De olhos e ouvidos atentos  às sessões da Câmara

Sergio Oliveira Moraes

Encerramos o último artigo agradecendo aos que se manifestaram com tal desproporcionalidade ao adiamento da votação do Projeto de Resolução (P.R.) 08/22, que nos chamou a atenção. No que respeita a nós, membros da comunidade, trata-se basicamente de punições para “…o cidadão que cometer no recinto interno ou externo da Câmara, o qual compreende a frente, as laterais, o calçamento ao entorno do prédio principal e do prédio anexo, e o estacionamento, excesso, ameaça ou ofensa contra os Vereadores ou Servidores, devidamente comprovado, será reprimido, devendo a Mesa Diretora…”. Esse pequeno trecho, que não dispensa a leitura atenta, é suficiente para o que queremos expor (e está disponível no endereço eletrônico da Câmara).

Na 29ª. Reunião Ordinária (30/06/22), como afirmamos por aqui, dois excessos, para dizer um mínimo, foram cometidos por alguns vereadores nos chamaram a atenção. Em um, uma vereadora da Mesa manifestou sua indignação por caretas que um vereador dirigia a ela (!) – e acertadamente cobrou coerência, afinal, como querer punir o cidadão que comete excesso e, no “teste a sós” (vereadores e vereadoras ficam de costas para o público) não mostrar a “virtude”? Nosso apoio à vereadora e nosso coro a sua indignação.

O outro episódio ocorreu após a votação do Projeto de Decreto Legislativo (P.D.L.) 15/22 e respectivas emendas – antes da votação do P.D.L. 08/22 (Medalha de Mérito Estudantil Olavo de Carvalho). Derrotadas as emendas que estendiam a “Medalha de Mérito Estudantil Luiz de Queiroz” aos estudantes com destaque no Exame Nacional de Ensino Médio, ficando a premiação para graduandos e pós-graduandos (!), alguns vereadores dirigiram-se a uma sala ao lado. Conversas em voz alta e risadas chegavam a nós, público – o que, coerentemente, levou a vereadora que ocupava a Tribuna a reclamar e solicitar a contagem dos presentes, o que trouxe de volta os que se divertiam (as risadas não seriam de tristeza) na sala ao lado.

O esvaziamento do plenário quando algumas vereadoras ocupam a Tribuna também não nos passa despercebido. Não é desta reunião específica, mas (e de novo) é justamente quando se mostrou indignação por não votar o P.R. 08/22 que a incoerência se manifestou no excesso dos que se ausentam, conversam alto, riem alto… Não passaram no “teste a sós”, não mostraram “virtude”.

Agora ponham-se no lugar do, da contribuinte. Com o nosso dinheiro, no horário do expediente, fazendo careta para uma, ausentando-se na fala de outra, isso é o quê? Excesso, ameaça ou ofensa? (para empregar os termos do P.R. 08/22). Como reagimos? Os senhores passam a impressão de não quererem ouvir o contraditório. Quando é a colega na Tribuna ausentam-se. Quando é o cidadão, o punem?

Em tempo: pesquisa publicada na JAMA Pediatrics (11/07/2022), disponível “online”, aponta que a avaliação de 29 estudos no exterior, com 139 000 pessoas, informa que pessoas que visualizam conteúdo relacionado ao tabaco nas redes sociais tem o dobro de probabilidade de consumo em relação às que não visualizam. Se a homenagem a um defensor do vício tivesse ocorrido, teria sido um “excesso, ameaça ou ofensa” sem precedentes, perpetrada contra a comunidade. Também espero que tenhamos aprendido que a foto sorrindo chama a atenção, mas é no “teste a sós” que nos revelamos.

Seguimos de olho!

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Sergio Oliveira Moraes, físico e professor aposentado da Esalq/USP

 

 

 

 

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