Independência ou sorte?

Rafael Cervone*

 

No Bicentenário da Independência, cabe profunda reflexão sobre os erros que impediram a construção de um país mais próspero. As causas são múltiplas, sintetizadas nos itens que compõem o “Custo Brasil”. Mas, há um fator com grande peso: a falta de uma política eficaz para o fomento da indústria. Regredimos nos últimos 40 anos. O setor, que chegou a representar quase um quarto do PIB, participa hoje com 11,3%, embora sua carga tributária seja um terço do total.

Temos sorte, pois possuímos um dos maiores territórios do mundo, fartos recursos naturais e terras agricultáveis, a maior reserva hídrica, biodiversidade, petróleo e gás, ótimo clima e uma grande população, resiliente e disposta a enfrentar desafios. A fortuna, porém, não baterá sempre na porta e não é suficiente para a conquista do desenvolvimento.

Por isso, para gerar mais empregos, inclusão e renda, precisamos de uma política industrial subsidiada pelo fomento de P&D, com linhas especiais de crédito, incentivos à produção e regime tributário indutor de investimentos. Um projeto de país, não de governo. Cabe reduzir barreiras burocráticas e estimular segmentos nos quais somos competitivos. O avanço também deve ser focado na Manufatura Avançada, caracterizada pela digitalização e alta tecnologia. O setor tem feito imenso esforço nesse sentido, mas vem enfrentando barreiras muito pesadas nas últimas quatro décadas.

Muito mais do que a sorte do que temos em nossa natureza e do povo que somos, precisamos conquistar a independência plena. Isso significa melhor educação, cultura e saúde, moradias dignas, saneamento básico, renda elevada e mais bem distribuída, bem-estar social e autonomia científico-tecnológica. Afinal, são esses os indicadores reais de um povo verdadeiramente livre.

 

Rafael Cervone, engenheiro e empresário, é presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP).

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