Sonetos caipiracicabanos

Uma homenagem de A Tribuna Piracicabana, que completa 48 anos de circulação diária neste 1º de agosto, com a produção de sonetos do mais brilhante dos poetas da cidade: Esio Pezzato, o Esiopoeta

 

Um declamador que não acompanha os ponteiros do relógio, pois se encanta quando declama; militante na imprensa local há mais de 50 anos e autor de 16 livros; membro das Academias Piracicabana de Letras e Maçônica de Letras; professor e trabalha na Secretaria da Ação Cultural (Semac), além de ser o presidente do Codepac de Piracicaba e — não precisaria citar porque todos sabem — poeta. É Esio Pezzato, já sinônimo de poesia na cidade (Esiopoeta), que faz uma homenagem aos 255 anos de Piracicaba com sonetos que chamamos de “Sonetos Caipiraciabanos”, apaixonados pela Noiva da Colina. “São todos do mesmo tema”, garante Esio, um vulcão de sonetos.

 

 

Eis a minha cidade

Eis a minha cidade! A de fulgor e encanto,
Por Brasílio aclamada a “Noiva da Colina”
A que Newton cantou feliz “adoro tanto”,
E Archimedes pintou numa paixão divina.

Eis a minha cidade! Aqui meus sonhos planto
Para frutos colher na estrofe purpurina.
Para de Ernst ouvir, num sonho sacrossanto
O seu nome tocado em suave ocarina.

Eis a minha cidade! Hoje tão maltratada,
Forasteiros cruéis agem na madrugada
Num desmando feroz que o tempo nunca vence-o.

Eis a minha cidade! E na paixão mais pura
Quero ter na hora extrema a suprema ventura
De seu nome cantar ante o vir do silêncio!

04.07.2007

Tesouro Paulista

Contemplo este painel que em brilhos fere a vista!
Cintilação de luz divina e contagiante!
Nosso lendário Rio em marulhar vibrante
É uma paixão maior de beleza e conquista.

Vê-lo uma vez somente e o pensamento amante
Eleva-se até Deus, que dele foi o Artista.
Seu eterno esplendor é um tesouro Paulista
Que está no coração de cada Bandeirante!

Meu velho Paiaguá guarda tantas histórias!
Conquistas imortais recobertas de glórias,
Tanta vida esquecer, não haverá quem finde-a!

E ao contemplar seu Salto extasiado de encanto,
Das pedras cuido ouvir magoado e triste canto:
– É o cântico de amor de melancólica índia!

16.09.2008

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Painel Caipira I

Contemplo, no horizonte, o céu todo estampado
De violáceos vergões. É inverno. Venta. É agosto.
Pálido, o Sol é um Rei vencido e destronado,
Mas surge a Lua cheia e lhe arrebata o posto.

Brilham faíscas e o céu fica todo estrelado.
Em delírio, fitando esse dossel exposto,
Lanço para o Infinito os olhos e extasiado
Sinto placas de luz moldando-se em meu rosto.

Lerdo, cordeia o Rio. O silêncio é profundo.
Na mansidão sem fim há espasmos e arrepio.
De tais cintilações me abasteço e me inundo.

Como audazes leões de tais alegorias,
Guardando com furor a alma de nosso Rio,
Vislumbro, em sentinela, os Bonecos do Elias.

18.09.2008

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Painel Caipira II

Rua do Porto. Em tudo há um misticismo denso.
O Rio em mansidão corre em silêncio… O Rio
Parece carregar num lúcido amavio
O olhar de um pescador em seu silêncio imenso.

Olhando o casario à beira d’água, penso
Num velho Povoador que aqui chegou, num frio
E lacerante inverno, e ouço, como em cicio,
O sonho de um Tupi em seu viver intenso.

E penso distinguir entre tantos fulgores,
Num delírio infernal nas misturas das cores,
Os Dutras a pintar maravilhosas telas.

Numa pedra do Salto e Lagreca me encanta!
E ouço uma voz febril: é Cobrinha que canta
Lindas canções de amor sob um luar de estrelas.

22.09.2008

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Paixão Caipira

Rua do Porto. Quando este Recanto fito,
Sinto no coração um quê sagrado e santo.
Definitivamente este Solo bendito
Faz que meu peito expluia em delírios e encanto.

Maravilhas sem fim de tão belo recanto,
São belezas sem par na tela do Infinito.
Súbito, a inspiração transmuda a voz em canto,
E penso ser Ramsés frente ao Nilo, no Egito!

Pirâmides de orgulho atufam minha Lira!
E com versos de brasa acendo a flâmea pira
Para louvar aos Meus sem cometer enganos!

E frente a esse painel de recônditos brilhos,
Uno-me a tantos mais, teus adorados filhos,
Pois somos todos nós, Caipiracicabanos!

24.09.2008

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Bucolismo Caipira

No céu há um festival de lusco-fusco de ouro.
– Parece que um pintor, a espanejar estrelas
Borrifa com pincéis emolduradas telas
A fim de esparramar esse belo tesouro.

O ouro em pó brilha no ar. E fico doido a vê-las
Buscando em ânsia achar algum ancoradouro
Para, numa bateia abrir-se em facho louro
E as cores explodir das puras aquarelas.

As sombras vão chegando. Aves, em bandos vários,
Reproduzem nos céus fantásticos cenários
Em ziguezagues tais que se embaralha a vista.

A ouvir da Catedral os sinos, me arrepio.
E cuido ouvir no céu d’uma araponga um pio,
Enquanto atrás da serra o sol abaixa a crista.

24.09.2008

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Parque da ESALQ

Fazenda São João. Escola Agronomia.
Nos verdes campos onde os meus passeios faço,
Vou colhendo sem pressa as flores da Poesia
Enquanto o olhar se perde, em êxtase, no espaço.

Verdes de verdes mil! Fantástica magia!
Estupor! Frenesi! Prazer! E passo a passo
Na mistura do encanto há um sonho que alumia
A alma que sente o ardor de caricioso abraço.

Trinados vão ao céu, há delírios alados,
Sombras mancham a terra e os musgos esverdeados
Parecem pintalgar esperanças sem fim.

E nesse divagar eu fantasio tudo,
Chegando a imaginar nesse passeio, mudo,
Ver Luiz de Queiroz passar perto de mim.

24.09.2008

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Velho Fantasma

Eis o Engenho Central. Espectro de um passado
Que outrora alavancou esta nossa Cidade
Com fainas de progresso e de prosperidade
Num insano labor ferrenho e adocicado.

