Um basta ao racismo

José Osmir Bertazzoni

 

Volto a escrever que o racismo, dos muitos aspectos sombrios da alma humana, é a sombra que não tem representação alguma. Como afirmar que o racismo é humano quando, na verdade, a humanidade é outra coisa que egoísmo, insensibilidade e falta de empatia? Ela é muito mais que as sobras.

Devemos nos atentar para a definição da alma humana: “A alma humana é aquilo que no homem é capaz de atingir o conhecimento, a contemplação do ser em si e tende para a purificação da alma, pela prática da virtude”. É, portanto, desprovida de qualquer conotação negativa.

Alma é sempre pura e sempre bela, conquanto seja a desumanidade, em vários níveis, que caracteriza principalmente quem é indiferente ao sofrimento alheio, quem discrimina e não acolhe, quem abandona quem está em dificuldade e pede ajuda. Especialmente se ele pedir ajuda no meio das águas do rio, das ondas do mar ou por trás do arame farpado ou das paredes das fronteiras que não se abrem! Racismo, ou xenofobia se preferir, é uma espécie de subespécie de desumanidade.

Quando alguém se refere ao conceito de raça diante a humanidade, tenho que sejapor pura arbitrariedade; em minha visão, prefiro manter meu entendimento como etnia, jamais como raça.

Usa-se raça em uma distinção adequada para nossos amigos animais. É evidente que um cavalo árabe não é o mesmo que um cavalo Manga Larga, que por sua vez é diferente de uma zebra, apesar de serem da mesma espécie. O mesmo entre um cágado e uma tartaruga.

Vejo como uma falta de sensatez a classificação dos homens.Por outro lado, é absurdo e megalomaníaco teorizar e também colocar em prática o conceito de raça e de raça superior, ou raça ariana, ou em todo caso branca, almejando supostamente classificá-la como superior.

Devemos nos erguer e recordar, buscando a história, para lembrarmos do movimento supremacista branco: das deportações em massa de judeus, ciganos, homossexuais, deficientes e doentes mentais na Segunda Guerra Mundial, indo muito além de língua, religião, costumes e tradições que são morfologicamente diferentes.

Nossa riqueza é exatamente as diferenças provocadas pelas gerações por meio da cultura e da formação das pessoas de acordo com a área geográfica em que os grupos humanos vivem: a cor da pele, a estrutura física e as características faciais, diferenças de aparência. E, claro, há variações fenotípicas dentro de um mesmo grupo étnico, como acontece entre os brancos e, portanto, em toda a nossa espécie humana.

Nós não somos cópia ou mera reprodução: cada um de nós tem aparência e caráter únicos, seu próprio fenótipo, que é a combinação entre genes herdados e o meio ambiente. E isso seria uma razão válida para acreditar que a chamada raça branca é superior às demais, principalmente a negra? Será que é preciso tão pouco para acreditar que temos o direito de discriminar alguém? Lembremos que somos todos erigidos da mesma espécie. Todos Homo Sapiens, nunca nos esqueçamos dessa sintonia científica!

Um fato muitas vezes inconsciente é uma espécie de atração estética, isto é: à primeira vista, sentir mais atração por um exterior bonito do que por um menos bonito, obviamente de acordo com padrões estéticos e o próprio jeito de ver a beleza. Isso já é mais aceitável que o racismo. Todos somos atraídos pela beleza, todos temos um sentido estético mais ou menos desenvolvido, mesmo que nada possa justificar a discriminação baseada na estética das pessoas.

O racismo é fraqueza espiritual, alma nebulosa.Por outro lado, é ter medo da sua própria fraqueza, da sua cultura, de seu modo de viver e de pensar. Lógico que é medo! É medo de suas próprias insanidades: principalmente a insegurança! Quando esse medo irracional é amplificado pela mídia dia após dia, a xenofobia se torna um sentimento sujo, ilógico, comum e deletério.

Assim devemos entender: é o racismo que envolve toda uma série de derivações que caracterizam uma humanidade doente e fechada em seu pensamento estreito. Quiçá um sentimento desviado que assume a forma de uma subespécie de desumanidade nada humana. Estou certo de que não há justificativa para esse sentimento equivocado.

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José Osmir Bertazzoni,  advogado, jornalista

 

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