Em se adubando tudo dá… 

João Salvador

 

“A agricultura é a arte de perturbar os ecossistemas sem causar danos irreversíveis” – E. Malavolta. Se o homem se mantivesse como catador de grãos, pescador e caçador, para manter sua sobrevivência, igual há 10 mil anos, talvez a população atual brasileira estivesse nos 10 ou 15 milhões de habitantes. Hoje, com o resultado da revolução tecnológica, a população beira à casa de 214 milhões, o que significa muitas bocas para comer.

A produção atual de alimentos é suficiente para suprir as necessidades dos estômagos brasileiros e de mais de um bilhão em outros países. A cada ano bate-se o recorde das safras agrícolas, sempre garantindo o equilíbrio da nossa balança comercial. Estamos com uma safra recordista atual de 302 milhões de toneladas,

35% maior que a anterior, somente com o aumento de 3,5% da área plantada, o que indica maior produtividade. A tese malthusiana, a qual previa um descompasso fatal entre o crescimento populacional e aprodução de alimentos, foi derrubada há muito tempo. A fome, em certas regiões do país, é resultante das diferenças regionais, do problema socioeconômico, da frágil estrutura de distribuição de renda.

“Nesta terra em se plantando tudo dá”, disse Pero Vaz de Caminha. À época, bastava apenas retirar uma pequena parte de uma vegetação e plantar que tudo se convertia em alimentos. Mas o homem passou a devastar mais florestas, sem imaginar que a cada colheita uma grande quantidade de nutrientes era exportada pela cultura, com a necessidade de reposição através da adubação.

Nas práticas agrícolas de hoje, graças aos ganhos de conhecimentos, é possível manipular o que há de novo na fabricação de comida. Aprendeu-se que para obtenção de alimentos deve começar com a nutrição da própria planta. Não existe uma semente milagrosa sem adubo. Ao lançá-la no solo, uma série de nutrientes deve estar em disponibilidade no solo, de maneira equilibrada, para que a planta se desenvolva e manifeste todo o seu potencial genético.

O Brasil possui diferentes tipos de solos e cada um exige uma quantidade de nutrientes também diferenciada, baseada na amostragem de terra e de posterior análise de laboratório. A carência de um nutriente pode ser verificada pelos sintomas visuais manifestados nas folhas e pelo crescimento irregular da planta. Quando observada no início, uma adubação foliar pode corrigi-la.

O bom uso de fertilizantes permite aumentar a oferta de alimentos, colhendo-se mais em mesma área plantada, ajudando a preservar florestas, garantindo mais comida para o futuro. Mas, para se obter boas safras, o solo deve ser bem preparado, adubado e sua conservação é necessária para evitar os danos causados pela erosão, quando o terreno for inclinado, evitando a perda da camada fértil de terra e a lavagem dos fertilizantes. Sabe-se que pragas e doenças podem consumir 30% de uma colheita, o que demanda um controle sistemático, através dos defensivos agrícolas, utilizando-se dos métodos seguros e da recomendação adequada, que não cause a poluição dos rios, danos ao operador e aos ecossistemas.

A fim de potencializar a fertilidade do solo, colher mais, com sustentabilidade, a tendência é usar os bioinsumos, também conhecidos como insumos biológicos, produzidos por meio de processos agroindustriais. As biofábricas podem ser instaladas nas próprias propriedades. Além dos biofertilizantes, os biodefensivos também têm mostrados efeitos bem positivos.

 

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João Salvador é biólogo, com especialidade em Solos e Nutrição de Plantas.

 

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