Eis o Engenho Central, a Beira-Rio armado,
Sonhos acumulando em luz e claridade;
Vomitando a garapa, o álcool em densidade,
E sacas, aos milhões, de açúcar refinado!

É um fantasma imponente a refletir no Rio
Janelas e vitrais quebrados, retorcidos,
Numa visão de horror que provoca arrepio.

Eis o Engenho Central que se estende em destroços:
Tens apenas por glória – os dias já vividos,
Por presente, a sangrar, avermelhados ossos!

25.09.2008

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Painel Ribeirinho

Beira-Rio, a Avenida. Ali contemplo a glória
Sagrada e secular que tem a alma de um Povo.
Nesse imenso painel vou desfiando a memória,
Frente lembranças tais, em transe me comovo.

Cada relíquia guarda a imensa trajetória
E, a ânsia de progredir com êxtases eu louvo.
É o delírio da luz que grava a sua História
Entre fulgurações de ouro polido e novo.

Um velho pescador constrói a sua rede;
Na água pura do Rio ele mitiga a sede,
E de cardumes tira o familiar sustento.

E quando vejo um barco a cruzar seu destino,
Contemplo a exaltação à Festa do Divino,
E o Espírito Encarnado é luz nesse momento!

29.09.2008

 

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Manhã Caipira I

Principia a clarear. A luz a treva cobre
E, fulmíneo, febril, forte, fosforescente,
O Sol, como um Tritão em brilhos surge sobre
A fria madrugada irrompendo o Oriente.

O espetáculo lembra o referver do cobre!
Há uma explosão da luz brilhante, reluzente.
As aves, em zunzuns num canto vário e nobre,
Por entre capinzais cantam continuamente.

Do Rio a água se agita em fachos cristalinos.
Em santas oblações há sonoros arpejos,
Há rebrilhos da vida em solos de violinos.

E, à luz do Sol mais forte em constantes desejos,
Na ânsia de mais viver, na glória dos meninos,
Ao novo alvorecer lanço milhões de beijos.

29.09.2008

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Painel do entardecer

A tarde cor de cobre o largo espaço tinge.
Eu, poeta caipira em êxtase a contemplo.
Qual Artista construiu esse tão belo Templo?
– Sem resposta meu verso ecoa no laringe.

Nuvens formam no céu a colossal Esfinge,
Mostra do Deus maior, um panteísta exemplo.
Vejo um enorme altar no centro desse Templo
E mil astros brilhando igual vibrante impinge.

Distante dessa luz – a soberana Lua!
Trazendo a larga Noite e fustigando em tudo
Sombra mata borrão desse painel imenso.

De joelhos trago em transe, a alma no peito nua.
Penso doido cantar, porém o verso é mudo,
E no silêncio penso e tão-somente penso.

11.11.2005

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Alvorada Caipira

Um novo dia surge. A Leste o Sol irrora
Em eflúvios de luz. Sombras claras, compridas,
Atapetam o chão para passar a aurora
Que vem nos abraçar e à Vida dar mais vidas.

Límpido, o céu azul a imensidão explora:
Há brilhos de cristais em gotas coloridas.
Luzes, cores, mil sons… Logo o orvalho evapora
E o soberano Sol traz explosões suicidas!

O homem trabalhador vai para a sua messe
E como Prometeu no Cáucaso, em su’ânsia
Acorrentado, sonha e faz a sua prece.

Em tudo jorra a luz… De distância em distância
O milagre da Vida em glórias acontece
Enquanto pingam mel as flores em fragrância.

17.04.2009

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Instantâneo Vesperal

Contemplo, no horizonte, o sol em raios d´ouro
Iluminando a terra em meios-tons de ocaso,
Enquanto o velho Rio em seu ancoradouro,
Lança cristais de luz em tochas ao acaso.

Entre palpitações mil sonhos extravaso
Enquanto d´aves ouço os pios num estouro.
Verão, forte calor. A noite em seu atraso
Num puro frenesi espalha esse tesouro.

Árvores espectrais deitam sombras no Rio.
Um velho pescador vem trazendo seu barco
Na ânsia de ir se encontrar com familiares seus.

Anoitece por fim. N´alma sinto arrepio.
Enquanto o Rio lerdo ao longe faz um arco,
Vejo no céu brilhar milhões de olhos de Deus!

14.12.2009

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Madrugada Piracicabana

Enquanto a noite vai tecendo seus mistérios
De sombras espectrais de fátua densidade,
Muitos irão passar em velhos cemitérios
A noite virginal dentro da Eternidade.

Corujas nos mourões em aziagos saltérios
Gemem as guturais estrofes de saudade.
A lua em seu dossel lança raios cinéreos,
E o Rio rola manso e acalanta a cidade.

Com passo taciturno erro no meu destino.
Vou à Rua do Porto e o Elias da Ilusão
Saltitante parece um ágil bailarino.

Em mistérios me enfurno enquanto a bruma desce,
A Inhala Seca desce a Rua do Sabão,
E uma índia sai do Salto e ao céu lança uma prece.

14.12.2009

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Poder nefasto

A gana do Poder enraivece as pessoas!
Agem sordidamente, atacam desafetos,
Tira de nós o Humor, as Poesias, as Loas,
Sepultam a Paixão, matam nossos projetos.

A gana do Poder afunda nas lagoas
Todos os corações que dançam irrequietos.
Escarra ódio, bufa a ira, entreva as coisas boas,
E, gane gutural, tais cães em seus dialetos.

A gana do Poder tem balas na garrucha!
É imperativa voz que põe bruxos devassos
A arquitetar a infâmia, expele sânie e urina.

Porém, quando passar o efeito dessa bruxa,
A Paixão, a Poesia e o Humor em novos passos
Voltarão a brilhar na Noiva da Colina!

30.01.2010

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Crepúsculo Piracicabano I

A tarde vem pintando o céu com tintas d´ouro!
É um festival de luz que tem forma imprevista.
– Duvido que na terra um só pintor exista
Que consiga transpor à tela esse tesouro.

A Beira-Rio sobre o largo ancoradouro,
Contemplo esse painel que me ilumina a vista.
Meios tons, sombra e luz, há um duelo de conquista
E a treva vence a luz enquanto sonhos douro.

A passos lerdos sigo. O espetáculo imenso
Entra em meu coração, fere minha retina
E em êxtase maior em coisas santas penso.

