O bicentenário da Independência

Ronaldo Castilho

 

Em 1815, morre, a rainha de Portugal, D. Maria I, e o príncipe D. João assume o trono. Decide elevar o Brasil a Reino Unido de Portugal e Algarves. No mesmo ano, Napoleão é derrotado na Batalha de Waterloo. A quebra do monopólio de comércio nos portos do Brasil em favor da Inglaterra, assinado em 1810 por D. João, havia irritado profundamente os comerciantes portugueses em Lisboa. Não era para menos, já que dois terços das transações comerciais de Portugal com os países europeus eram de produtos oriundos da Colônia.

Entre 1817 e 1820, explode em Portugal a Revolução Liberal. Os ânimos se exaltaram, falava-se até em supressão da Monarquia. Em 1821, com o pescoço praticamente na guilhotina, o rei D. João VI resolve voltar a Portugal. A partir do momento que a corte portuguesa vem ao Brasil com mais de 10 mil pessoas, e aqui já havia permanecido por 10 anos, muitos não queriam mais voltar. Haviam adquiridos patrimônios, aberto negócios, constituído família e se imiscuído na vida social do país. Já havia aqui uma classe estabelecida de comerciantes – portugueses e brasileiros -, que auferiam grandes lucros no comércio com a Inglaterra. Com o retorno da corte para Portugal, os comerciantes lusitanos exigiam também que o pacto colonial, ou seja, o monopólio do comércio com o Brasil – fosse restabelecido. Essa queda de braço entre colônia e metrópole foi o grande impacto para o processo de independência.

Em 7 de setembro de 1822, fortemente pressionado pelas elites brasileiras, de um lado, e pelas portuguesas de outro, D. Pedro decide-se por afrontar Portugal e declara a independência do Brasil. Esse ato de D. Pedro, as margens do Ipiranga, só foi possível com o apoio da Inglaterra, que intimidou qualquer reação de Portugal, além de, logicamente ter pago 2 milhões de libras esterlinas a título de indenização a Portugal. Dinheiro emprestado ao Brasil, pelos ingleses. Vários outros empréstimos seriam realizados anos depois. Enquanto os brasileiros brincavam no playground da emancipação política, os ingleses preparavam as faturas. Como exemplo, podemos citar, em 1827, condicionaram o reconhecimento da independência do Brasil à renovação dos tratados de livre-comércio assinados em 1808 e 1810. Pode-se dizer que o Brasil se livrou dos portugueses mais caiu nas garras dos ingleses.

Duzentos anos depois, temos algumas perguntas que ficam pendentes. Em quais aspectos progredimos? Em quais regredimos? Em quais não saímos do lugar? A partir desse diagnóstico críticos baseado na história, poderemos então desenhar um programa de correção de rumos para o futuro, modificando aquilo que fizemos de errado. Há muitos aspectos que precisamos levar em conta. A desigualdade social é uns pontos principais. Temos que ser coerentes, passamos muito tempo fazendo vista grossa para os efeitos da escravidão sobre o presente. Até hoje uma parcela diminuta da população controla uma grande parte da riqueza. A democracia é outro aspecto que devemos analisar com atenção, ainda mais neste momento delicado que vivemos. Também devemos olhar o meio ambiente, a educação, a cultura.

Poucas iniciativas alusivas ao bicentenário me vêm à mente. O Senado e a Câmara dos Deputados, por exemplo, organizaram atividades e publicaram livros. A Universidade de São Paulo vai reinaugurar em setembro o Museu do Ipiranga, após anos em obras, ou seja, são iniciativas isoladas. Precisamos celebrar as datas importantes do nosso país, e não as deixar passar despercebidas. Temos sermos cada vez mais patriotas. Viva o Brasil!

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Ronaldo Castilho, jornalista, professor de história e geografia e mestre em teologia (e-mail: [email protected])

 

 

 

 

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