Começamos a sonhar com a felicidade, o tempo passa… Logo encontramos a realidade da vida vivida. Difícil é a vida após o sonho, sofrível também é encontrar a realidade severina. Nessa toada seguimos nossa missão enlutado por dentro e com um sorriso sem alegria por fora, não sincero, mas sorrimos!
Ninguém, quando nasce, pode imaginar o quão complexa é a realidade da vida. Vamos entender sobre nós mesmos com nossos relacionamentos, quem serão nossos amigos, pares ou filhos…? tudo vaga por um desejo de plena felicidade, como se essa existisse.
Da infância a juventude tudo é somente sonhos (nada a declarar), nossos pais e nossos mestres são nossos timoneiros e nos apontam o caminho que devemos seguir – tudo como se um roteiro fosse – mas não, não é mesmo!
Do roteiro traçado em parcas linhas passamos para a vida real, parafraseando Carlos Drummond de Andrade, “no meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho…” Logo, ao vivermos encontraremos muitos percalços que nos é reservado. Futuros inimagináveis!
Existe uma grande diferença na concepção de preparação para a vida, quanto a vida fática e implacável. Na preparação é dado o imaginário de seguirmos por mares calmos, na vida, quando nos depararmos com as primeiras ondas, por mares revoltos e com a realidade da natureza.
Estou trazendo à tona essa reflexão porque a natureza também tem o costume de inverter sua ordem e nos pegar de surpresa, tirando-nos não somente o sonho, mas também nossa melhor realidade. Perder algo muito importante como um filho é o pior dos castigos e a mais cruel das inversões da ordem natural.
O coração bate tão forte que se aceleram as lágrimas, o corpo sofre, a noite não passa e a dor eterniza na alma. Será, ó Senhor Criador do Universo, que as pessoas que passam por esse sofrimento ainda encontrarão a paz? Eu questiono isso todas as noites, dia após dia e debaixo de muitas lágrimas. Será?
Nessa reflexão deixo aqui a importância de vivermos o amor pleno de Jesus Cristo, de vivermos para construir e não para destruir. Lembrem-se: aqueles que pensávamos ser amigos são nossos piores algozes; outros que não lembrávamos mais, mostram o melhor da humanidade que é a compaixão.
Por poucos minutos apercebi-me de um mundo desabando, como um filme de cinema na minha frente, por horas descarreguei a tormenta dos mesmos mares bravios em forma de lágrimas; lá se foram meus sonhos de adolescente, lá se foram meus dias felizes!
Um filho jaz…
(Lágrimas…)
Pergunto aos sábios, como reverter essa ordem? A resposta mais verossímil que recebo é “aprenda a conviver com a dor d’alma…”. Não satisfeito insisto, como se aprende a viver na dor? Novamente uma resposta: “vida, não é sua a faculdade de viver; é da natureza esse poder!”.
Santo Agostinho tinha um filho que se chamava Adeodato, aquele que vem de Deus – foi seu aluno – um brilhante e notável aluno, mas na ordem inversa da natureza foi chamado por Deus aos treze anos de idade, deixou o plano terreno para os braços do Pai. Agostinho sofreu essa amargura, essa tragédia humana, esse sofrimento sem fim, e continuou vivo produzindo sua obra para toda a humanidade, escreveu o amor de Deus em notas teológicas.
Jamais eu seria inconsequente de me comparar a Santo Agostinho e seu notável saber, porém, como ele sofreu, hoje sofro e choro todos os dias e todas as noites. A natureza me tirou um tesouro.
“A dor, por mais rasteira que doa, não perde o seu ofício de doer.” Machado de Assis
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José Osmir Bertazzoni, jornalista, advogado