A crença e a fé sob  questionamentos

João Salvador

 

Ainda estamos em um tubo de ensaio, numa bolha a respeito de nossa existência biológica, que segue questionável, sem saber quem somos e nem para onde iremos. Não sabemos se o organismo humano vai se transformar em um pequeno punhado de ossos numa lápide e, nem sequer, se a vida seguirá após um descanso dorminhoco espiritual numa trincheira desconhecida, de acordo com uma interpretação bíblica. Pois é, não sei se tudo é programado pelo desprendimento do espírito, pelos chamados “fios de prata” ou cordão fluídico, para uma outra dimensão, decretado por um espírito superior. Não me sinto à vontade para dizer se minha viagem será garantida.

Ninguém começa grande do nada, apenas no choramingo da saída de um útero pelo mundo estranho, quando começa a luta pela existência. A partir daí, não sabemos para onde vai toda a nossa trajetória armazenada de conhecimentos e de aprendizados, muito acelerada pela tecnologia.

A vida busca sempre a estratégia de se alicerçar pela necessidade de competir, dentro das entrelinhas de tantas diferenças culturais. Muitos não usam o crachá para passar na catraca do mundo dos sonhos e das realizações, porque a vida corre sempre através da crenças e da fé, dentro dos grandes sustenidos agudos dos valores da vida. Somente para os ateus e agnósticos a vida faz sentido sem a preocupação de uma vida infinita.

Aporta-se e atraca-se nos portos marítimos de todos os seres vivos, com respeito e apreço à vida, mas sem levar em consideração os mitos e fatos que os átomos da paz podem transformar, de uma hora para outra, a derrocada da humanidade, de exterminar todos os supostos clones de Deus, na  triste realidade da hipótese de poder voltar a ser um transgênico divino.

Na pirâmide da vida, somente por relatos, deve haver uma suprema corte celestial acima de tudo e de todos, e, na base, as discussões contaminadas pela crença e a fé, com sobejas parábolas e metáforas de quem será o carneiro de Abraão no espeto ou de Daniel, libertário das abocanhadas dos famintos leões, pelo salvo conduto de misericórdia.

A fé significa um remédio, algo doce ou amargo, que se acredita no que não é palpável, enquanto a crença é apenas um paliativo mais lógico no que parece acreditar, sem ter vivido a experiência, que enfim, tudo acaba se misturando no conceito de espiritualidade.

É difícil acreditar naquilo que não se conhece, embora  a religião, através da construção de rituais, dogmas e liturgias, demonstre conduzir caminho da verdade do sagrado, atribuído na lógica do mérito pelas ações e atitudes naturais.

A ressurreição é o retorno à vida, após um período de sonolência profunda no jazigo de espera, para o posterior julgamento do cartão de crédito ou de débito de cada um. Já, a reencarnação, é conhecida como renascimento ou transmigração, dentro de um conceito filosófico ou religioso, de que, após a morte, imediatamente inicia-se uma nova vida, com seu histórico de compensação.

Os reencarnados apenas mudam de nome, de endereço e a alma continua na plenitude de sua essência, a de aperfeiçoamento na continuidade da vida, do processo biológico evolutivo e atinge sua perfeição, com base no “Sermão da Montanha” de princípios morais.

Somos pensativos, criativos, inteligentes, para deduzir que tudo é mutável. Em nosso interior, a cautela sobre de onde viemos e para onde seguiremos, pode designar que somos seres infinitos, mesmo que certas religiões professem falsas crenças. A nossa intuição sempre reza para que não sejamos manipulados pelo medo, pela ignorância e pela imposição descabida, da temência aos raciocínios ilógicos e impositivos. A verdadeira fé consiste em acreditarmos em nós mesmos, seja lá como for, parafraseando Sócrates: “só sei que nada sou”. Pelo menos, até agora, ainda estou cheio de dúvidas.

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João Salvador, biólogo e articulista

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