Num instante, porém, e outra luz me ilumina:
E outras doidas paixões deixam meu sonho denso:
E a lua sangra luz na Noiva da Colina.

13.02.2010

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Visão Ribeirinha

Rua do Porto. Aqui o Piracicaba vibra.
Garças, biguás, martins, buscam o seu almoço.
Os cardumes febris pulam em alvoroço,
Sobre as pedras do Salto um homem se equilibra.

Um jovem nadador quer mostrar sua fibra
E nas águas mergulha… Há bem próximo um poço.
Ele, com destemor, com músculos de moço
Em braçadas febris sobre as águas se libra.

O Poeta contempla essa visão divina
Que esparge luzes sobre a Noiva da Colina
E em transe teço um verso e em transe me comovo.

E o sobrenatural de súbito acontece:
O velho Povoador murmura antiga prece,
E Santo Antônio surge e abençoa este Povo.

11.04.2010

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Divino

O Espírito Encarnado, o Espírito Divino,
Ao povo que ora em crença a sua bênção lança.
Há misticismo no ar, há um hino de Esperança,
O lábaro flameja em luzes, purpurino.

O fiel abre a boca e solta à voz num hino.
As reverberações de luz tingem a aliança
Que Deus com o homem fez. É o mistério que avança
Os séculos sem fim de um sagrado destino.

Um pombo alvinitente é o Espírito que voa.
Sua sombra reflete um Deus ainda mais puro
Numa mesma razão que seu cântico soa.

É o Pai unido ao Filho e ao Espírito Santo,
É o louvor da Trindade a pôr luz sobre o escuro,
Eis a Fé que convoca a Esperança num canto.

15.04.2010
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1767

O cocar na cabeça e nas mãos rija lança,
E um Paiaguá caminha esta tão fértil terra.
O Salto regurgita em hinos de esperança,
No mato uma araponga estridulante berra.

Quebra-se a calmaria e tem final a dança.
Desconhecido olhar frente à paisagem erra.
Um destemido passo a mata adentro avança,
A tribo toda se une e arma-se para a guerra.

Sobre a calma do Rio as pirogas capazes
Chegam rapidamente à barranca portuária
Conduzindo em seu bojo homens fortes, audazes.

– “A margem, à direita!” A voz é poderosa.
E com forte comando e paixão visionária,
Neste chão planta os pés o Povoador Barbosa!

15.04.2010

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Primeiros Tempos

Sob o frio de julho antecedendo a agosto,
Quando o vento feroz blasfemava e gemia,
O arguto Povoador firma-se em nobre posto
E passa a comandar gente rude e bravia.

Com chicote nas mãos (a mostrar nisso gosto)
Conduz a multidão com sua valentia.
Tem firmeza na voz, duras feições no rosto,
E manda aqui construir igreja e moradia.

Barbosa com poder e rigidez imensa,
Manda que o ímpio se ajoelhe e que teça uma crença
E com força conduz a grande turba insana.

Mal sabe ele, porém, que em séculos futuros,
Será de homens viris, audazes e seguros,
Toda a população caipiracicabana!

15.04.2010

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Sensação Divina

No céu há um festival de lusco-fusco d´ouro.
Busca a treva vencer um pálido clarão.
Sensitivo ao momento eu busco inspiração
Vendo o Rio estender-se ao largo ancoradouro.

O sol agonizante ainda parece um touro
Em sua luta insana a brilhar num desvão.
Mas aos poucos a treva – igual mata borrão,
Vence e tritura a luz que morre em seu desdouro.

No entanto o espaço aberto, em mil iluminuras
Pinga estrelas sem fim no imenso Firmamento
E faz brilhar a lua encerrada em ternuras.

Em tudo sinto as mãos de um Deus onipotente,
Que fez a treva e a luz num único momento,
E em toda a Eternidade Ele se faz presente.

16.04.2010

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Outono a Beira-Rio

O outono vai tingindo as folhas de amarelo.
Há misticismos no ar. Pálido, o sol esmaece.
Sobre as águas do Rio a lembrar um castelo,
O Engelho mais formoso e trêmulo aparece.

Com passos de caipira e meus sonhos revelo:
Pudesse eu retratar esse painel, pudesse
Eu, numa enorme tela e em delírio mais belo
Captar toda essa luz de mãos postas em prece!

Mas condenso a palavra, amoldo-a em versos, prendo
Num longo alexandrino o meu louco desejo
E sinto a inspiração como ferro fervendo

Prender-se na minh´Alma igual preciosa gema,
E ofertar nesse outono o meu ardente beijo
A esse postal de luz nas rimas de um poema!

03.05.2010

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A morte do Povoador

O velho Povoador já com as vistas cansadas,
Relembra o Rio, o Salto, as formosas colinas,
Sua desobediência escondida em surdinas,
Quando aqui decidiu pôr as suas pegadas.

A viagem recorda… As canoas pesadas
Descendo o Tietê com águas cristalinas,
E eis o desconhecido, e as gentes assassinas,
Os índios se ocultando e tramando ciladas…

Valeu a pena, pensa, em seu sonho profundo…
Intempérie venceu e agora, num segundo,
Antes de ir residir no azul da Eternidade,

Com lágrimas no olhar vislumbrando o futuro,
Barbosa os olhos fecha… Está certo e seguro
Do porvir que terá esta sua Cidade!

03.05.2011

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Batismo

Essa beleza pura, exótica e tamanha,
Que magnetiza em luz olhares a distância,
Veia aorta a sangrar da terra em sua entranha,
Exala o azul da vida em cores de fragrância.

Essa beleza em brilho é fruto da montanha!
Vem das Minas Gerais, vem da rara abundância
Dos Rios Jaguari e do Atibaia e ganha
O belo Porto antigo e segue imerso em ânsia.

Glória nobre de um Povo é pura idolatria,
Delírio singular que enobrece e extasia,
É paixão singular que brota e não se acaba.

Em tuas águas, Rio, eu recebi num trismo,
Do Espírito Encarnado o mais puro batismo,
Meu velho Rio amado, oh! Meu Piracicaba!

31.05.2010

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Manhã Caipira II

As velhas chaminés do Engenho centenário
Parecem fumegar nessas manhãs de frio.
Como floco de espuma atapetando o Rio,
A fria cerração toma um aspecto vário.

Uma garça arrepiada embeleza o cenário.
Há impressão que a água ferve em mágico cicio.
Sobre o Salto a neblina escorre em amavio,
Na copa dos bambus estridula um canário.

