Silvia Helena Rigoldi Simões
Muitos podem questionar a importância de se comemorar a Doença de Parkinson tal qual fosse uma data festiva. A palavra comemorar não é empregada nesse sentido, mas no de co-memorar, isto é, de lembrar juntos essa data, principalmente, com aqueles que desconhecem esse problema de saúde que tanto maltrata o paciente. É até compreensível que não queiram pensar em mais uma doença, que não os acometeu nem a um parente próximo, num mundo tão sensacionalista que faz das tragédias seu prato preferido, saturando as pessoas com notícias negativas e temerárias.
Por outro lado, é necessário, mesmo que desconfortável, abordar esse tema pela necessidade de conscientização sobre a Doença de Parkinson, que acomete, segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) cerca de quatro milhões de pessoas espalhadas pelo mundo todo. O sofrimento delas poderia ser mitigado se fizessem tratamentos adequados e tivessem suporte social com respeito pelas limitações físicas, possibilitando vidas mais participativas e felizes. E isso é possível?
Não se pode dourar a pílula, visando a não se sentir o amargor dela. É verdade que essa moléstia, ainda conhecida popularmente como ‘mal de Parkinson’, assusta a muitos, que se afastam do paciente até pelo medo infundado de contágio. O medo é, assim, movido pelo desconhecimento, já que a Doença de Parkinson é uma patologia neurodegenerativa progressiva, causada pela falta de uma substância chamada Dopamina, responsável, entre outras funções, pela coordenação motora. Aos poucos, o paciente vai sofrendo com o agravamento de sintomas motores como lentidão de movimentos, tremores, rigidez, instabilidade postural e também podendo apresentar problemas não motores, como perda de olfato, depressão, entre outros.
O medo gera o afastamento das pessoas, dificulta o bom relacionamento humano e marca o desinteresse delas por maiores conhecimentos sobre a Doença de Parkinson. Por isso cresce a importância das Associações de Parkinson para esclarecimentos sobre essa grave moléstia, ainda sem cura, mas já com tratamentos que, se não finalizam, ao menos aliviam os sintomas.
É real o avanço dos medicamentos e a indicação de terapias necessárias como Fisioterapia, Fonoaudiologia, Psicologia, Musicoterapia, Terapia Ocupacional, dentre outras, que minimizam os problemas e podem adiar ou evitar a progressão da doença.
Da mesma forma, sem informações, as pessoas podem tornar-se indiferentes ao sofrimento do outro e, de forma desumana, dificultar a inclusão social de parkinsonianos, limitando ainda mais sua necessária participação na vida cotidiana. De fato, é direito de todos terem um espaço na sociedade, sem sofrer preconceito de cor, religião, deficiência, etc. O respeito às diferenças é um dos pilares da democracia, pois inclui as minorias que não podem ser relegadas a ‘guetos’.
Recentemente, vivenciei uma dessas situações constrangedoras provocadas pela falta de empatia pela dificuldade de se colocar no lugar do outro. Fui diagnosticada com a Doença de Parkinson há cerca de vinte anos. Procuro manter-me ativa dentro do possível, principalmente pela compreensão e apoio dos que me cercam. Pois bem, numa ida com meu marido a um supermercado da cidade, precisei tomar medicação, quando na fila do caixa. Essa crise afetou minha rapidez de movimentos, até então normais, e eu tive que, já num primeiro momento, explicar, sob o olhar reprovador da funcionária, o porquê dos tremores que me fizeram derrubar um copo d’água, que já tinha solicitado. Ela se levantou de sua cadeira a contragosto e passou a me ajudar com alguns poucos produtos restantes no carrinho, já que meu marido fora acomodar parte deles no carro. Tentei não me importar com seu jeito enfadado, quando olhei para trás e vi uma impaciente jovem que continuava à espera para passar com o carrinho de compras. Apesar de ter acompanhado a dificuldade com a tomada da medicação, ali se manteve de braços cruzados, também não escondendo sua insatisfação com minha demora e seu alívio diante da minha saída. Nesse instante, meu marido voltou com um casal que o ajudara na colocação dos produtos no carro. Atenciosos e prestativos, ambos reafirmaram a minha fé na humanidade.
Assim, voltamos ao ponto de partida deste texto. É importante, sim, co-memorar o Dia Mundial da Doença de Parkinson para esclarecer a sociedade, para lembrar a todos que ela não escolhe a quem acometer. Qualquer pessoa pode, em algum momento de sua vida, deparar-se com esse diagnóstico.
E mais: é um dia para se refletir sobre o respeito e o apoio, não só aos parkinsonianos, como a todas as pessoas que se diferenciam por raça, cor, escolha de gênero, de religião e, recentemente, por ‘etarismo’ ( como o que aconteceu com uma senhora de 44 anos que passou no vestibular e sofreu preconceito de algumas jovens, por causa da idade dela, distoante da faixa etária da maioria dos estudantes).
Em suma, a conscientização sobre a Doença de Parkinson é fundamental para instaurar um tempo de delicadezas, uma oportunidade para tornar as pessoas mais sensíveis, humanas e felizes, porque solidárias.
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Silvia Helena Rigoldi Simões, da Colibri (Associação Brasil Parkinson – Núcleo Piracicaba)