E as primaveras voltaram

Rubens Santana de Arruda Leme

 

Escrevo esse artigo no alvorecer da primavera do emblemático ano de dois mil e vinte e dois na certeza de que a primavera do poeta também está chegando, independente dos propagadores do ódio, da escuridão e do fascismo, porque as flores da democracia, do amor e da esperança estão voltando.

Sinto-me um privilegiado por ter nascido e estar vivendo em época tão importante para a humanidade, em especial para o nosso país, que certamente ficará marcada para sempre em nossa história.

Do trabalhismo de Vargas me recordo ainda na mais tenra infância, assim como dos anos dourados do governo de Juscelino. Da adolescência até boa parte da idade adulta, convivi com o triste período da ditadura militar, só não foi pior porque quando se é jovem tudo é lindo maravilhoso. Com muito orgulho, participei ativamente do processo de redemocratização do país, seja na militância partidária, assim como no movimento popular.

Tive a honra de participar dos governos democráticos e populares do Partido dos Trabalhadores, no executivo e no legislativo em nossa querida Piracicaba, terra que me viu nascer e onde espero ir para o descanso eterno, no campo santo do Cemitério da Saudade.

Falando de Piracicaba, começo a sentir saudades de lideranças fantásticas como Francisco Salgot Castillon, João Herrmann Neto, José Machado, que marcaram suas histórias, lutando pela construção de uma sociedade mais justa. Também sinto falta de movimentos populares autênticos, mobilizadores das classes mais humildes, como as associações dos favelados e dos mutuários, da Fopop (Federação das Organizações Populares de Piracicaba), do MIP (Movimento dos Inquilinos de Piracicaba) do qual fui um dos coordenadores no final da década de oitenta. Hoje o clientelismo desmobilizador, primo pobre da corrupção e as redes sociais, que deram voz a idiotas e fascistas de todas as matizes, de certa forma, neutralizaram uma efetiva participação popular na luta pelos direitos básicos dos cidadãos.

No estado de São Paulo principalmente, o tucanato que também surgiu no processo de redemocratização do país, ainda que não possa ser comparado com o pesadelo do atual governo federal, por ser um partido de quadros, ao ficar no poder em nosso estado e na maioria das suas cidades por muito tempo, colaborou para que ocorresse um refluxo no processo de implantação da democracia participativa, iniciado nos governos petistas. Se o PSDB não tiver sucesso nas eleições desse ano para governo de estado em São Paulo e Rio Grande do Sul, poderá sofrer uma drástica redução na sua importância dentro do cenário político nacional. Esperamos, ao menos, que caso ocorra um segundo turno para presidência da república, o partido justifique sua sigla e sua história em defesa da democracia.

Certamente a direita, hoje camuflada em diversas siglas partidárias, capitaneada por um presidente negacionista e insensível, apoiado por uma elite egoísta, preconceituosa e hipócrita, tentará de todas as formas (inclusive ilegais…) evitar a retomada do nosso processo civilizatório, mas como disse o grande Neruda: “Não conseguirão impedir a chegada da primavera “.

 

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Rubens Santana de Arruda Leme, Técnico Químico Industrial, Supervisor de Higiene e Segurança do Trabalho, Representante Comercial Autônomo (e-mail: [email protected])

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