onde a pesquisa foi realizada. “Mas este estudo levanta preocupações de que isso pode não ser verdade.”
Conforme a especialista, a explicação pode estar relacionada às diferenças em como as drogas são normalmente consumidas. “A maconha é fumada sem filtro, ao contrário do tabaco que é geralmente filtrado. Quando você fuma maconha não filtrada, mais partículas atingem suas vias respiratórias, sendo depositadas lá e irritando essas vias.”
Outro ponto observado pela pesquisadora é o fato de ao fumar maconha a fumaça ser, propositalmente, retida por mais tempo no pulmão, com as famosas longas puxadas (tragadas). “Pode levar a mais traumas nesses espaços aéreos”, ressaltou.
A equipe pontuou que referente aos participantes que fumam além da maconha, também cigarros, os resultados foram inconclusivos, o que demandará mais estudos. Revah também destacou que há pouca pesquisa sobre os efeitos da cannabis na saúde em geral, já que ela é proibida na maioria dos países, prejudicando alguns avanços.
Vale explicar que a cannabis de uso medicinal, no qual os compostos da maconha são usados na fabricação de medicamentos, tem um processo e objetivo diferente no que diz respeito aos fumantes recreativos. A recomendação de uso de filtros ao fumar maconha já é fortemente recomendada entre o grupo, geralmente em combinação com as piteiras. No Canadá, o uso casual de cannabis foi legalizado em 2018.
EFEITOS DA MACONHA — A maconha tem um efeito mais “recreativo” e isso acontece, em especial, devido aos seus efeitos alucinógenos. No entanto, a maconha causa várias outras reações, em diferentes partes do corpo, o que é bastante prejudicial. A exemplo, podemos citar:
1) Pulmão: ao inalar a fumaça, as substâncias podem causar irritação na traqueia e dilatação dos brônquios
2) Intestino: as substâncias da droga retarda a sensação de saciedade
3) Olhos: a maconha provoca relaxamento muscular e vasodilatação nos olhos. Ou seja, os olhos tendem a ficar mais secos e irritados
4) Boca: há uma alteração nas glândulas salivares, o que faz o usuário ter a sensação de secura na boca
5) Coração: aumenta a pressão arterial, o que altera o ritmo cardíaco. Em fases agudas, o coração chega a bater 50% mais rápido
6) Órgãos sexuais: estudos apontam diminuição de até 50% dos níveis de testosterona e produção de esperma. Em mulheres, há alteração no ciclo menstrual;
cérebro: afeta o campo da memória, redução na capacidade de raciocínio lógico e concentração, ampla sensação de relaxamento, perda parcial de controle de movimento e equilíbrio etc.
DOENÇAS QUE CAUSA – As doenças ocasionadas pela maconha tem mais ligação com o lado psíquico, como TDAH, esquizofrenia, ansiedade, depressão, por exemplo, são alguns deles. No entanto, também pode causar câncer de bexiga e pulmão.
Então, queridos, queridas e querides, maconha faz mal e, se você quer ter uma vida mais saudável, é importante evitá-la, assim como o cigarro, que também faz muito mal. Para viver bem, sempre vale repetir o “segredo” que não é segredo para ninguém: uma alimentação balanceada e exercícios regulares. É simples assim.
Paulo Soares, presidente do Caphiv (Centro de Apoio ao HIV/Aids e Heptatites Virais).