Paulo Campos
A Câmara Municipal de Piracicaba comemorou seus 200 anos de criação. Um dos destaques foi a celebração da sua própria memória. Primeiro, pela instituição de um Setor de Gestão de Documentação e Arquivos,que do prof. Guilherme Vitti, nos bons tempos de sua criação, à competente equipe multidisciplinar que dele hoje cuida, assegurou de legar aos nossos cidadãos do presente – e aos do futuro,certamente – livros, documentos, fotografias, manuscritos, jornais, quadros de artistas locais e nacionais e, mais recentemente a memória audiovisual, gravada em vídeo e áudio ouvindo nossos atores contemporâneos do legislativo.Comela estão guardadas preciosidades desde o nosso ex presidente Prudente de Moraes, eleito posteriormente o primeiro presidente civil da República, e milhares de documentos que hoje já não cabem mais nos espaços existentes na própria casa e precisariam ser transferidos para outro abrigo onde pudessem ficar à disposição da sociedade local.Além dessa importante retaguarda, tivemos o privilégio de reunir e ouvir um conjunto de ex presidentes da Casa, cujas contribuições foram decisivas para o seu êxito como instituição independente, ordeira e uma das referências fundamentais para o êxito da execução de políticas públicas em nossa cidade. E, num outro momento, celebramos, através de homenagens, o reconhecimento a várias instituições paradigmáticas da história e da cultura locais, como, por exemplo, a Irmandade do Divino Espírito Santo, gestora de uma festa que chega este ano aos seus 196 anos de atividades constantes.
O lançamento do livro “Uma comunidade do oeste paulista, os duzentos anos da Câmara da Vila Nova da constituição, 1822”, de autoria da competente e prestigiada historiadora, professora Marly Perecin, coroou e assegurou aos pósteros, um documento magnífico, permeando o nosso passado, com a constituição de vilas e cidades em São Paulo, entre elas, Constituição, depois denominada Piracicaba. Fala dos seus pioneiros, os primeiros desafios da constituição da sua hoje pujante agro indústria, baseada na cana de açúcar; passando pelos seus primeiros desafios urbanos – que permanecem inatingidos – como a preservação das ruas com seus eternos buracos; a segurança pública e a saúde, que sempre teve organização insuficiente para as demandas locais nestes 200 anos de história. Triste perceber que, passados 200 anos, mesmo com o grande desenvolvimento que conseguiu nos aspectos urbanos, empresariais, comerciais, nossa cidade ainda não dá conta do básico que eram nossos desafios urbanos em 1822. Problemas que foram ampliados pelas demandas por habitação popular, escolas e creches em tempo integral para nossas crianças e jovens nos bairros centrais e periféricos da cidade, mais espaço para lazer,esporte e cultura. E a preocupação diuturna com a qualidade da água dos rios que nos abastecem.
A Câmara escolhida e eleita naqueles dias, era formada basicamente por influentes agricultores, comerciantes, empresários, juristas. Hoje, felizmente, ela tem um novo perfil. Somos quatro vereadores negros que, pela primeira vez em nossa história recente,lograram êxito nas urnas, para podermos colocar em pauta problemas-discriminações que vivemos há séculos neste país, sem políticas mais objetivas para o engajamento da população negra nos espaços públicosnegligenciados por anos na educação, saúde, cultura, segurança pública, entre outras, por conta de tantos anos de distanciamento social e de injustificadas negligencias com o nosso povo, que é maioria absoluta da sociedade brasileira contemporânea. E certamente da sociedade piracicabana.
Meus sinceros desejos de que nossa Câmara Municipal continue pluralista, democrática, para que sejamos capazes de no futuro, celebrar avanços no campo da igualdade racial.
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Paulo Campos, vereador em Piracicaba (Podemos)