Projeto Legislativo – Cále-se (PL 08/06/2022)

 

José Osmir Bertazzoni

 

O Projeto Cále-se é apresentado na calada da noite do dia 30 de junho, para ser aprovado antes do recesso pela Câmara de Vereadores de Piracicaba. Deixo de escrever meu artigo deste sábado em protesto ao Projeto Legislativo 08 de junho de 2022. Porém, deixo o recado de Chico Buarque de Holanda a essa afronta à democracia e seus algozes:

“Pai, afasta de mim esse cálice

Pai, afasta de mim esse cálice

Pai, afasta de mim esse cálice

De vinho tinto de sangue

Pai, afasta de mim esse cálice, pai

Afasta de mim esse cálice, pai

Afasta de mim esse cálice

De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga

Tragar a dor, engolir a labuta

Mesmo calada a boca, resta o peito

Silêncio na cidade não se escuta

De que me vale ser filho da santa

Melhor seria ser filho da outra

Outra realidade menos morta

Tanta mentira, tanta força bruta

Pai (pai)

Afasta de mim esse cálice (pai)

Afasta de mim esse cálice (pai)

Afasta de mim esse cálice

De vinho tinto de sangue

Como é difícil acordar calado

Se na calada da noite eu me dano

Quero lançar um grito desumano

Que é uma maneira de ser escutado

Esse silêncio todo me atordoa

Atordoado eu permaneço atento

Na arquibancada pra qualquer momento

Ver emergir o monstro da lagoa

Pai (pai)

Afasta de mim esse cálice (pai)

Afasta de mim esse cálice (pai)

Afasta de mim esse cálice

De vinho tinto de sangue

De muito gorda a porca já não anda (cálice)

De muito usada a faca já não corta

Como é difícil, pai (pai), abrir a porta (cálice)

Essa palavra presa na garganta

Esse pileque homérico no mundo

De que adianta ter boa vontade

Mesmo calado o peito, resta a cuca

Dos bêbados do centro da cidade

Pai (pai)

Afasta de mim esse cálice (pai)

Afasta de mim esse cálice (pai)

Afasta de mim esse cálice

De vinho tinto de sangue

Talvez o mundo não seja pequeno (cálice)

Nem seja a vida um fato consumado (cálice, cálice)

Quero inventar o meu próprio pecado

(Cálice, cálice, cálice)

Quero morrer do meu próprio veneno

(Pai, cálice, cálice, cálice)

Quero perder de vez tua cabeça (cálice)

Minha cabeça perder teu juízo (cálice)

Quero cheirar fumaça de óleo diesel (cálice)

Me embriagar até que alguém me esqueça (cálice)”

________

Artista: Chico Buarque e Milton Nascimento de 1978

Reprodução: José Osmir Bertazzoni, advogado, jornalista

 

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima