Pesquisa requer norma, lisura e transparência

 

 

Dirceu Cardoso Gonçalves

 

Aconteceu o que prevíamos. Os institutos e empresas de pesquisas foram os grandes perdedores na abertura das urnas de 2 de outubro. Embora o resultado de presidente tenha chegado perto do que pregavam os levantamentos questionados, Lula não ganhou no primeiro turno, Fernando Haddad não venceu o governo de São Paulo e Márcio França não se elegeu senador porque teve menos votos que o astronauta Marcos Pontes. Esse quadro, de São |Paulo, repetiu-se em muitos pontos do país. O mais significativo é que a diferença entre o anunciado nas pesquisas e a realidade apurada supera os 10%, nível que descredibiliza qualquer trabalho dessa natureza. Tudo o que passa dos 2% acima ou abaixo, oficialmente fixados como margem de erro, é atestado de inconformidade, incompetência, ou coisa pior.

Com seus números inflados, as pesquisas induzem a erro veículos de comunicação, comentaristas, artistas e até os próprios participantes das eleições que neles confiaram e com eles caíram na esparrela. O eleitor é a maior vítima, quando opta por votar nos apontados como possíveis ganhadores. Esse quadro, que vem se tornando recorrente a cada eleição, aponta a necessidade de normatização dos levantamentos e pesquisas. Não só os de finalidade eleitoral, mas também os destinados à aferição do nível de audiência de veículos de comunicação e os de aceitação de produtos. Quem erra tão fragorosamente no levantamento de intenções de votos, dificilmente terá lastro para afirmar com segurança que tal rádio, TV ou jornal têm realmente a audiência por eles divulgadas e a devida confiança em sua penetração junto ao grande público. E menos ainda para dar sinal verde aos anunciantes à segurança à indústria, comércio e prestadores de serviços no lançamento de novos produtos. Falta método seguro e, lamentavelmente, credibilidade.

Pesquisa é coisa mais séria do que se pode imaginar. Quando seus números não refletem a realidade, em vez de ser um “retrato” do momento, como se afirma, pode ser propaganda disfarçada e enganosa de um dos lados da disputa, supostamente aquele que interessa ao pesquisador ou lhe auferiu lucros. Mais comprometedor ainda é quando se refere a audiência de veículos de comunicação que, bem avaliados, têm elevado custo, mas não valem o que cobram quando o número da pesquisa não é fidedigno. Já, as pesquisas para lançamento de produtos são ainda mais sensíveis pois, se não refletirem a realidade, poderão induzir o empreendedor a ter prejuízos financeiros lançando sua mercadoria – carro, eletrodoméstico, apartamento – sem que este tenha a esperada aceitação do público-alvo supostamente pesquisado.

Não sou contra as pesquisas. Mas é fundamental que – independente da finalidade – tenham transparência metodológica e suas planilhas sejam utilizadas exclusivamente para a finalidade descrita na contratação. Todo empreendedor, seja ele do meio político ou empresarial, fica mais seguro para realizar suas ações se souber o que vai encontrar junto ao grande público. Mas, para isso, é preciso que os números apurados sejam confiáveis. Infelizmente, nas pesquisas do mundo dos negócios é difícil comprovar se os resultados foram (ou não) corretos. Mas nas eleitorais – onde há o resultado das urnas – tem ficado cada ano mais claro que a maioria dos realizadores não tem suas conclusões assemelhadas ao que, afinal, é apurado no voto. Daí vem a fragilidade que exige ações garantidoras de um mínimo de regularidade.

No ambiente, cada dia mais controverso, os senadores e deputados federais deveriam, sem demora, propor medidas que coloquem as pesquisas dentro de parâmetros que as tornem confiáveis e transparentes. Seus realizadores não têm o direito de, por qualquer razão, divulgar resultados que induzam a população a erro ou a comportamentos que não são do seu interesse. Inverdades não podem ser combustível para determinar o voto e nem as atitudes da população. A partir dos discutíveis resultados tão das pesquisas eleitorais, as empresas de publicidade certamente tomarão muito cuidado para investir suas verbas em veículos de comunicação e empreendimentos que apresentem como provas de sua penetração os certificados das empresas de pesquisas e institutos blefadores. Não há a segurança de que quem errou tanto nas eleições estará acertando quando pesquisar o mundo dos negócios. E as empresas publicitárias são rigorosas quando investem o dinheiro de seus clientes. Questão de sobrevivência…

 

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves, dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo). Email: [email protected].

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