A caipira manhã os corações aquece.
Fumegante e imponente as chaminés do Engenho
Quais turíbulos vão abençoando na prece

Os rudes corações que andam pelas encostas.
Olhando essa visão de lírico desenho,
De joelhos vou ao chão e rezo de mãos postas.

12.06.2010

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Entardecer Piracicabano

Fagulhas de ouro em pó iluminam o espaço,
E um sol tremeluzente arqueja no horizonte.
A minúcias atento, o olhar oblíquo e lasso,
Contemplo esse painel com a luminosa fronte.

Pois o comum transeunte em seu lânguido passo
Não vislumbra essa luz fulmínea, esse desponte
Das vibrações de Deus e em seu lerdo compasso,
Abaixa seu olhar, fecha-se atrás de um monte.

Sinto palpitações ao ver tais aquarelas!
O espetáculo rubro incendeia o poente
Enquanto uma araponga estridula harmonia.

Ah, soubesse pintar essas visões tão belas!
Se o espírito de um Dutra entrasse-me na mente…
– Só me expresso, porém, em pálida poesia…

20.07.2010

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Crepúsculo Piracicabano ii

Aleluia do sol sangrando raios de ouro
Atapetando o céu de fagulhas brilhantes.
O ocaso em oração freme ao rubro tesouro
Emanações de luz de variadas cambiantes.

À luminosidade o largo ancoradouro
Sobre o Rio reflete incendidos diamantes.
A ramagem debrua um estilete louro
Onde os olhos de Deus refletem-se constantes.

Revoadas e zunzuns das aves tagarelas
Põem musicais no espaço e entre delírios tantos,
Os meus olhos na luz miram tais aquarelas.

A cidade anoitece entre belos encantos,
E ao mirar cenas tais tão líquidas e belas,
Dentro da mente teço em preces, os meus cantos!

23.07.2010

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Contemplação

A distância contemplo o contorno da Serra
Onde se deita o Sol apagando arandelas.
E logo a noite traz a lua cheia que erra
Mostrando ao seu redor um carrossel de estrelas.

Assim o largo espaço abre-se em passarelas
E em miríades de luz põe brilhos sobre a terra.
Nas noites hibernais límpidas, claras, belas,
O Cruzeiro do Sul brilho maior descerra.

Em êxtase maior com meus olhos contemplo
Via Láctea estender-se em milhões de anos-luz
Sobre nós colocando a abóboda de um Templo

Onde o Grande Arquiteto e Senhor do Infinito
Paira acima de tudo e firme nos conduz
Para um Amor maior, mais puro e mais bendito.

23.07.2010

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Painel noiva colinense

Lusco-fusco. No espaço as nuvens arruivadas
Pelos fachos de luz que o sol ainda golfeja,
Refletem mil painéis de telas esmaltadas
Num cromatismo etéreo e de paz benfazeja.

Extasiado contemplo essas telas pintadas
Pelo Pintor maior que mil cores bafeja
Sobre o etéreo dossel que as cores concentradas
– Fagulhas de ouro em pó! – sobre a terra despeja.

Sinto o sopro de Deus sobre a densa ramagem
E pareço fitar um oásis no deserto
Enquanto os ventos bons entre as roseiras agem.

Respiro um cheiro bom de alecrim e canela,
E frente a esse cenário imenso, largo e aberto
Cuido em tudo ver Deus da terra sentinela.

23.07.2010

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Soneto da Seresta

À Beira-Rio, sob as noites estreladas,
Em que a lua flutua e fosfórea flameja,
Almas sentimentais, de amores encantadas,
Soltam a voz no céu de forma benfazeja.

Ao mágico violão, Beluco traz dobradas
Emoções a noss´alma ebriante e sertaneja.
Entre luzes Bolão põe luz nas madrugadas,
Fábio revive um sonho e em delírios valseja.

Outros fulguram mais na Noite da Seresta.
Cobrinha e Alexandrino e Penezzi na prece,
Num coro celestial brilha na mesma festa.

E entre outras vozes mil a noite se ilumina.
E no instante de luz outra glória acontece:
Frei Marcelino canta a Noiva da Colina!

30.07.2010

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Painel Crepuscular

O ocaso pinga luz em labaredas quentes.
Num brilho sem igual às nuvens arruivadas
Passeiam pelo espaço em convulsões frementes
Pintando a terra toda em sombras matizadas.

Piados de inhambus e rolas assustadas
Preludiam a noite entre moitas silentes.
Às luzes dando adeus às cores desmaiadas,
O céu vai negrejando em sombras esmaecentes.

Anoitece de vez. A branda aragem fina
Sobre as águas valseja e forma as ondas mansas
Que em espelhos nos mostra uma imagem tremida.

Estonteante de luz da lua peregrina
Entre estrelas passeia e em frenéticas danças
Tudo no Rio tem a imagem refletida.

11.08.2010

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Festões de luz

Na mente o pensamento é somente faísca
Que procura acender o facho da razão.
A palavra qual fogo, indômita rabisca
Uma ideia qualquer buscando inspiração.

De repente uma luz muito distante pisca
E em busca dessa luz permeia a imensidão.
Vem um perfume bom, uma essência de almíscar
E o pensamento explode arrebentando o chão.

Na terra árida e seca explode a Primavera,
Nos troncos podres, nus, a vida multiplica
E há misticismo no ar que alma jamais traduz.

Da palavra esverdeada explodem flores de hera,
A água passa a correr em cristalina bica,
E o céu antes nublado arde em festões de luz!

10.09.2010

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Primavera Caipira

Setembro. A primavera esgarça as suas flores
Perfumando jardins da Noiva da Colina.
Espetáculo tanto é recheado de cores,
Numa explosão de luz que estonteia a retina.

Nesse êxtase sublime a glória purpurina
Deixa a rosa sangrando em cálidos amores.
Delírio. Frenesi. E a Noiva se ilumina
Exótica e feliz em tantos esplendores.

As carícias de luz beijam bocas vermelhas,
A saliva da rosa adoça favos flavos
Em revoadas de luz de milhares de abelhas.

Gotas grossas de mel numa paixão imensa
Sobre os lábios da Noiva exortam uma crença
E na paixão de amor, ajoelham-se escravos.

19.09.2010

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Pátria Caipira
(Para Thaís, Thalles e Esio, meus Filhos)

Pátria é o foco da luz, solo denso e sagrado
Onde plantamos pés e pendemos em frutos.
É nossa rude voz num canto apaixonado,
E fincamos raiz e tecemos tributos.

