#FALAPAULOSOARES – Outubro Rosa e o risco do câncer em pacientes com HIV/Aids

O tão esperado outubro chegou. É claro que este ano as atenções ficaram, em grande parte, centrada com a expectativa do primeiro turno das eleições no Brasil. Mas o mês é conhecido, e reconhecido!, pela campanha Outubro Rosa, realizada anualmente com o objetivo de compartilhar informações e promover a conscientização sobre o câncer de mama, assim como proporcionar maior acesso aos serviços de diagnóstico e de tratamento e contribuir para a redução da mortalidade.

É evidente que nós, da Caphiv (Centro de Apoio ao HIV/Aids e Hepatites Virais), também defendemos que as mulheres façam o exame toque para prevenir à doença. Mas eu gostaria de aproveitar o momento que a prevenção ao câncer está em evidência para destacar uma característica muito comum nos pacientes com HIV/Aids: o risco aumentando de câncer, conforme demonstram diversos estudos pelo mundo.

De acordo com o estudo Risco de Câncer em Pacientes que Vivem com HIV/Aids: Revisão Sistemática, publicado na Revista Brasileira de Cancerologia, em 2020, aponta que o câncer acometerá cerca de 50% dos indivíduos com infecção pelo vírus da imunodeficiência adquirida (HIV), sendo uma parte considerável da carga da doença

e da mortalidade da patologia atribuível ao vírus.

Os cânceres do tipo definidores da infecção marcam o início da imunossupressão clinicamente relevante e surgem por meio da perda do controle imunológico de infecções virais oncogênicas, muito comuns principalmente antes da introdução da terapia antirretroviral. Entre eles, os mais comuns são o sarcoma de Kaposi, linfoma não Hodgkin e câncer do colo do útero.

A introdução da Highly Active Antiretroviral Therapy (HAART), conhecida também como terapia antirretroviral combinada, trouxe um controle da carga viral a níveis muito baixos e recuperação das taxas de células CD4+ e CD8+, modificando o panorama epidemiológico da população portadora de HIV e promovendo um aumento da expectativa de vida.

O aumento da longevidade foi um ganho para pessoas que vivem com o HIV, porém, com o decorrer dos anos, observou-se que esse aumento na expectativa de vida promoveu também um aumento na exposição cumulativa à inflamação sistêmica e acúmulo de mutações somáticas, bem como alterações epigenéticas relacionadas à carcinogênese, elevando a incidência de neoplasias não relacionadas à síndrome da imunodeficiência adquirida (aids), como os cânceres anal, de fígado e pulmão. Alguns fatores podem estar envolvidos a um maior risco de câncer na população infectada pelo HIV, tais como: a) aumento de novos casos da doença; b) taxas mais altas de tabagismo na população; c) aumento da imunossenescência; d) replicação viral residual abaixo de níveis detectáveis; e) infecção por vírus oncogênicos: papilomavírus humano (HPV), Epstein-Barr, hepatite B (HBV) e hepatite C (HCV), que podem se multiplicar em virtude do quadro de imunodepressão.
CUIDADOS ESPECIAIS – Para o paciente oncológico portador do HIV, é fundamental o acompanhamento conjunto do médico oncologista e do infectologista, pois a terapia antirretroviral deve ser mantida durante o tratamento contra o câncer.

A infecção por HIV pode levar ao aumento de gânglios linfáticos e infecções, simulando uma disseminação do câncer. Por isso, exames de imagem como tomografia, ressonância magnética e PET-CT podem resultar em falsos positivos, sendo muitas vezes necessário fazer biópsia das lesões suspeitas para confirmação.

O acompanhamento conjunto do oncologista e do infectologista também é importante para o cuidado com as medicações: alguns medicamentos oncológicos podem interagir com a terapia antirretroviral e, caso a interação seja significativa, o tratamento do câncer ou do HIV precisam ser ajustados.
TRATAMENTO – Os pacientes portadores do vírus HIV que fazem o tratamento contra o câncer ao mesmo tempo podem fazer a quimioterapia. O oncologista responsável pelo caso fará a recomendação do número e frequência das seções. Nesse momento é importante o acompanhamento do médico infectologista e a atuação em conjunto entre os dois especialistas. As reduções na carga viral e a restituição da função imunológica podem resultar em uma melhor capacidade de tolerar a quimioterapia e menos infecções oportunistas. A mesma recomendação se aplica às seções de radioterapia.

É importante, sempre, fazer a prevenção e seguir o tratamento de acordo com as orientações médicas especializadas. O nosso desafio é sempre oferecer informações para que o nosso público-alvo, assim como toda a sociedade, possa ter dados confiáveis e sempre ficar atentos aos seus sintomas, podendo prevenir doenças e prolongar a vida. (Com informações do site A.C. Camargo Cancer Center)

 

Paulo Soares, presidente do Caphiv (Centro de Apoio ao HIV/Aids e Heptatites Virais).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima