Sergio Oliveira Moraes
A: de Acotirene dos Palmares, de Antígone pelo direito a sepultar os mortos, de Ara Mirim Sonia Barbosa. B: de Badia escravizada, de Branca das tortas, de benzedeiras. C: de Carolina de Jesus, de catadoras de papel, de carpideiras de matos e prantos, de Clementina de Jesus. D: de Dandara de Palmares, de Dirce da fonte tebana, de Dircinha, das crianças e idosos, doceiras e bordadeiras, de Daisy poeta inconformada, de Daiara Figueroa Y’épá Mahsã. E: de Edmeia que só queria embalar seu filho, mãe entre as “Mães de Acari”. F: de Felipa e seu quilombo, de Fê testemunha diária da fome no corpo dos estudantes, de Francisca dos Anjos. G: de Gertrudes da Paraíba, de tias velhas nas velhas casas, de Gabi das artes no palco, dos temperos de cravo e canela, de Gal (seu nome será sempre Gal), de Gal do sorriso e creme de espinafre. H: de Henriqueta escrava, de Henriqueta avó paterna, de Helena das massas frescas de macarrão. I: de Iracema médica atendendo população negra e pobre, de Isaura (“ai ai ai Isaura, hoje eu não posso ficar”).
J: de Joana e Joaquina, escravizadas (batizá-las, mudar seus nomes, apagá-las), de Jozileia Daniza Kaingang, de Josiane que desassossega com Fernando Pessoa. K: de Katu Mirim, de Kaiulu Rodarte Kamarujá. L: de Liberata, a liberdade que buscou, de Lili sempre viajando e presente, de Lê das férias na infância, ao morar distante, mas presente, de Lú, caçula “dedo duro” nas brincadeiras de criança, de Leonor que não dizia não a uma cerveja. M: de Mariana, menininha não cresça mais não, fique pequenininha na minha canção, de May da sonoridade, das leituras de sempre, de Mey das artesãs, das contadoras de história, de Mirella que gostava das flores da trepadeira Jade, queria-as todas, de Marli da memória de historiadora e professora, de Maria da Penha, de Marielle, cinco anos após a morte na tocaia, mandantes ainda na impunidade.
N: de Nã Agotimé, depois de trazida como escrava, batizada de Maria Jesuína , de Narcisa Ribeiro, uma outra Chica da Silva. P: de Páscoa Vieira e Paulina , escravizadas também. Q: de Quelly da Silva, travesti de 35 anos assassinada em Campinas. R: de Rosalina e suas bonecas de pano, o riso largo da infância, de Rosa, nada como ser rosa na vida, rosa mesmo ou mesmo rosa mulher, de Renée do gosto por conhecer, de Rai, mulher nordestina, que uma só é tantas. S: de Solange dos bordados em ponto cruz, aprendiz aplicada que foi de Dircinha, de Stela, estrela, para quem a aurora boreal fez questão de se exibir, de Sônia, das prosas e do gosto por escrever, de Selma da imensa lojinha na precisão do cronista, de Sônia Guajajara , de Silvia, engenheira e urbanista.
T: de Tia Carmem do Ximbuca, Tia Ciata, Tia Inácia, de Tuire Kapran Krere. V: de Verô, menina de circo na infância, hoje nos temperos da dança e trapézio, de Virgínia Leone Bicudo, neta de uma escravizada alforriada, única negra e mulher de sua turma na Fundação Escola de Sociologia e Política (será uma das “figuras mais emblemáticas na implantação e no desenvolvimento da psicanálise no Brasil”).
Pretensiosamente um roteiro alfabético-amoroso pelas mulheres, inspirado em algumas delas. Perdoem se não as consultei antes. Para encontrar as outras personagens e citação última: “Enciclopédia Negra” (Flávio dos Santos Gomes, Jaime Lauriano, Lilia Moritz Schwarcz, Cia. das Letras, 2021) e: https://catarinas.info/43-mulheres-indigenas-do-brasil-e-da-america-latina-para-se-inspirar/ . E que cada possível leitor, leitora, possa elaborar o seu roteiro amoroso pelas mulheres, esse é o meu – como as vejo, as vi.
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Sergio Oliveira Moraes, físico, professor aposentado ESALQ/USP.