Pátria é onde brilha o sol nas horas, nos minutos,
É onde colhemos mel mais puro e adocicado.
Nosso sonho febril, nossos modos astutos,
Doce sabor do sal e torrão abençoado.

Pátria é o canto maior de interesse supremo,
As horas de viver o sonho mais extremo,
Os dias do porvir e um sonho soberano.

Pátria é esse Rio em luz a causar sobressalto,
Piracema a luzir nas encostas do Salto,
É a glória de cantar: – sou piracicabano!

12.10.2010

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Lar
(Aos de Casa)

Pátria é colo de Mãe, é abraço forte e amigo
De Pai, é atravessar a rua conhecida,
É achar em qualquer casa um poderoso abrigo,
E encontrar no jardim, a roseira florida.

Pátria é a amizade pura, adorada e querida,
É à mesa um bom café, bolo, doce de figo,
A conversa informal, a breve despedida,
E o passo desviar da trama e do perigo.

Pátria é o doce sonhar com um breve retorno,
É poder assar pão no mesmo velho forno
É ver roupa quarando ao vento no quintal.

É a Sagrada Família, a Mãe e o Pai por perto,
É a foto na parede, o riso franco e aberto,
É poder saborear a vida ao natural.

30.10.2010

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Painel Caipira III

Sobre o espumante véu do tenebroso Salto
Provenientes de Itu, no inverno rigoroso,
Com ordens de Barbosa, homens em sobressalto
Contemplam o painel sob o sol preguiçoso.

Na espreita um Paiaguá pressente haver o assalto
Do homem branco que chega a brilhos, poderoso.
Arco e flecha nas mãos, escalando o morro alto,
Pronto para atacar queda-se à espera, cioso.

As pirogas cortando a água barrenta e fria,
Embicam-se na rampa e homens fortes e rijos
Entram na terra firme e de beleza rara.

Forte ecoa no céu um nome em sinfonia:
“Piracicaba!” e a luz clareando esconderijos,
Ilumina o lugar aonde o peixe para!

04.11.2010

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Saudade Caipira

Saudade – chama acesa a lamber uma ausência
Provocando a ilusão e uma torpe mentira.
Verdade que provoca angústia na existência,
E faz o coração ter ímpetos de lira.

Um vazio a tocar em firme consistência,
Uma canção que trai a febre que delira.
Silêncio a perpetrar em fúnebre regência,
A orquestra que tremula às chamas de uma pira.

E pressentir que o canto ainda era necessário,
Porém, vazia está a gaiola onde o canário
Cantava as tradições de um povo e seu folclore.

E a essa ausência não há pintassilgo que trine:
É saudade que clama a ausência de Chiarini,
De Guerrini, Maynard, Iglésias, Carradore.

05.11.2010

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Poetisas

Carla, Ivana, Ivani, Leda, Cármen, Marisa,
Myria, Shirley, Raquel, Sílvia, Cecília, Helena…
E outras mais, tantas mais… Junto à brisa serena
Tecem inspirações junto à serena brisa.

E cada alma sublime evoca a cantilena
Dos amores sem fim de maneira precisa.
Cada alma evoca a luz, cada alma – poetisa! –
Poetiza o sublime e o amor, no céu, acena.

Glória ao Sublime Deus que as fez cantar em versos,
Modelando em canções dos timbres mais diversos
Conquistam nosso ser no sonho que seduz.

Poetisas que eu amo! A vós de almas inquietas
Há um séquito de amor de todos os Poetas
Que aplaudem com prazer vossos fachos de luz!

09.11.2010

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Alvorada Caipira

Sangra o sol no Oriente em labaredas de ouro!
– Sublime festival que traz um novo dia! –
O céu abre sua arca onde fulge o tesouro
Dessa festiva luz que o áureo espaço alumia.

Com a palheta nas mãos e Deus – na fantasia
Vai borrando de luz o Dia nascedouro.
Tudo transfixa a cor, à sublime magia,
Enquanto pelo céu, de brilhos há um estouro.

E tudo se ilumina; as pedras, os cascalhos,
A cachoeira a fremir em lúcidos cocares,
As aves em revoada, a árvore ao pé da serra,

Tudo vibra e palpita e há pios e farfalhos.
A Natureza explode em cores pelos ares,
– Deus descansa a palheta e em transes beija a Terra.

27.11.2010

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Enchente

O Rio embrutecido, águas espadanando
Numa concentração de fogos de artifício,
Ronca e berra bravio e, livre de comando
Em seu bojo carrega as armas do suplício.

Diluvianos marnéis descem do precipício
Cavando socavões e casas arrastando.
Parece que é o dilúvio em seu trágico início
O Rio embrutecido, águas esborrifando.

A água barrenta invade as casas e avenidas,
Aranhas e escorpiões saem de suas tocas
Passeiam urubus sobre manjar funéreo.

Negra visão de horror: as casas imergidas
Colocam aflição e dor em nossas bocas,
Fazendo do cenário um negro cemitério.

26.01.2011

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Manhã Ribeirinha

As velhas chaminés do Engenho centenário
Nesses tempos de inverno e rija ventania,
Recordam as manhãs onde a neblina fria
Amalgamava o céu de um lírico cenário.

O orvalho gota a gota em cada ramaria
É diamante luzindo em sonho imaginário.
Cristalino cristal que um mestre lapidário
Busca o sonho esculpir em sua fantasia.

É rotina frequente essa manhã caipira,
O Rio em mansidão, preguiçoso espumeja
Um azulão solfeja uma empírica lira.

Assim Piracicaba amanhece em seus cantos.
O sol reflete luz, toda a cidade beija,
E a Noiva da Colina exsurge em mil encantos.

02.05.2011

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Catedral

Mostrando majestade e imponência divina,
A nossa Catedral de Cristo mostra a glória.
Nosso Templo de fé é a Caipira Sistina
Onde um frei camponês tem crença inflamatória.

Reduto de paixões fere nossa retina
E as vibrações de Deus queimam nossa memória.
É onde ordeira e fiel a Noiva da Colina
Brada hosanas de luz em prece Serafina.

Na proporção sublime é o esplendoroso Templo
Onde o Rei Salomão rendeu as suas graças
E onde o Eterno habitou em Seus sonhos supremos.

Contritos nessa fé mostramos tal exemplo:
Na Ceia do Senhor erguemos nossas taças,
Comemos de Seu corpo e Seu sangue bebemos!

02.05.2011

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Cena Ribeirinha

Imóvel a espreitar apetitoso almoço,
Sobre a margem do Rio a garça é uma escultura.
Com magnético olhar, longilíneo pescoço,
De Rugendas recorda uma grácil gravura.

Refletindo no espelho o seu pálido emboço,
Raro ataque prepara em inquieta lentura.
Mas ágil como o vento e num rápido esboço,
Seu bico as águas fere em terrível ternura.

Nervoso, espadanando em aleivo constante,
O peixe, preso ao bico, é presa suculenta
Enquanto voa a garça e alcança o ipê florido.

E o peixe à luz do sol rebrilhando a diamante,
À formidável garça, estático alimenta
No silêncio da morte e sem causar ruído.

09.05.2011

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Amanhecer na Noiva da Colina

Entre a neblina densa, alacreada, espumante,
Mornos raios de sol fulminam densas setas.
O espetáculo lembra intrínseco diamante
Triturado na luz de irradiações inquietas.

A luz fumega e freme e de um ponto distante
Parece condensar labaredas secretas.
Sobre o Rio a manhã renasce causticante
Num delírio triunfal de mil luzes diretas.

De súbito contemplo, em doido sobressalto,
Essas chusmas de luz que atapetam o espaço
E fazem rebrilhar a ouro líquido o Salto.

As nuvens cor de fogo esgarçam a neblina,
E em lírico fulgor abre ao sol o regaço
O níveo tafetá da Noiva da Colina.

09.05.2011

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Nosso Rio

Nosso Rio – fulgor de maravilha e encanto
É jugular de Deus a correr sobre a terra.
Apoteose divina onde o medo e o quebranto
Entrelaçam as mãos na paixão que se aferra!

Nas pedras a água bate em sonoroso canto
E infrene o Salto explode em saraivas de guerra.
Minúsculos cristais nas auréolas de um santo,
Que transfeita em neblina entre as ramagens erra.

Aqui, antigamente, o Paiaguá vivia,
E ao descambar o sol, e ao nascer outro dia,
Era o Rio o seu Lar, e a Terra a sua Pátria.

E essa imensa paixão é o delírio de um Povo
Delírio sem igual que é mais forte e é mais novo,
E não existe um só que aqui não idolatre-a.

19.05.2011

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Glória interiorana

Nos densos canaviais espadas de esmeralda
Apontam para o céu as lancinantes setas.
Lembram os canaviais esverdeada grinalda
De uma esperança presa em ambições concretas.

Vento fino assobia e no espaço desfralda
Num frenético baile as lanças irrequietas.
Nas plantações sem fim cada touceira espalda
Doces gomas de mel de doçuras repletas.

E com facão às mãos, o rude bóia-fria
Num insano labor – na frenética luta,
Deita feixes ao chão de açucarada cana.

A garapa a escorrer é o sangue da poesia,
E a usina a trabalhar de forma ininterrupta
Para a Cidade traz a glória interiorana.

16.05.2011

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Inexistência

Não existe por certo e não creio que exista
Outra paixão maior e de beleza tanta:
Ver o Piracicaba estender sua manta
Bordada de cristais que, ao sol, ferem a vista!

É delírio sem par, nesse rincão Paulista,
É visão que entorpece e em frêmitos encanta.
Quem seus sonhos de amor nesta Cidade planta,
Sabe o que é ser Caipira e se torna um bairrista.

E aos seus olhos em luz aparece o Mirante,
E o Engenho Central refletindo brilhante,
A sua magnitude empoeirada de glória.

Piracicaba tem o brilho da Beleza,
Jóia rara a luzir no Altar da Natureza:
– Somos um povo forte e amamos nossa História.

19.05.2011

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Noite na Fazenda dos Brunelli

Inverno. O sol mais cedo oculta-se entre brumas
E acende logo a noite o desfilar de estrelas.
No dossel do Infinito atento fico a vê-las,
Enquanto a lua brinca esconder-se entre espumas.

Na casinha distante alambreando arandelas,
Luzes em procissão dão sombras às anhumas.
Mariposas febris em seus voos de plumas
Ágeis cortam o céu e não deixam sequelas.

Uma coruja pia, um urutau desperta
De seu dia de sono, erram os vagalumes,
E a lua agora brilha e põe clarões por tudo.

A noite está mais fria. O corpo quer coberta.
O vento faz soprar excêntricos perfumes,
Em delírio contemplo em êxtase, isso mudo.

23.05.2011

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Entardecer na Noiva da Colina

Enquanto pinga o sol nas fímbrias do horizonte
Fagulhas de ouro em pó, densas nuvens douradas
Despejam sobre a terra as sombras desmaiadas
Desenhando em painéis brutal rinoceronte.

Na distância da Serra há um colossal remonte:
As trevas em conflito à luz em barricadas.
Em duelo sem igual, em marchas cadenciadas,
Cuidam vencer o dia atravessando a ponte.

Nesse crucial abismo entre as trevas e as luzes,
De um lado brasas, de outro, explosões de arcabuzes,
Sinto o denso equilíbrio a arder em jubileus.

E nesse altar de fogo em sombras e fumaças,
Surge o Grande Arquiteto a pairar sobre as massas:
Que a humana voz passou denominá-Lo Deus!

23.05.2011

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O Piracicaba

O Rio é colossal. Sua beleza rara
Causa forte estupor àquele que o conhece.
No Salto a água em vulcões o precipício encara
E rola espadanando os murmúrios de prece.

Este Rio contém a transparência clara
De amores e paixões onde tudo acontece.
É nosso autorretraro, é a nossa própria cara,
Nossa crença de amor, nossa divina messe.

É delírio maior exaltá-lo em meu canto!
É pura a inspiração para, cheio de encanto,
Em êxtase cantá-lo o quanto devo e posso.

A esta oração de amor sempre que eu o contemplo
Julgo vê-lo e equiparo-o ao mais suntuoso Templo
Pois, presente de Deus, esse Rio é só nosso!

25.01.2012

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Fevereiro. Noite de lua cheia

Esta lua que brilha em esplendor profundo,
Reflete sobre o Rio a sua majestade.
É prata refinada a mostrar para o mundo
Todo o imenso fulgor desta nossa Cidade.

Os barcos em balé na valsa do segundo
Vão e vêm, vêm e vão, no baile da saudade.
Nessa fulguração de mil sonhos me inundo,
Bate meu coração com força e densidade.

