Necessidade de um olhar atento à nutrição dos idosos

Douglas Yugi Koga

 

 

O Brasil começa a apresentar um novo cenário em relação à população, antes visto com frequência em países europeus. O crescente número de idosos no País chama a atenção para a necessidade de um olhar mais voltado à questão nutricional associada à atividade física, garantindo uma melhor qualidade de vida e longevidade para pessoas com idade mais avançada.

Pesquisa realizada pelo Dieese em 2021, mostra que as pessoas com mais de 60 anos de idade somam cerca de 38 milhões no Brasil. Dessas, 18,5% ainda trabalham para contribuir para a renda familiar. É preciso se atentar a essa população que vem aumentando e ultrapassará o total de crianças até 14 anos de idade logo em 2030.

Dos idosos que vivem em lares de repouso, 17% estão desnutridos. Por que isso é importante no aspecto da saúde pública?  Um dos motivos é porque a perda de peso involuntária de apenas 5% está associada ao aumento da mortalidade entre os idosos na comunidade.

Quando falamos em internações, o idoso que chega desnutrido para o tratamento de um quadro agudo (pneumonia ou fraturas, entre outras doenças) tem muito mais chances de desenvolver complicações, exigindo permanência maior no hospital. Em tempos de dificuldade para se conseguir um leito hospitalar, isso se torna um assunto de interesse público.

Dados de internação por quadro agudo sugerem que mais de 71% dos idosos estão sob risco nutricional ou já desnutridos. Lembrando que idosos são internados duas vezes mais do que os adultos entre os 45 e 65 anos e, quando têm alta hospitalar, 70% deles costumam precisar de cuidadores, o que acontece com 23% dos adultos da faixa etária anterior.

Do ponto de vista médico, não há tempo hábil para recuperar o estado nutricional do idoso durante uma internação para resolver um quadro súbito. Por isso, o ideal é que esse idoso tenha nutrição saudável e, caso precise de internação por outros motivos, chegue ao hospital sem esse risco.

A desnutrição é difícil de detectar, pois às vezes a perda de peso e de massa magra é lenta no decorrer do tempo e achamos que pode ser natural do processo de envelhecimento. Mas temos que ficar atentos às consequências. O envelhecimento traz alterações como a redução das reservas do organismo e fragilização dos sistemas de controle internos.

Como diagnosticar a desnutrição em idosos? Se a perda de peso não for proposital, por dietas ou medicações específicas, temos que considerar se o paciente tem alguma doença ou cirurgia que possa interferir. Uma maneira de perceber o risco nutricional é pela perda de peso por percentual, sendo aproximadamente 2% de redução do peso corporal basal em um mês; 5% em três meses; ou 10% em seis meses.

Não nos iludamos: a maioria dos idosos obesos é considerada desnutrida pela desproporção de força e potência muscular com relação ao peso. Atividades físicas associadas a dietas são importantíssimas em qualquer programa de acompanhamento.

 

Aspectos sociais agravados pela pandemia precisam ser observados. Idosos mais isolados e solitários acabam optando por não cozinhar, fazem lanches rápidos e fáceis, que não exigem idas ao mercado ou à feira. Além disso, a depressão pode surgir, levando à anorexia ou compulsão alimentar para dietas inadequadas. Fora a problemática da dentição, que merece atenção, visto que a saúde bucal inadequada leva a consequências nutricionais relevantes. Para agravar, a falta de qualquer atividade física prejudica em muito a manutenção da massa magra e, consequentemente, da potência muscular e da autonomia, aumentando até as chances de acidentes dentro de casa, como as quedas.

Reforço que um olhar carinhoso e observador para nossos idosos se faz necessário não somente no âmbito familiar, mas também pelos gestores em saúde pública em qualquer nível.

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Douglas Yugi Koga, cirurgião do aparelho digestivo e integra o corpo clínico do Hospital dos Fornecedores de Cana, da Unimed e do Gastrocentro de Piracicaba. Candidato a deputado federal pelo Novo

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