FOP – Pesquisa investiga barreiras para diagnóstico de câncer bucal

Pesquisa é onduzida por Beatriz Nascimento Figueiredo Lebre Martins

César Maia

Da Assessoria da FOP

 

Há uma demanda de treinamento clínico para cirurgiões dentistas brasileiros aprimorarem habilidades de comunicação com pacientes, especialmente no caso de diagnóstico de câncer de cavidade oral e orofaringe. Esse foi um dos principais achados da pesquisa de mestrado conduzida por Beatriz Nascimento Figueiredo Lebre Martins, do Programa de Pós-graduação em Estomatopatologia, da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Unicamp (FOP). Orientada pelo professor do Departamento de Diagnóstico Oral, Alan Roger dos Santos Silva, um dos objetivos do estudo foi investigar as principais barreiras que os dentistas encontram para comunicar o diagnóstico de câncer para os pacientes.

De acordo com Martins, os dentistas têm dificuldades para lidar com as reações emocionais dos pacientes. Este dado pode colaborar na criação de programas de treinamento de estratégias de comunicação para esses profissionais. Investir no aprimoramento dessas habilidades pode beneficiar tanto os pacientes no enfrentamento da doença, como a saúde mental dos profissionais. Já existem ferramentas validadas no âmbito internacional que guiam a comunicação de notícias para pacientes com câncer. Uma delas é o Protocolo SPIKES, criado em 2000 por médicos norte-americanos. “A forma como o profissional informa o paciente tem um impacto direto em sua qualidade de vida, diminuindo os níveis de sofrimento emocional e melhorando a adesão ao tratamento. O impacto positivo também se estende aos profissionais, com diminuição no nível de estresse e, por consequência, preservando sua saúde mental”, destaca Martins.

Participaram do estudo, profissionais que tinham comunicado o diagnóstico do câncer de cavidade oral e/ou orofaringe pelo menos uma vez em sua prática clínica. A pesquisa foi realizada por meio de um questionário eletrônico construído na plataforma digital SurveyMonkey e estruturado com base nos domínios do protocolo SPIKES. No total, 186 cirurgiões-dentistas responderam ao questionário. As especialidades mais frequentes dos profissionais entrevistados foram a Estomatologia (36,02%), a Patologia Oral (21,5%) e a Cirurgia Bucomaxilofacial (9.13%), entre outras. Foi observado que 94,62% dos dentistas acreditam ser positivo ter um protocolo que oriente sobre como entregar más notícias em sua prática clínica. Ainda, 44,6% não se sentiram muito confiantes ou nenhum pouco confiantes para lidar com as reações emocionais dos pacientes durante a entrega do diagnóstico de câncer.

O câncer de cabeça e pescoço representa um grupo de tumores que inclui a cavidade oral, orofaringe, hipofaringe, laringe, nasofaringe e as glândulas salivares, entre outras regiões. O câncer de cavidade oral é um dos mais comuns desta região. O subtipo clínico patológico mais frequente é o carcinoma espinocelular (CEC), que está associado a aproximadamente 90% de todos os tumores malignos em boca. O tumor em cavidade oral ocupa a quinta posição entre os cânceres mais prevalentes em homens no Brasil. Entre 2020 e 2022, ocorreram aproximadamente 15.190 novos casos a cada ano do período em questão. O Brasil é um dos países com maior incidência da doença no mundo, destaca.

O perfil clássico de pacientes com esse tipo de câncer são homens, acima de 50 anos de idade, expostos ao tabagismo e etilismo por longa duração e intensidade. Além disso, a exposição solar crônica é fator de risco para os tumores malignos de lábio. Atualmente, a infecção pelo papilomavírus humano (HPV), foi associada aos tumores de orofaringe. Beatriz alerta para a mudança de perfil das pessoas acometidas pela doença. Hoje, a literatura mostra um número crescente desses tumores em jovens adultos. Existem 3 grupos definidos: pessoas de aproximadamente de 40 anos que iniciaram com o tabagismo e etilismo muito cedo; aproximadamente 45 anos não tabagistas, HPV positivos; com aproximadamente 40 anos, do sexo feminino que nunca foram tabagistas e etilistas e HPV negativos e que desenvolvem a doença, ainda sem um fator de risco bem definido.

“É importante ressaltar que o diagnóstico precoce desses tumores reduz mortalidade e alterações funcionais e estéticas, que decorrem da doença e do tratamento oncológico. Infelizmente a maioria desses tumores são diagnosticados em estágios avançados da doença. Nesse contexto, a taxa de sobrevida do CEC de cavidade oral é de aproximadamente 50% em 5 anos”, explica Beatriz.

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