Este Piracicaba ao luar se faz lindo…
Junto ao Salto há explosão de mil peixes brilhantes
A provocar em fúria o som da Piracema.

Coloridos cristais num frenesi infindo!
Diamantes a brilhar em glórias coruscantes,
Que tais visões traduzo em rimas num poema.

11.02.2012

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Paixão de fogo

Procuro decifrar nas belezas que vejo,
Toda a paixão de fogo em luz que nos irmana.
É uma explosão genuína e grave e soberana,
Que aos nossos corações traz amor e desejo!

Esse louco pensar, essa doidice insana
Faz o lábio cantar uma prece em ensejo.
E o vendaval em ritmo e em modo sertanejo,
Faz a alma nessa luz, ser piracicabana!

Por isso estou aqui, olhando o nosso Rio,
E, contemplo feliz nosso Salto e o Mirante,
Nossa Rua do Porto em eterno cicio.

Desfraldo para o céu a minha alma caipira,
E canto com a voz mais pura e mais vibrante:
Sou piracicabano e sou mais um Caipira.

02.06.2020

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Nosso Eterno Rio Piracicaba

Eu fico olhando o Rio, em sua alta imponência,
Em borbotões jorrando a sua água para o alto.
Magnetismo que vibra em forte efervescência,
Que causam convulsões às pedras de basalto.

É o sobrenatural de eterna persistência
Essa volúpia insana a rugitar o assalto
Das águas para o céu em sublime frequência,
De abismos colossais no esplendor de seu Salto!

Rio Piracicaba – eterna é a sua glória!
Guardas deste São Paulo a imensa trajetória
Do Bandeirante audaz que ao pôr os pés aqui,

As Colinas povoou de forma peremptória.
E gravou neste solo a colossal história
Que o “filho ausente sente a suspirar por ti!”

26.01.2021

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Manhã da Noiva da Colina

Ao fulgor da manhã, do sol que brilha intenso,
Extasiado contemplo o majestoso Rio.
É delírio, é paixão, é lúcido amavio
Que meu olhar se queda ante delírio imenso.

À sobrenatural visão em sonhos penso
Ouvir a voz de Deus em doce murmurio;
E anjos num canto sacro, em mágico cicio,
E um turíbulo brilha enquanto esparge incenso.

O coração palpita em êxtase profundo!
Dessa visão do céu o meu olhar inundo
Enquanto a luz do sol vagarosa se inclina.

E na paisagem pinta as miragens da sombra
E tudo borra em cor e isso tudo me assombra
Nessa manhã de sol na Noiva da Colina.

27.01.2021

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Esta velha rua

Quando por esta Rua o lerdo passo ponho,
E fico contemplando este Piracicaba,
A alma em êxtase vibra e entre delírios sonho
E esta paixão maior no peito não se acaba.

O Rio colossal onde o abismo medonho
Armadilhas esconde, onde o velho emboaba
O seu tesouro busca e onde alegre e risonho
Descobre a sua luz e constrói sua taba!

Com meus olhos assim e tudo sondo e absorto
Eu vejo o ancoradouro – antigo e velho porto
Que a frota recebeu do velho Povoador.

E num misto de sonho e na glória suprema,
Fez aqui a primeira estrofe de um poema
E onde cantou sorrindo os seus versos de amor!

27.01.2021

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Glória eterna

É glorioso o prazer que dentro d’alma sinto
Quando, ao te visitar, de maneira imprevista,
Com meu olhar te vejo e me sinto um artista
E em delírios de amor, com palavras te pinto.

E te decifro assim, em cada labirinto
Que se oculta em mistério à minha própria vista.
Por isso te amo assim dentro dessa conquista,
Por que assim eu te amei seguindo o próprio instinto.

E quando em alegria em luz eu te contemplo,
Rogo à glória maior do Supremo Arquiteto
Que te erigiu à sombra onde existiu outrora

Do velho Salomão o seu sublime Templo.
Pois tu, somente tu, sendo Justo e correto
Deu a Piracicaba esse fulgor da aurora!

27.01.2021

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Brilho eterno

… E quando a inspiração dentro do peito brilha
Meus versos alinhavo em sensação estranha.
Mais pareço a tecer a teia igual a aranha
Que vai bordando à luz do sol, sua armadilha.

Assim a inspiração – verso após verso trilha
Desconhecida estrada onde enorme montanha
Oculta o seu mistério e se oculta e se entranha,
E ao peregrino mostra a sua maravilha.

E em versos vou traçando o emaranhado todo
Para construir meu verso à luz que brilha tanto,
Não mostrando, porém, sua forma de lodo

Onde tudo moldei de maneira indiscreta.
Mas ao fim da jornada eu só desvendo o canto
De tudo o quanto usei na Arte de ser Poeta.

27.01.2021

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à Beira-Rio

Gosto de contemplar essa beleza tanta
Que a meus olhos se mostra em desfile de gala.
O Rio, o Salto, o Engenho, o Mirante que encanta,
E a sensação de paz que tanto a alma me embala.

Essas belezas tais e o turista se espanta
E chega, na emoção, perder a própria fala.
Meu coração poeta explode a voz e canta,
E uma essência de paz brota de cada vala.

O alecrim perfumado, o cheiro de canela,
Flamboyant a florir suas variadas flores,
Pássaros a cantar nessa visão tão bela…

Tudo me encanta e traz sorrisos à minh’alma!
E um poema sagrado explode a rima em cores,
Eu, meus olhos descanso e decanto essa calma.

28.01.2021

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Sombra do Passado

Venho te visitar, velha casa, onde outrora
O Povoador Barbosa arquitetou seu plano
De construir aqui – com fulgores da aurora,
Este marco maior do piracicabano!

Deixo as portas de par em par abertas, fora
Fica o calor do sol, o Rio soberano,
Aves em sinfonia, um sonho em luz que irrora,
Uma festa de cor, um delírio, um arcano…

Mistérios mil aqui, ali… olhando em volta
Há nuvens de mistério, enquanto o belo Rio
Embeleza a cidade e inspirado se solta…

Estupor, frenesi, delírios mil – em tudo
A sombra do passado é lúcido arrepio,
Que este Panteon contemplo e fico mudo, mudo.

29.01.2021

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Dança do Destino

Na sombra do passado existe a luz fremente
Que nosso ontem clareia em luminosidade.
– Um passo para a frente e a luz incandescente
Seu foco na distância enevoa em saudade.

E preso, o coração, na sensibilidade,
A luz é uma lembrança às vezes displicente.
Faz sorrir, faz chorar, traz luar, claridade,
Traz ilusão, traz sonho e tudo num repente.

Essa luz que clareia é a mesma luz que nega:
Não apaga o passado e mesmo à fé mais forte
Esquecê-la é demais e ninguém a renega.

Do passado a lembrança é uma vontade viva.
Se às vezes lembra a vida, às vezes lembra a morte,
– Essa luz imortal faz nossa alma cativa.

29.01.2021

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Em silêncio

Em silêncio contemplo essa beleza imensa
Que fulgura ao olhar deste Poeta caipira.
E dos lábios murmuro uma suave crença
Enquanto ao derredor tudo canta e suspira.

No peito o coração toma a forma de Lira
E tece a esta visão, versos em recompensa.
E tudo brilha em luz e isso tudo me inspira,
Enquanto o Salto ruge em sua forma intensa.

Das matas em silêncio ouço pios, pipios,
Como mistérios do ar excêntricos perfumes
Emanam do vapor das flores, das abelhas.

E pássaros em voo em brilhos luzidios,
E ao longe cuido ver milhões de vagalumes
Iluminando a noite em suaves centelhas.

29.01.2021

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Rio eterno

Arde em meu coração a chama ígnea e sagrada
Quando vejo este Rio a pulsar flamejante.
Impotente a alma fica assim apaixonada,
Dessa força de Deus a uivar altissonante.

Tudo vibra, tem luz, tem vigor e o constante
Da música a tocar de maneira sagrada…
Mais parece que o Rio é o enamorado amante
Que aos roncos d´água tece uma áurea ária encantada.

Esse cocar de luz translúcido – diadema
Na fronte do Tupi grava um longo poema
Com rimas de cristais que à beleza se inclina.

E a essa força maior de um Supremo Arquiteto
Esse Rio de luz é o brilhante projeto
Com que Deus enfeitou a Noiva da Colina.

01.02.2021

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Declaração de amor

Quando à distância vejo o esplendoroso Salto,
– Águas a espanejar miríades de estrelas! –
Meu rubro coração eleva-se para o alto,
E emanações de Deus sinto que posso vê-las!

Translúcida visão – e caminhando pelas
Matas cheias de luz, é imenso o sobressalto:
O Mirante flutua em leves passarelas,
E o respirar de Deus toma-me num assalto.

Feliz os passos ponho e onde outrora a beleza
Imortal dos Barões e o fantástico Engenho
Eu tento decifrar na bela Natureza

Esses sonhos azuis na paz que não se acaba.
Por isso trago aqui meu coração e venho
Dizer que te amo além, doce Piracicaba.

01.02.2021

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Crepúsculo

Feliz quando contemplo à meia-luz do Ocaso
O Rio a deslizar em explosões vermelhas.
O Sol, como um Tritão vencido pelo acaso
Vai debruando na tarde aos milhões, as centelhas.

Oh, Rio de uma vida, ao certo tu espelhas
Esse fogo de luz onde o sonho extravaso,
Ou lembras tu, meu Rio, as cantigas mais velhas
Que clarearam-me a infância em assombroso caso…

Que o crepúsculo ao fogo em profusão se nutra,
Pois cuido ver Pacheco, Hugo e Adâmoli à toa,
Extasiados olhando o Rio junto a um Dutra.

E tudo se mistura em murmúrios de prece,
Erotides na flauta executa uma Noa,
No silêncio sem fim finda a tarde… Anoitece.

01.02.2021

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Este Rio

Quando vejo o esplendor deste sublime Rio
– Veia aorta do céu a correr livremente! –
No coração eu sinto um supremo arrepio
Como se água a correr, me fosse o sangue ardente

A correr em meu corpo em suave alvedrio,
Numa paixão de ferro em brasa incandescente.
Pois Ele é minha vida, é meu torrão bravio,
É a alma do índio Tupi nessa dança fremente.

Vives dentro de mim! Corres em minhas veias,
Penetras em minh’alma, o espírito endoidece,
És tu, meu velho Rio, adarvado de ameias,

A correr, a correr num sonho doido, insano,
A galopar em fúria e rezas uma prece
Quando beijas o chão caipiracicabano!

02.02.2021

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matinal

Amanhece. A festiva aleluia do dia
Pinta a manhã que nasce em mil cores festivas.
As aves em bemóis, em doce sinfonia,
Deixam essa visão de mil cores cativas.

A paisagem se mostra – é uma fotografia
Cheia de meios-tons, cheia de cores vivas.
O espetáculo assim eu transformo em poesia
E as rimas surgem como as forças radioativas.

O sol mostra seu disco – é uma hóstia sacrossanta
E a natureza em febre em harmonias canta
E comunga o visão de tão linda miragem.

E o transeunte nem pensa e sequer imagina
Esta linda visão da Noiva da Colina
E ele anônimo segue a sua errante viagem…

03.02.2021

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Silêncio vesperal

No silêncio da tarde o calor sufocante
Deste verão que queima, arde, sufoca, vibra…
Um sol de fogo brilha e no céu se equilibra,
E tudo em derredor é brasa, é luz vibrante.

Sob este fogo ardente o corpo sente a fibra
Da morna lassidão que chega ebricitante.
Dormência, mansa calma, agudez… nesse instante
Uma ave doce e inquieta entre a paisagem libra.

Eu contemplo isso tudo… a mansidão da tarde,
Que enche de meios-tons o imenso céu aberto,
Enquanto, entre bemóis, as aves, em alarde,

Tecem em doce calma a calma melodia…
O Rio além se perde e meu olhar incerto
Contempla a ode feliz desse final de dia.

15.02.2021

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Noite a Beira Rio

Essa lua no céu a refletir no rio
Traz uma acinzentada e bela claridade.
Esses raios de luz me causam calafrio
– É coberta de névoa a cobrir a cidade! –

Transeuntes vão aqui e ali – há vozerio
De sorrisos na noite em morna suavidade.
De repente o silêncio, um enorme vazio,
Parece o céu entoar rapsódias de saudade…

E vou pinçando, lerdo, os passos na calçada,
E o rio rola manso em muda madrugada
E as águas em tropel despencam pelo Salto.

Deus respira feliz, em calma doce e imensa!
Abro os braços ao céu e imerso em terna crença,
Meu coração em fogo arremesso para o alto!

18.02.2021

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